Thursday, December 06, 2007

É possivel defender o direito a fazer algo que se é contra?

Claro.

Por exemplo, eu tenho uma profunda aversão a piercings faciais mas sou completamente a favor do direito a faze-los.

Mas vamos dividir isto em sub-hipoteses:

É possivel não gostar de piercings mas ser a favor do direito de os fazer?

Claro. É perfeitamente lógica a atitude de "quem gosta faz, quem não gosta não faz"

É possivel achar os piercings uma parvoíce mas ser a favor do direito de os fazer?

Claro; há uma importante diferença entre esta situação e a anterior (aqui, trata-se de um juizo intelectual, não estético, e estou a considerar a minha opção melhor que a dos outros) mas o resultado é o mesmo - eu posso perfeitamente achar que os outros têm todo o direito de fazer parvoices (como usar piercings).

É possivel achar os piercings imorais mas ser a favor do direito de os fazer?

Sim, já que é um facto que há montes de pessoas que defendem o direito a fazer coisas que reprovam moralmente (ocorre-me muitas situações em que defendo isso). No entanto, já não me parece uma atitude tão lógica (é por isso que a resposta não é "claro") - das duas uma: ou consideramos que usar piercings apenas diz respeito ao individuo que os usa, e aí, não vejo muito bem como é possivel fazer juizos normativos acerca do seu uso; ou consideramos que o uso de piercings diz respeito, não apenas a quem os usa, mas também à "sociedade", ou à familia, ou à escola, ou a Deus, ou lá o que fôr, e os argumentos a favor do direito de cada um livremente usar ou não piercings ficam muito enfraquecidos (continuam a existir, mas muito mais fracos).

[Como é óbvio, o "uso de piercings" pode ser substituido por qualquer outro comportamento para o raciocinio que expus]

8 comments:

Anonymous said...

Sem quaisquer segundas intenções, gostava de pedir-te que me desses um exemplo de algo que aches (achemos) imoral mas que defendas (defendamos) o direito a ser feita.

É que não estou a ver nada. Se calhar estou a ter vistas curtas ou ser simplista mas não me ocorre nada ...

NC said...

´«ou consideramos que o uso de piercings diz respeito, não apenas a quem os usa, mas também à "sociedade"»

Está a querer dar exemplo de uma exetrnalidade?

Se sim, então , na minha opinião, ela só é relevante se afectar a liberdade de outrem. E aí é que são elas... Um graffiti numa cerca afecta o meu bem-estar? Se calhar. E a minha liberdade? Não. Cruzar-me com alguém que usa piercing afecta o meu bem estar ou liberdade?

jpt said...

Interessante post, particularmente a questão dos piercings. Atrevo-me a convidá-lo a visitar um velhissimo post meu que levanta questões algo semelhantes. Este, onde eu partia de uma posição de princípio["odeio todos os piercings que não sejam brincos. Abomino ainda mais os seus portadores. Preconceito meu? Sim, mas não maior do que o dos imbecis que escarafuncham o corpo apenas pelo preconceito de fazer como outros o fazem"] para tentar discernir sobre os limites do piercing (indutivamente, claro)

Unknown said...

"...Como é óbvio, o "uso de piercings" pode ser substituido por qualquer outro comportamento para o raciocinio que expus..."
COMO????
Então por essa ordem de idéias deixemo-nos ficar impávidos e serenos quando por exemplo algum idiota (como os da Polónia) tente aprovar a reposição da "pena de morte", que por um lado sou contra, mas por outro obrigo-me a defender o direito à existência da mesma...

Unknown said...

no comentário anterior, James Stuart... do Szerinting

Miguel Madeira said...

"algo que aches (achemos) imoral mas que defendas (defendamos) o direito a ser feita"

eu tinha pensado no "racismo teórico" (alguém dizer "o grupo étnico X é uma raça degenerada") - tenho uma opoição moral a essas teses, mas acho que têm o direito a ser expostas (ao contrário do "racismo aplicado").

Mas talvez não seja um bom exemplo, já que a minha objecção moral não é tanto ao acto (dizer que a raça X é degenerada) mas às convicções que conduzem ao acto.

Miguel Madeira said...

James, a minha questão é se é possivel dfender o direito a fazer algo que se não goste, não se é obrigatório defender o direito a fazer algo que se não goste.

Tárique said...

Bem visto, Miguel. Tenho em que pensar.