Há várias definições sobre o que é um "burguês", um "proletário", etc.
A minha preferida é a que Erik Olin Wright expõe no seu texto "O que é neo e o que é marxista na análise neo-marxista de classe?" (penso que não está online - nesse texto, ele expões outras definições alternativas). Mais ou menos, é assim:
- burguesia: patrões de médias e grandes empresas
- pequena burguesia: trabalhadores por conta própria, sem ou quase sem empregados
- classe operária: assalariados não-autónomos sem funções de chefia
- lugar contraditório entre a burguesia e a pequena burguesia: patrões de pequenas empresas
- lugar contraditório entre a burguesia e a classe operária: assalariados com funções de chefia
- lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária: assalariados sem funções de chefia mas com alguma autonomia
Imagine-se um hipermercado/centro comercial:
- os funcionários que estão na caixa serão "classe operária"
- os supervisores e gerentes serão "lugar contraditório entre a burguesia e classe operária"
- um técnico de marketing (se não tiver subordinados) será "lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária"
- um senhor que tem a exploração da tabacaria à entrada do centro e trabalha lá sozinho, será "pequena burguesia"
- uma senhora que tem a exploração de uma loja de roupa com 8 empregados será "lugar contraditório entre a burguesia e a pequena burguesia"
- os donos do hipermercado e do centro comercial (e, já agora, também os donos da cadeia do franchising da loja de roupa) serão "burguesia"
Convém notar que, sobretudo nos "lugares contraditórios" haverá indivíduos mais próximos de uma classe ou outra; p.ex, nos "lugares contraditórios entre a burguesia e a classe operária", os gestores são mais "burgueses" e menos "operários" que os supervisores.
[Convém também lembrar que "classe social" não é a mesma coisa que "escalão de rendimento"]
Agora, uma questão. Se aceitarmos este classificação (e não temos que a aceitar), a que grupo social pertencerão a maior partes dos integrantes daquele área politico-sociológica cujos detractores chamam de "esquerda caviar"? Eu tenho a minha opinião (e falo com conhecimento de causa), mas antes gostava de ouvir (i.e., ler) a dos leitores.
Editado a 2019/01/25: "O que é neo e o que é marxista na análise neo-marxista de classe?" está online[pdf]
A minha preferida é a que Erik Olin Wright expõe no seu texto "O que é neo e o que é marxista na análise neo-marxista de classe?" (penso que não está online - nesse texto, ele expões outras definições alternativas). Mais ou menos, é assim:
- burguesia: patrões de médias e grandes empresas
- pequena burguesia: trabalhadores por conta própria, sem ou quase sem empregados
- classe operária: assalariados não-autónomos sem funções de chefia
- lugar contraditório entre a burguesia e a pequena burguesia: patrões de pequenas empresas
- lugar contraditório entre a burguesia e a classe operária: assalariados com funções de chefia
- lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária: assalariados sem funções de chefia mas com alguma autonomia
Imagine-se um hipermercado/centro comercial:
- os funcionários que estão na caixa serão "classe operária"
- os supervisores e gerentes serão "lugar contraditório entre a burguesia e classe operária"
- um técnico de marketing (se não tiver subordinados) será "lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária"
- um senhor que tem a exploração da tabacaria à entrada do centro e trabalha lá sozinho, será "pequena burguesia"
- uma senhora que tem a exploração de uma loja de roupa com 8 empregados será "lugar contraditório entre a burguesia e a pequena burguesia"
- os donos do hipermercado e do centro comercial (e, já agora, também os donos da cadeia do franchising da loja de roupa) serão "burguesia"
Convém notar que, sobretudo nos "lugares contraditórios" haverá indivíduos mais próximos de uma classe ou outra; p.ex, nos "lugares contraditórios entre a burguesia e a classe operária", os gestores são mais "burgueses" e menos "operários" que os supervisores.
[Convém também lembrar que "classe social" não é a mesma coisa que "escalão de rendimento"]
Agora, uma questão. Se aceitarmos este classificação (e não temos que a aceitar), a que grupo social pertencerão a maior partes dos integrantes daquele área politico-sociológica cujos detractores chamam de "esquerda caviar"? Eu tenho a minha opinião (e falo com conhecimento de causa), mas antes gostava de ouvir (i.e., ler) a dos leitores.
Editado a 2019/01/25: "O que é neo e o que é marxista na análise neo-marxista de classe?" está online[pdf]
6 comments:
Burguesia: o conjunto da população que habita um burgo (ou seja, uma pequena cidade).
Acho que a definição é simples, e não envolve classes :)
Agora, se as pessoas têm usado esta expressão erradamente ao longo da história, já são outras questões...
Função pública e classe operária.
a minha opinião: a maioria pertence à Burocracia (segundo a definição de Bakunine), mas tem herança histórico-cultural-familiar pequeno-burguesa. Já agora, penso que a grande parte dos seus detractores de direita na blogosfera partilham com eles esta classificação.
Outros pertencerão à classe operária altamente especializada (os "professionals" como se diz em americano) e à pequena burguesia.
Falando de classificação de classes, o xatoo resume assim o sistema de classes na sociedade Low Cost:
1) O aparecimento de uma aristocracia muito patrimonializada e abastada, com condições para garantir consumos significativos de bens; [...]
2) [...] uma camada bastante numerosa de tecnocratas do conhecimento, com rendimentos médios ou altos e uma notável capacidade de consumir o que hoje é oferecido em grandes quantidades pela indústria dos paises avançados; [Aqui está a esquerda caviar]
3) [...] Uma sociedade massificada, com rendimentos médios ou baixos, mas à qual a indústria do “low cost” garante o acesso a bens e serviços outrora reservados a estratos mais abastados: a peça de mobiliário desenhada pelo estilista de génio, mas ao preço da Ikeia, ou os “autocarros do céu” que tornam possível vencer os rigores do inverno com breves passagens por climas mais brandos a um preço acessivel; [eu e o Miguel?]
4) [...] Uma classe “proletarizada” ou, de qualquer modo, com escasso poder de compra (dos operários aos reformados sem rendimentos complementares e aos docentes e empregados públicos com família a cargo e salário mínimo), a qual consumirá bens de primeira necessidade, substituirá o automóvel pelo transporte público e viverá de serviços sociais, cada vez mais relegada para modelos sociais de um “Terceiro Mundo” emergente. [os africanos, brasileiros, ucranianos, e cada vez mais portugueses, por cá]
De acordo com a tipologia que eu adoptei, a hetero-designada "esquerda caviar" será sobretudo "lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária" - professores, jornalistas, e mais alguns sociólogos, antropólogos e economistas algures por aí. Ou seja, trabalhadores assalariados, mas com grande autonomia técnica; haverá também alguns "lugar contraditório entre a burguesia e a classe operária" (os que tenham cargos de chefia) e alguma pequena burguesia (sobretudo artistas e jornalistas free-lancer).
Já agora (e como julgo que o Tarique não é a favor da propriedade intelectual), penso que a grande parte dos seus detractores de direita na blogosfera partilham com eles esta classificação.
Aliás, se calhar o conjunto da blogosfera (e a internet em geral) está a abarrotar de gente em "lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária"
Vou tentar uma correspondência entre o esquema do xatoo e o meu:
"uma aristocracia muito patrimonializada e abastada, com condições para garantir consumos significativos de bens" - a burguesia e os escalões superiores dos "lugares contraditórios entre a burguesia e classe operária" (i.e., gestores de topo)
"uma camada bastante numerosa de tecnocratas do conhecimento, com rendimentos médios ou altos e uma notável capacidade de consumir o que hoje é oferecido em grandes quantidades pela indústria dos países avançados;" - a maior parte dos "lugares contraditórios entre a pequena burguesia e a classe operária"; também os escalões médios dos "lugares contraditórios entre a burguesia e a classe operária" (i.e., chefias intermédias)
- "Uma sociedade massificada, com rendimentos médios ou baixos, mas à qual a indústria do “low cost” garante o acesso a bens e serviços outrora reservados a estratos mais abastados": predominantemente "classe operária", mas também os escalões inferiores dos "lugares contraditórios entre a burguesia e a classe operária" (sobretudo operários promovidos a supervisores) e dos "lugares contraditórios entre a pequena burguesia e a classe operária" (parte dos "trabalhadores intelectuais" da função pública, operários altamente qualificados, etc.)
-"[u]ma classe “proletarizada” ou, de qualquer modo, com escasso poder de compra (dos operários aos reformados sem rendimentos complementares e aos docentes e empregados públicos com família a cargo e salário mínimo)": classe operária (e também "lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária", se incluirmos - o que eu tenho algumas dúvidas - os docentes neste grupo)
Antes de mais muito obrigado pelo esclarecimento.
Apesar de continuar sem saber o que é burguesia, pelo menos tenho aqui muita food for thought.
A avaliar pela definição do Erik Olin Wright eu ocupo um lugar contraditório entre a pequena burguesia e a classe operária, pelo que não tenho classe suficiente para ter ido ao tal teatro. :)
Novamente fico feliz que a minha pergunta tenha dado azo ao post.
Obrigado.
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