Já publiquei isto há alguns tempos, e fica aqui como desafio
para quem quiser comentar ou apontar algum erro de raciocínio:
A propósito de um post do Ricardo Arroja sobre o recente
anúncio de um aumento de capital do BES:
A irrealidade do sistema monetário e a prova de que os
próprios reguladores e eu diria até os próprios banqueiros percebem mal o
próprio sistema em que operam (de resto, a própria constatação das recorrentes
bolhas/crises bancárias provaria isso de qualquer forma) pode ser visualizada
nos aumentos de capital dos bancos onde estes oferecem incentivos para que os
clientes ou outros participem no aumento de capital com o recurso ao crédito do
próprio banco.
Banco anuncia aumento de capital e oferece crédito para os
subscritores do capital (estas operações já tiveram lugar por diversas vezes e
foram públicas e publicitadas e por isso têm o conhecimento e consentimento dos
reguladores).
1. Vamos ver o que se opera ao nível do balanço partindo de uma situação inicial:
Activo: 1000
Passivo: 900
Capital: 100
2. Concessão de crédito pelo Banco aos futuros subscritores de capital
Activo: 1000 + 100 = 1 100 (100 é novo crédito criado “do
nada”)
Passivo: 900 +100 = 1000 (100 é dinheiro criado “do nada” e
depositado na conta DO dos subscritores que solicitam o crédito)
Capital: 100
3. Realização do aumento de capital
Activo: 1000 +100 = 1 100
Passivo: 900 + (100 – 100) = 900, a conta de DOs é debitada
pelo aumento de capital
Capital: 100 +100 = 200 o capital aumenta por contrapartida
do débito das DO´s dos subscritores (que tinham sido creditadas pelo crédito
concedido)
4. Situação Final:
Nada em termos reais (mobilização de poupança) se passou,
dinheiro criado do nada serviu para aumentar o activo (crédito concedido) e o
capital, para cúmulo, os rácios de solvabilidade aumentaram.
Rácio inicial = Capital / Activo = 100 / 1000 = 10%
Rácio final = 200/ 1100 = 18%
Sempre diria que isto expõe o não-capitalismo deste
processo. Diria até que é anti-capitalismo na sua forma mais refinada. Os
banqueiros teriam uma vida mais difícil num sistema monetário capitalista.
Se alguém quiser por em causa o raciocínio faça o favor.
Isto não quer dizer que este efeito se passa na totalidade dos aumentos de
capital em bancos, mas em parte pode. O mais relevante é a aparente falta de entendimento
generalizado sobre a sua virtualidade.
Antes que se ponham a apontar o dedo aos bancos, lembrem-se
que é assim que a expansão de crédito também é concedida à economia. Criação de moeda em
vez de mobilização de poupança. Os bancos também concedem crédito a accionistas de empresas não financeiras. Especialmente em bolhas, que quando arrebentam aparecem os bailouts por causa do "risco sistémico".
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