A discussão continua no blogue de Luciano Ayan. Como ele demora cerca de um dia a publicar os meus comentários (já que só os publica acompanhados da resposta dele), vou fazer aqui um resumo dos que estão pendentes (fazer um copy-paste de uma carrada de comentários ficava uma coisa muito confusa).
A respeito da pergunta de Luciano de quando é que a terminologia esquerda/direita começou a ser utilizada por filósofos da época como auto-identificação, confessei a minha ignorância, mas notei que nos anos 30 Mussolini identificou-se com a direita; que também nos anos 30 havia um partido católico conservador em Espanha chamado CEDA; que Oswald Spengler, na "Hora de Decisão", publicado em 1933 (erro meu - afinal é de 1934) identifica-se de forma que me parece clara como "de direita"; e que o príncipe de Polignac (um monárquico tradicionalista, que foi primeiro-ministro de Carlos X de França até terem sido corridos pela Revolução de 1830) tem um texto identificado "direita" e "extrema-direita" como os partidários da autoridade do rei (ir à pagina 194, onde ele descreve as várias correntes políticas na França da Restauração).
Tendo dado estes exemplos, pedi-lhe exemplos de autores liberais, pelo menos da mesma época ou mais antigos que Spengler ou Mussolini, auto-identificando-se como "de direita"; vamos lá ver se ele acha alguns.
A respeito da critica dele ao meu post "Esquerda, direita e individualismo", recambiei-o para o post original do Filipe Faria para ele perceber o contexto.
A respeito à tese dele de que "Protecionismo é apenas a proteção do sistema econômico do país, e pode continuar com o livre mercado sem problemas, enquanto você confunde com o livre comércio misturado com internacionalismo. Em relação ao protecionismo inglês, este estava de fato associado ao pensamento de direita", só respondi "Proteccionismo pode continuar com o livre mercado sem problemas????????????".
A respeito da questão dele «se [a monarquia tradicional] era a “bandeira original da direita”, por que foi abandonada tão fácil?», respondi (agora vou mesmo fazer copy-paste):
[o que estava antes neste post foi apagado, já que eram comentários que já foram publicados]Como tão fácil? Até aos anos 70 do século XIX, o tradicionalismo monárquico foi uma força politica relevante em França (quase 80 anos a seguir à revolução), e a monarquia só não foi restaurada em 70 e tal porque o conde de Chambord (o herdeiro legitimista) se recusou a aceitar a bandeira tricolor, dizendo que só aceitaria o trono com a bandeira da flor de lis. Mesmo perdendo a influência de massas, as ideias monárquicas tradicionalistas continuaram influentes intelectualmente até à segunda guerra mundial (via a Action Française).
Saindo da França para o conjunto da Europa, durante todo o século XIX os partidos que tinham “Conservador” no nome (isto é mais fácil de provar do que “direita”) costumvam, nos países que eram monarquias, defender as prerrogativas reais contra as do parlamento. Só no principio do século XX, sobretudo após a I Guerra Mundial, é que as monarquias, ou foram abolidas, ou remetidas a um papel simbólico (tirando a inglesa, em quase todas as outras o rei continuava a ser um ator politico relevante até então).
Agora um comentário meu ao caminho por que a discussão está a seguir - quando eu escrevi este post argumentando que o fascismo e o nazismo eram parecidos com o conservadorismo continental tradicional, estava à espera que fosse esta minha tese a ser criticada (talvez nos termos do Erik von Kuehnelt-Leddihn, que argumentou em "The Menace of the Herd" e "Liberty or Equality" que o nacional-socialismo fazia parte dos movimentos de revolta contra a ordem social tradicional pré-Revolução Francesa) e estava a preparar-me para essa "batalha". Não estava de maneira nenhuma à espera que me aparecesse alguém a negar que "direita" tenha alguma vez significado a defesa da monarquia tradicional do "ancien régime" e a insistir que "direita" sempre significou a defesa do liberalismo económico.
No comments:
Post a Comment