Thursday, January 05, 2006

A Palestina, o "Palestinian Media Watch", etc.

Em primeiro lugar, tenho que reconhecer que o Rui Oliveira tem, em larga medida, razão quando diz que o actual caos na faixa de Gaza é culpa dos lideres palestinianos: os actuais distúrbios são culpa da Autoridade Palestiniana, que tenta impedir as "Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa" de concorrer às eleições.

Mas o que é o Palestinian Media Watch, organização que "que transcreve o que é emitido e publicado na Palestina em árabe"? Pelos vistos, é um grupo, dirigido por um "colono", que se dedica a divulgar toda a propaganda anti-semita da autoria de palestinianos* (e não só de palestinianos, como se verá adiante). Essa táctica, aliás, é bastante usada pela "linha dura" israelita: o caso mais conhecido é o MEMRI, cuja actividade Juan Cole descreve como "cherry-picks the vast Arabic press, which serves 300 million people, for the most extreme and objectionable articles and editorials. It carefully does not translate the moderate articles. I have looked at newspapers that ran both tolerant and extremist opinion pieces on the same day, and checked MEMRI, to find that only the extremist one showed up. It would sort of be as though al-Jazeera published translations of Ann Coulter, Bill O'Reilly, Sean Hannity, Rush Limbaugh, and Jerry Falwell on Islam and the Middle East, but never published opinion pieces on the subject by William Beeman or Dick Bulliet".

Voltando ao Palestinian Media Watch, esta organização (ou melhor, o seu clone CIMP, dirigido pelas mesmas pessoas) é a responsável pelas histórias (alegadamente falsas) acerca da "propaganda anti-israelita" contida nos livros escolares palestinianos, dando, como exemplo... os livros escolares jordanos e egipcios que durante décadas foram usados nas escolas palestinianas (ou seja, antes da Autoridade Palestiniana ter impresso os seus próprios livros). Quanto aos livros actualmente usados, há vários relatórios que indicam que o essencial do "apelo ao ódio" desapareceu, e que os tão falados "mapas que não mostram Israel" são mapas topográficos (evitando esses livros desenharem mapas politicos, em parte para resolverem o problema das fronteiras ainda não estarem estabelecidas)

Assim, se as histórias acerca dos livros escolares palestinianos forem falsas, isso afectará muito a PMW como um "fonte credível". Já agora, refira-se que eu nunca li um livro escolar palestiniano, logo não faço ideia de quem está a dizer verdade.

P.S. e também não percebo árabe, portanto, mesmo que lesse...

*Adenda: claro que não há nenhum mal em chamar a atenção para proclamação radicais da parte de palestinianos, mas já há apresentá-las como se fosse a única coisa que os palestinianos dizam (afinal, o nome do grupo é "Palestinian Media Watch", não "Extremist Palestinian Media Watch") - é mais ou menos como se alguém criasse um "Israeli Media Watch", dedicado a apenas divulgar os casos em que a "margem ocidental" passa a "Judeia-Samaria", em que "Palestina" é escrita mesmo assim (com aspas), em que o massacre de Deir Yassin nunca existiu, etc

1 comment:

sabine said...

Obrigado por este post: aprendi algo, pude ver "o outro lado" de um assunto demasiado complicado para ter um só lado.
Entretanto, gostava de ouvir a sua opinião acerca disto:
http://geracao-rasca.blogspot.com/2006/01/che-o-fim-de-um-mito.html