Friday, March 09, 2007

Quem foi e quem não foi "fascista"

Face à questão se Salazar foi ou não fascista (e a questões associadas, como se Franco foi ou não fascista), para mim os ditadores fascistas da Europa foram:

Benito Mussolini
Adolf Hitler
Horia Sima* (Roménia, 1940)
Ante Pavelic (Croácia, 1940-44)
Ferenc Szálazi (Hungria, 1944-45)

Quanto aos motivos porque não considero Salazar fascista, já os expus há uns meses atrás.

E, pegando nos exemplos hungaro e romeno, Salazar (e Franco) teria muito mais a ver com o almirante Horthy (que foi para o Estoril após a II guerra Mundial) ou com o general Antonescu do que com os Setas Cruzadas de Szalazi ou a Guarda de Ferro de Sima e Corneliu Codreanu (e, se fossem alemães, imagino mais facilmente Salazar e Franco no "Partido Nacional Popular" do que Partido Nazi). Claro que podemos considerar que toda essa gente era "fascista", mas os confrontos entre essas facções (Szalazi derrubou Horthy, Antonescu expulsou a Guarda de Ferro do governo, etc.) parecem demonstrar que são coisas diferentes (por outro lado, as alianças que frequentemente estabeleceram também parecem demonstrar que são coisas parecidas).

*Sima foi só um semi-ditador, já que partilhava o poder com o general Antonescu, mas pronto...

10 comments:

Miguel Noronha said...

Não será errado englobar Hitler entre os fascistas? Julgo que o nacional-socialismo vai bastante além do fascimo.

E Perón?

Miguel Noronha said...

Quanto à última questão, não tinha reparado que esta lista era apenas europeia.

Miguel Madeira said...

"Não será errado englobar Hitler entre os fascistas? Julgo que o nacional-socialismo vai bastante além do fascimo."

Talvez (e o mesmo se poderia dizer dos hungaros e romenos); mas, por outro lado, as caracteristicas que distinguem o fascismo dos regimes autoritários "clássicos" até então (o "movimentismo"; a mobilização de massas, etc.) também estão presentes no nacional-socialismo (embora a inversa não seja verdadeira).

Miguel Noronha said...

Certamente. Existem elementos comuns.

No entanto no n-s alemão destrui-se o antigo estado para construir uma "nova ordem". No fascismo italiano verificou-se a conquista do estado por um partido. Mesmo assim o poder de Mussolino nunca foi tão absoluto como o de Hitler.

Julgo que não é necessário relembrar o episódio da sua destituição.

Miguel Noronha said...

Escapando agora ao focus europeu do post.

O que acha quanto ao peronismo?

Miguel Madeira said...

«No entanto no n-s alemão destrui-se o antigo estado para construir uma "nova ordem"»

Não sei se terá sido assim - a ideia que eu tenho é que o partido criou uma espécie de "estado paralelo", mas que o antigo estado continuo a existir sem grandes mexidas (p.ex., penso que a antiga hierarquia militar da Wermacht não foi tocada;passou foi a ter ao lado as SS); creio que isso até foi a razão da ruptura com as SA (que queriam mesmo correr com os quadros do regime anterior) e da "Noite das Facas Longas.

Miguel Madeira said...

A respeito do Péron (e poderia-se também discutir o Getúlio Vargas, o Omar Torrijos, Nasser, o ba'athismo, etc.) - também é parecido (até ouvi dizer que o Péron tinha duas fotografias na secretária - Vargas e Mussolini).

No entanto, seria mais parecido com o Mussolini dos primeiros anos, já que a ditadura nunca foi oficializada (legalmente, a Argentina de Péron - tal como os primeiros anos de Mussolini - era uma democria pluralista normal).

Acho que também não tinha milicias paramilitares organizadas (pelo menos, enquanto esteve no poder).

Também há a diferença de base de apoio, mas não sei se será relevante - em termos ideológicos, talvez não seja: o facto de diferentes grupos sociais apoiarem Mussolini e Péron não quer dizer que as suas ideias fossem diferentes, apenas que a Itália e a Argentina eram sociedades diferentes (se calhar Mussolini gostaria de ter tido tanto apoio dos operários como Péron teve, e Péron gostaria de ter tido tanto apoio da classe média como Mussolini teve). Mas, já em termos de natureza do regime, uma diferente base de apoio leva sempre a uma prática diferente (mesmo que a teoria de base seja a mesma).

Miguel Noronha said...

"Não sei se terá sido assim..."

É possível, mas não será que o a manutenção de instituições da "antigo ordem" (chamemos-lhe assim) foram uma questão táctica? Numa primeira fase para garantir a manutenção do poder e numa segunda para não comprometer o esforço de guerra.
Será que discordava dos objectivos das SA ou apenas que estes estariam a ir depressa demais?
Para além disso, Ernst Rohm poderia ser tentado a disputar a liderança do movimento.

Miguel Noronha said...

Quanto a Peron, concordo genricamente.

Miguel Madeira said...

«É possível, mas não será que o a manutenção de instituições da "antigo ordem" (chamemos-lhe assim) foram uma questão táctica? Numa primeira fase para garantir a manutenção do poder e numa segunda para não comprometer o esforço de guerra.»

Talvez. Mas, mesmo que a intenção fosse essa (manter o establishment anterior por uns tempos e correr com eles depois), como os regimes tendem a perder o fulgor revolucionário com o tempo, poderemos supor que, se não "saneou" (pelo menos em larga escala) os quadros da "velha ordem" entre 33 e 45, era pouco provável que o viesse a fazer mais tarde (mesmo, repito, se a ideia original fosse essa) - até porque, ao fim de alguns anos de poder, já nem é fácil distinguir os quadros da "velha ordem" dos da "nova ordem".