Thursday, February 19, 2009

Um candidato a ser condecorado no 10 de Junho?

Afinal, não é toda a gente que tem dinheiro a receber do Estado e recusa recebé-lo:

Rejeita reforma choruda e vive em caverna

Manuel Maria Dias, 80 anos, é talvez o último dos homens primitivos a viver em Portugal. Tem milhares de euros a receber da reforma mas habita uma caverna escavada entre duas pedras em Seixo da Beira, concelho de Oliveira do Hospital.

Não há luz, nem água canalizada. A higiene, da casa e a pessoal, é feita ao lado dos cobertores estendidos no chão enlameado. A barba e as unhas demonstram o isolamento a que se votou. Ao lado das penedias em que habita, está o início de um barracão que a junta de freguesia iniciou. De nada valeu. Manuel Maria Dias é um homem livre. Nem a reforma quer. "Tem algum jeito nunca ter dado nada ao Estado e agora querem dar-me a mim?", pergunta-se.

"O dinheiro é sangue, custa a ganhar", aponta o octogenário que mora entre duas rochas num terra que o pai comprou "antes de ir para o Brasil. Somos três, as minhas irmãs moram lá para baixo e eu vivo aqui. Sozinho!", dispara com lucidez acutilante.

A casa, assim lhe chama há cerca de cinco anos, são duas pedras cobertas com plástico e pinheiros. Lá dentro uma protuberância das rochas guarda a água que serve para cozinhar e limpar. Ao lado está a cama e ao fundo, numa reentrância dos penedos fica a dispensa. De que vive? "Trabalho nas florestas e vendo uns cabos para enxadas nas feiras." O magro sustento permite "comprar umas cabras ou galinhas".

Os 30 quilómetros que separam Seixo da Beira de Nelas ou de Oliveira do Hospital são percorridos sempre a pé. "Demoro três horas", conta o eremita. Manuel já não tem animais. "O que compro enterro na terra e a gente perde a vontade de trabalhar, não se tira lucro nenhum. Arrendei o pasto."

As compras "são feitas uma vez por mês" quando vai à feira. Os dias são passados na lavoura. É da terra que vem o sustento. "Semeio centeio e faço pão." A carne que come é comprada "de vez em quando", explica. Os dias "são passados a trabalhar, à noite como e cama". E o frio? "Agacho-me aqui e faço uma fogueira." A fogueira, feita no mesmo buraco onde dorme, é alimentada com troncos que vai puxando à medida que ardem.

Apesar de tudo, é aqui que Manuel é feliz, rejeita mudar de vida. "Sou feliz aqui. É a vida de um pobre homem só. Triste mas uma vida", exclama.

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