A saída do euro e o fascismo, pelo colectivo Passa Palavra (via Vias de Facto e 5 Dias):
Sem serem capazes de aumentar a produtividade — em termos marxistas, de desenvolver a exploração da mais-valia relativa — os empresários portugueses obcecam-se com o outro termo da equação, os salários. Se a produtividade não aumenta, os salários têm de baixar. É esta a principal função das medidas impostas pela Troika.3.O problema é que é esta igualmente a função da saída do euro defendida por tantos grupos e pessoas na esquerda e na extrema-esquerda. De uma penada, ficariam desvalorizados os depósitos bancários e as poupanças em geral, sem que esta medida atingisse os grandes capitalistas, com acesso a redes económicas e detentores de conhecimentos que lhes permitiram, desde há muito, pôr os capitais a salvo. As vítimas seriam apenas, por um lado, os pequenos e médios capitalistas, os donos de lojas e oficinas que, se não caíssem na falência, teriam de parar os investimentos e, portanto, reduzir ainda mais a produtividade. Por outro lado, a vítima seria o conjunto da classe trabalhadora, incluindo aquelas camadas de rendimentos médios que gostam de se intitular classe média. Ora, como é nestas camadas que se concentra a maioria dos trabalhadores mais qualificados, a crise económica neste sector mais ainda contribuiria para comprometer a produtividade.
1 comment:
Como em todos os momentos históricos que antecederam grandes derrocadas, podemos apenas construir alguns cenários, mas com tantas variáveis em jogo não é fácil.
A mim parece-me que o raciocínio do post deixa de fora uma variável muito importante, que é: caso algum país abandone o euro, Portugal não será o primeiro nem o último. É evidente que se isso acontecer, a Grécia será o primeiro caso; mas e quando cairem outros? Dependerá do que tiver acontecido entretanto na Grécia, onde as políticas serão dirigidas das duas uma: ou pela extrema-direita+direita conservadora ou pela esquerda+extrema-esquerda. Se ganhar esta segunda hipótese, a troika isolará o país ao máximo para que as massas nos outros países em via de incumprimento não se radicalizarem à esquerda. Mas e se nem a troika conseguir isto teremos mesmo o fim da união europeia.
O melhor cenário seria uma radicalização à esquerda de todo o sul da europa (expulso ou não do euro, e como não há mecanismos para lidar com esta situação, é mesmo impossível de prever o que pode acontecer e em que espaço de tempo), e aí já não está apenas em jogo uma economia "nacionalista" de esquerda, pois haverá toda uma região nessa situação. E a falência dos bancos alemães/franceses nesse caso (é exagero se os PIGS entrarem em incumprimento...?) vai levar exactamente aonde?
(Dito isto, o cenário mais provável para mim é que não aconteça rigorosamente nada... i.e. a UE vai nomeando, à imagem do que já acontece, governos de "salvação nacional" aqui e acolá, ou governos agrilhoados a empréstimos da troika que não podem tomar medidas de esquerda... quando for impossível esticar a corda da austeridade que remédio terá a Alemanha senão abrandar um pouco o seu saudável crescimento.)
Por fim, este argumento:
"De uma penada, ficariam desvalorizados os depósitos bancários e as poupanças em geral, sem que esta medida atingisse os grandes capitalistas, com acesso a redes económicas e detentores de conhecimentos que lhes permitiram, desde há muito, pôr os capitais a salvo."
independentemente de se desvalorizar os depósitos bancários, a riqueza estará sempre a salvo nos offshores, pelo que uma verdadeira revolução com apropriação da riqueza da burguesia já seria impossível por essa razão hoje. E isso não é uma razão válida para que se defenda uma solução menos radical, ou pode?
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