Saturday, December 21, 2019

A "economia do lado da oferta" como "noble lie"

Ainda a respeito disto, duas (bem, uma e meia) teorias minhas sobre a "economia do lado da oferta": -

- suspeito que a economia do lado da oferta na prática não foi mais do que uma maneira de fazer keynesianismo disfarçado (como já escrevi aqui)

- também me ocorre que pode ter havido uma cadeia de "noble lies" (e recorde-se que a economia do lado da oferta foi inicialmente divulgada nas revistas dirigidas pelo neoconservador Irving Kristol, que era também um discipulo de Leo Strauss) nisso tudo, com políticos a apresentarem aos eleitores a economia do lado da oferta mas eles próprios a acreditarem no starve the beast, e por detrás deles intelectuais a apresentarem aos políticos a economia do lado da oferta ou a starve the beast mas eles próprios a acreditarem no keynesianismo (pensando algo como "o keynesianismo até pode estar largamente correto, mas isso deve ficar entre nós, os intelectuais que buscam o conhecimento pelo conhecimento; para os homens e mulheres comuns, que sucumbem facilmente aos baixos prazeres, a ideia que os orçamentos devem estar equilibrados - mesmo que não esteja totalmente certa - é útil como forma de lhes incutir auto-disciplina; sem isso, vão votar por cada vez mais despesas e mesmo na sua vida privada vão se comportar como se não fosse necessário sacrificar o curto-prazo ao longo-prazo e mergulhar numa vida de drogas, sexo casual e jogo. Assim, na nossa condição de sábios por detrás do trono, deveremos aconselhar os governantes a porem em prática políticas keynesianas quando tal for necessário, mas sem nunca deixarmos ninguém perceber que é isso que estamos a fazer").

Uma coisa parece ser verdade - Kristol não levava muito a sério a teoria de que os cortes de impostos se pagavam a si mesmos, ao contrário do que é normalmente associado à teoria do lado da oferta; a posição dele parecia mais de achar que, mesmo que desse origem a deficits, não haveria grande problema desde que criassem crescimento económico (claro que essa posição é tão compatível com o keynesianismo como com uma versão moderada da economia do lado da oferta)

No comments: