Se ganhar o "não" no referendo, e perante a crise bancária, a Grécia terá de certeza que fazer uma destas 3 coisas:
- Sair do euro (ou, no mínimo, lançar uma moeda paralela ao euro)
- Decretar que todos os depósitos bancários acima de certo limite são convertidos em ações dos bancos respetivos
- Decretar que todos os depósitos bancários acima de certo limite são convertidos nalguma forma de aplicação financeira a prazo não mobilizável antes do fim do prazo (o mais natural seriam obrigações dos bancos, mas também pode ser algo do estilo das "contas de investimento" propostas na Islândia)
O objetivo da segunda ou da terceira medida é resolver o problema de como, sem acesso a um banco central que possa emprestar dinheiro em caso de pânico, manter um sistema financeiro em que o valor dos depósitos é muito superior ao dinheiro que os bancos têm em caixa.
[Tanto a segunda como sobretudo a terceira poderiam estar submetidas a uma cláusula estipulando que, caso o BCE volte a mandar dinheiro, esses títulos podem ser reconvertidos em depósitos]
Eu por mim preferia a terceira solução. Mas seria conveniente que o valor a ser convertido já tivesse sido congelado nos bancos e que o governo anunciasse previamente que, se ganhar o "não", era esse o "plano B" caso a troika não cedesse. É verdade que isso iria reduzir bastante a possibilidade de o "não" ganhar (muita gente saber que, nesse caso, o dinheiro que tinham no banco iria ser convertido em obrigações que só iriam vencer daqui a uns anos), mas por outro lado acho que iria dar mais força negocial ao governo grego saber-se que já havia um plano para manter o sistema bancário a funcionar sem sair do euro mesmo sem apoios do BCE (e, no caso de vitória do "não", esse plano ter sido implicitamente sufragado pelo povo grego), em vez da conversa completamente confusa "vai tudo correr bem" do Tsipras e do Varoufaki.
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Saturday, July 04, 2015
O que em breve o governo grego terá que fazer
Publicada por Miguel Madeira em 21:32