Esta sequência de posts no twitter de Noah Smith,
dizendo que afinal os maiores apoiantes de Trump não são os "boomers"
(nascidos algures entre 46 e 64), mas sim a ala conservadora da "Geração
X" (nascidos para aí entre 65 e 80), fez-me lembrar algo que há muito
tempo estava a pensar escrever (este post estava nos rascunhos desde
dezembro, ou seja, comecei a escrevê-lo ainda antes dos "boomers"
entrarem na lista de espécies ameaçadas da WWF; depois deixei-o de molho
exatamente porque o assunto tinha largamente sido abandonado).
É
que desde para aí uns dois anos, parecia ter havido uma inversão quase
total dos estereótipos ideológicos tradicionalmente associados à geração
"boomer".
Já agora, cá em Portugal eu passei a minha adolescência com as escolas secundárias dominadas pela JSD, e na primeira campanha eleitoral que dei nota, o liceu estava a abarrotar de autocolantes "P'rá Frente Portugal" - embora em Portugal houvesse a peculiaridade que a geração "progressista" não era tanto a dos nosso pais, mas sim mas sim um misto de tios mais novos, primos afastados mais velhos e professores no principio de carreira (o pessoal na casa dos 30 anos, que tinha sido jovem nos nossos "anos 60" - 1974 e 1975; pelo menos uma prima afastada minha, então com 30 e tal anos, consta que ex-simpatante do PRP e típica "progressista nos costumes", era fã de uma série que havia na altura que era "Os Trintões" e dizia que representava bem a geração dela; essa série era por vezes descrita como o contraponto a "Quem sai aos seus...").
Sinais da mitificação da "geraçao de 60": ainda me lembro de há muitos anos (para aí em 1990) ter lido um artigo (penso que do João Martins Pereira, o já falecido ex-marido da Fátima Bonifácio... - ou será que mesmo isto é um exemplo da mudança do que se espera dum boomer?) que algures dizia "todos as pessoas entre os 30 e os 60 anos tendem a descrever-se como da geração de 60, grande abrigo anti-sismico mais seguro que as de 50 e de 70"; e alguém se lembra de por volta de 1973 ter surgido (com o impacto que teve) algum filme similar a "Os amigos de Alex", mas a evocar os anos 50? (o mais parecido seria o American Graffiti, mas muito longe - nem que seja porque o período que evoca é já o principio dos anos 60).
Isto talvez seja uma especificidade da chamada "Geração X", mas nós crescemos a ouvir associar a geração de 60 à geração dos contestatários e dos progressistas (sempre que havia um protesto de estudantes nos anos 80, alguém falava em "regresso aos anos 60?"), pelo que agora me dá alguma dissonância cognitiva a conversa do "OK Boomer"; por outro lado, també é verdade que "boomer" não é sinónimo de "geração de 60" - se adotarmos a definição de "nascido entre 1946 e 1964", isso incluirá também muitos dos então tão atacados yuppies dos anos 80 (mesmo o Alex P. Keaton era suposto, in-universe, ter nascido em 1965, logo só não seria um boomer por um ano).
Nota 1: suspeito que nestas coisa de conservadorsmo versus progressismo por gerações, há também
uma grande mistura entre a função e a derivada, ou talvez até a segunda derivada...
Nota 2: tenho também uma ainda maior desconfiança face ao conceito de "geração X" (tenho também um post nos rascunhos sobre isso), que em Portugal abrangeria tanto a geração "Prá Frente Portugal" como a "geração rasca", largamente opostas; eu suspeito que há uma diferença marcada entre as pessoas da minha idade ou mais velhas (a típica geração de 80), e as mais novas que eu (a "geração rasca", e também a do grunge e, em Portugal, do rap).
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]