Quer o Keynesianismo nas suas várias formas quer o monetarismo de Chicago continuam a perpetuar falácias prejudiciais.
Como exposto anteriormente, as pessoas alocam o seu rendimento entre Consumo, Investimento e Moeda. Do ponto de vista de um indivíduo, ele decidirá em simultâneo se quer aumentar o saldo monetário versus o que consome versus o que disponibiliza em crédito para terceiros (recebendo um juro) [adenda: ou fazer um investimento como capital].
O aumento ou diminuição da procura de moeda em si mesmo não tem de estar relacionado com variações na alocação relativa entre consumo e investimento. Estas variações afectarão o nível geral de preços, mas depois estabilizará. Assim, uma diminuição da procura de moeda aumenta o nível geral de preços, mas ao contrário da inflação provocada por um banco central, este efeito é comparativamente extremamente limitado e auto-corretivo, as pessoas podem diminuir os saldos monetários até certo ponto e assim a subida de preços assim induzida é limitada também nos seus efeitos; assim como o aumento de saldos monetários (aumentando o número de moeda debaixo de colchão) fará descer os preços, mas tal efeito faz aumentar o poder de compra das moedas já detidas o que por si serve de força contrária até um ponto de estabilização.
A outra falácia a ser exposta é que a taxa de juro não se relaciona diretamente com a dita produtividade do capital. Se um dado bem de capital (imaginemos uma máquina inventada com determinadas matérias e por uma determinada especialização de recursos humanos) por alguma razão aumenta significativamente a produtividade, o efeito que terá é o seu preço relativo (e dos seus custos de produção, as matérias com que é produzida, os salários médios) aumentar até ao ponto do lucro se tornar normal.
A taxa de juro é assim a concretização de uma preferência entre consumir hoje e ter uma capacidade adicional de consumir no futuro no valor do juro (ou dividendo, ou valorização de capital). O investidor/empresário procura apresentar projetos que parecem rentáveis dada a taxa de juro.
O paradoxo da poupança, sempre evocado aqui e ali, segundo o qual se as pessoas aumentarem a poupança, diminuem o consumo o que faz diminuir o rendimento pode ser assim solucionado:
- a poupança adicional é canalizada para investimento (a taxa de juro desce, o que aumenta o número de projetos agora rentáveis e antes não) aumentando a produtividade na produção de bens de consumo. O que se perdeu em procura agregada de consumo (diminuindo assim a produção de bens de consumo) hoje ganha-se em aumento da produção de bens de capital
e/ou
- a poupança adicional é canalizada para o aumento de saldos monetários (moedas debaixo do colchão), e o efeito é uma descida limitada de preços nominais, mas a relação entre consumo e investimento continua a estar relacionado com a taxa de juro.
Agora, voltando à questão das reservas fracionárias e a questão inicial posta pelo MM quanto à irrelevância do coeficiente de reservas.
Assim um sistema bancário tenha aproveitado ao máximo o multiplicador monetário e assim estando os depósitos no seu valor máximo permitido por determinado coeficiente de reservas, ele comporta-se como um sistema de reservas de 100% no caso de existir um aumento da procura de moeda… com uma diferença fundamental.
Cada um dos bancos fraccionários está especialmente sujeito a pedidos de transferência entre bancos, e se as reservas forem de 3%, bastarão 4% dos depósitos pedirem a transferência para o banco se tornar insolvente. Numa bolha, onde tudo parece correr bem, e onde a expansão de crédito aproveitada pelos mais espertos ou simplesmente com sorte, é canalizada para a compra de empresas e outros ativos (típico as OPAs com valores recorde, novos máximos no imobiliário, ações, etc.) existe o efeito simultâneo dos Bancos Centrais estarem a injetar reservas e o sistema bancário a expandir os depósitos via multiplicador (pela criação de depósitos no processo de concessão de crédito). No final da bolha, como o efeito da subida de preços se começa a generalizar (os bancos centrais monitorizam apenas os índices de preços no consumidor ignorando tudo o resto, aqui e ali começam a interrogar-se sobre os “asset bubbles”) os bancos centrais começam a diminuir o ritmo de injeção de reservas e a subir as taxas de juro, quando a bolha rebenta e começa o processo de deflação daqueles ativos que mais subiram, o crédito perde o seu colateral (falência de empresas, diminuição do preço das casas, etc) e como no atual sistema bancário o crédito é colateral dos depósitos, começa o movimento de transferências entre os bancos mais fracos para os percepcionados como menos fracos, corridas aos bancos, aumentando a incerteza e provocando o aumento da procura de moeda; sendo que a tal “moeda” mesmo num banco de maior qualidade, está dependente da pouca qualidade da carteira de crédito. Para além disso, os bancos emprestam dinheiro uns aos outros como operação normal de gestão de reservas excedentárias, e nesta situação eles próprios cortam o crédito uns aos outros, tentando recompor o seu nível de reservas para se defender de pedidos de transferências. E aí entram o bancos central e injetam em pânico mais moeda.
E a isto chamam armadilha de liquidez. Bem, é mais a armadilha dos economistas. Vão agora culpar abstratamente a “descida da procura agregada” e assim recomendar que o Estado recorra a crédito para estimular a economia e impedir a falências das empresas e bancos que mais tiraram partido da bolha de crédito.