A respeito dos problemas comportamentais que por vezes os filhos de pais divorciados exibem e da polémica entre "conservadores" e "progressistas" sobre se a "culpa" é dos pais serem divorciados ou é do processo que levou ao divórcio, há muito que penso que uma boa experiência de controlo seria comparar os filhos de pais divorciados com os órfãos (ou meio-orfãos). Afinal, estes últimos têm a mesma experiência que os filhos de pais divorciados em termos de viverem numa familia monoparental (sobretudo os orfãos de pai parecem-me um termo de comparação bastante apropriado) mas sem terem passado pela fase de verem os pais em conflito (ok, passaram pela morte de um pai, o que é provavelmente mais traumatizante, mas provavelmente é um trauma mais concentrado num momento especifico).
Diga-se que, pela experiência com os meu colegas do secundário, enquanto o R. (filho de pais divorciados) tinha um comportamento bastante problemático (mais no sentido de ser armar em "engraçadinho"; não no sentido de ser violento ou agessivo, que é o que hoje em dia se pensa quando se ouve falar em problemas de comportamento), o L. e o F. (ambos orfãos de pai) eram 2 dos 4 melhores alunos da turma (se nos limitarmos aos rapazes, eram 2 dos 3 melhores).
Mas há estudos feitos sobre o assunto, como este, "Father Absence and the Welfare of Children", de Sara McLanaham, que parecem apontar no mesmo sentido:
Dividing the children of the NSFH into four groups - those with no family disruption, those who lost a parent to death, those whose parents divorced, and those born to never-married mothers - we find significant differences in educational outcomes. Those whose mothers divorced or never married clearly suffer the most negative effects. Adjusting for the factors that predate father absence and are known to influence school failure, we find that children in these two categories are several times more likely to drop out of school than their peers with intact families. The dropout risk is 37 percent for those with never-married mothers and 31 percent for those with divorced parents, in contrast with the 13 percent risk of those from families with no disruption. Significantly, the risk for children who lost a parent to death is 15 percent, virtually the same as that for children from intact homes. Clearly, children of a widowed mother enjoy economic and other advantages over their peers from households headed by divorced or never-married parents.
Claro que há (pelo menos) duas interpretações possiveis para esses resultados - uma interpretação "progressista" (que eu intuitivamente tendo a perfilhar) dirá que confirma a tese que o problema é o mau ambiente familiar, não o divórcio per si; mas há também a interpretação "geneticista" (p.ex., a de Razib Khan), segundo a qual as pessoas com propensão genética a se divorciarem ou a terem filhos sem nunca serem casados terão também propensão a terem maus resultados na escola (imagino que a variável em questão fosse uma propensão geral a serem impulsivos ou conflituosos).
1 comment:
A primeira interpretação que me veio à cabeça é a de que os 4 grupos provêm de backgrounds socio-económicos completamente diferentes, mas este seria invalidada se o estudo da McLanaham fizer algum tipo de normalização dos dados face a este factor.
A segunda interpretação é a da importância da comunidade familiar. Pressuponho que tanto no caso de família estável como no de morte de um dos pais existem laços familiares muito mais fortes (e. g. após a morte do pai, é natural que o resto da família do lado paterno continua a apoiar e estar afectivamente ligado à família monoparental). Enquanto que no caso de mãe solteira ou divórcio existe uma probabilidade de ruptura entre o lado materno e o paterno da família.
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