Friday, June 13, 2008

O mito do "conservadorismo judaico norte-americano"

Tiago Barbosa Ribeiro escreve "[a] ideia de que (...) os judeus são particularmente conservadores e próximos dos Republicanos nos EUA, é politicamente errada, historicamente fictícia e empiricamente falsa. De onde provém, então, a sua força? Mistério."

Eu imagino quais sejam os raciocínios que levam alguns europeus a alimentarem a fantasia que os judeus norte-americanos são pró-Republicanos.

Um será algo do género:

1 - os ricos tendem a apoiar os Republicanos
2 - a maior parte das principais empresas norte-americanas são propriedade de judeus
3 - logo, os judeus tendem a apoiar os Republicanos

Este raciocínio, mesmo que o ponto 2 fosse factualmente correcto (e não sei se será), tem logo um erro lógico: o que poderia fazer a maior parte dos judeus apoiar os Republicanos não seria "a maior parte das das principais empresas serem propriedade de judeus", mas sim "a maior parte dos judeus serem proprietários das principais empresas"; mesmo que os, digamos, 50 norte-americanos mais ricos fossem maioritariamente judeus (pelos menos os 2 mais ricos - Gates e Buffet - são cristãos), em que medida isso levaria os outros judeus (os que não estão na lista dos 50 mais ricos) a apoiar os Republicanos?

O outro raciocínio será algo como:

1 - os EUA apoiam Israel devido à força do loby pró-israelita
2 - o loby pró-israelita baseia-se na força (demográfica e/ou económica) dos judeus nos EUA
3 - os Republicanos são mais pró-Israel que os Democratas
4 - logo, o loby pro-israelita será mais forte nos Republicanos do que nos Democratas
5 - logo, os judeus terão mais força entre os Republicanos do que entre os Democratas

Quais os erros neste raciocínio? Os pontos 2 e 3.

Acerca do ponto 3 - se calhar, os Republicanos até são (ou eram) menos pró-Israel que os Democratas: eu lembro-me de ler noticias acerca das eleições israelitas de 2001, em que apoiantes de Sharon diziam coisas como "temos que ser duros, porque, com a vitória de Bush, deixamos de ter amigos no mundo"; e provavelmente, a elite Republicana até teria tradicionalmente melhores relações com a Arábia Saudita do que com Israel.

Acerca do ponto 2 - isto pode parecer bizarro, mas hoje em dia a maior defesa de Israel nos EUA até não virá dos judeus mas sim de seitas cristãs fundamentalistas (e por vezes nas margens do anti-semitismo!). A sua doutrina consiste na ideia de que o Apocalipse e o regresso de Jesus Cristo à Terra ocorrerá quando os judeus "regressarem" à "Terra Santa" (e nesse Apocalipse os judeus que não se converterem ao Cristianismo morrerão, ou coisa de género); um exemplo dessa linha é o Pastor John Hagee, que disse que Hitler foi o instrumento de Deus para levar o judeus para Israel. E dentro dos Republicanos a base de massas do apoio a Israel vem principalmente desses "cristãos sionistas" (o loby pró-israelita dentro dos Democratas, esse sim, baseia-se nos judeus).

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