Friday, March 17, 2006

A "Escola Livre" e a "Escola Democrática"

O João Miranda tem um novo esquema comparativo - as diferenças entre a "Escola Livre" e a "Escola Democrática" (imagino que sejam, respectivamente, pseudónimos para "escola privada" e "escola estatal tal como existe").

Este esquema cai no lugar-comum clássico de criticar a "escola pública" por "os programas, os métodos de ensino [serem] definidos pelo Ministério da Educação na capital", que " as preferências das minorias não estão representadas no sistema de ensino", etc.

Não sei como a escola funciona hoje em dia, mas a experiência que eu tive, tanto os 12 anos como aluno (e mais 4 que não contam, porque penso que o JM está a falar do ensino pré-universitário), como o ter sido professor em part-time durante 3 anos, e mais a minha mãe ter sido professora primária dão-me a ideia que essa conversa do "centralismo do Ministério da Educação" é um papão: a mim parece-me que cada escola, e até cada professor, faz o que quer - embora se calhar se algum professor do ensino público me estiver a ler provavelmente não concordará (note-se que, para mim, dizer "que cada escola e cada professor fazem o que querem" é mais um elogio do que uma critica).

É verdade que, no que diz respeito aos curriculos, são definidos centralmente, mas mesmo isso não é 100% assim: em certas disciplinas (como matemática e história), por vezes acontece o programa anual ser tão extenso que cada professor decide qual a matéria que vai dar e qual a matéria que não dá (claro que, em principio, vai deixar de dar a que não é necessária para perceber o que vem a seguir) - no meu caso, essa situação não se punha porque eu era professor no ensino nocturno por unidades capitalizáveis, em que a matéria que se dá em cada unidade está bem definida.

Mas, quanto aos métodos de ensino, parece-me que cada professor ensina a matéria como bem entende - às vezes havia situações em que mudavamos de professor a meio do ano e era uma diferença do dia para a noite.

Ah, e a respeito do "lag do feedback", as "reuniões de grupo" para escolher os livros que a escola vai adoptar são (ou eram) anuais, não de 4 em 4 anos.

Aliás, é verdade que os intelectuais liberais até me parecem defender a autonomia das escolas públicas face ao governo (pelo menos como um "mal menor" enquanto não as privatizam), mas, quando passamos do campo "pré-politico" (dos pensadores) para o "politico" propriamante dito a coisa é diferente: os maiores defensores do ensino privado custumam ser também os maiores defensores do controle governamental sobre o que permancer público - o PP foi o maior defensor do "livro único", é a direita que é a favor de "directores executivos" nomeados e contra a "gestão democrática das escolas"; nos EUA não é raro serem os Republicanos a defenderem uma maior envolvimento federal no sentido de definir "padrões de exigência" para as escolas públicas, etc.

Creio que maior problema do ensino público será, não de "centralismo", mas de "feudalismo" (i.e., "oligarquia descentralizada"): não de o poder estar concentrado nos míticos "burocratas do ME", mas de, em cada comunidade escolar (i.e., o conjunto de professores, alunos, encarregados de educação, etc. de cada escola) o poder talvez estar demasiado concentrado nos professores e não na comunidade no seu todo

1 comment:

Anonymous said...

concordo,

os burocratas do ME não lidam diariamente com os alunos, pais, e os seus problemas e questões.

são os professores que estão na frente de "batalha, e deve haver um maior intercambio entre todas as partes.

por outro lado, o governo não deve meter o nariz nestas questões.

na frança fez-se uma experiencia de levar os pais às escolas, fizeram-se muitas e boas iniciativas, no entanto o governo decidiu acabar com tudo isso.
falavam em "promiscuidade", ou coisa do genero...