Sunday, April 30, 2006

O sistema eleitoral (II)

Também é argumentado que o sistema plurinominal é pouco representativo. Henrique Monteiro escreve que "o nosso Parlamento, parecendo muito representativo não o é de facto. É, sem dúvida, proporcional, representando as diversas ideias e movimentos (...) mas não representa pessoas ou comunidades concretos".

Gostava de saber o que são "comunidades concretas" - ou melhor, eu sei perfeitamente que é uma forma de dizer "comunidades locais", mas não vejo porque é que a "localidade" há de ser mais "concreta" que as "ideias ou movimentos". Na verdade, quase de certeza que um portimonense que vota no BE é mais parecido com um lisboeta que vota BE do que com um portimonense que vota CDS. Assim, as entidades colectivas "BE" e "CDS" não são menos concretas do que a entidade colectiva "Portimão" (ou seja, se calhar até faz mais sentido que os deputados representem o BE ou o CDS do que Portimão ou Tavira).

Eu reconheço que há muitas vantagens em saber que é "o nosso deputado", mas essas vantagens também devem ser relativizadas: mesmo num sistema uninominal, quando o deputado de Portimão vota contra uma lei e a maioria vota a favor, a lei é aprovada e os portimonenses vão ter que viver com ela (e não apenas os habitantes das localidades cujos deputados votaram a favor da lei). Ou seja, os portimonenses são tão afectados pelos votos do deputado de Portimão como pelo dos do deputado de Vila do Conde. Assim, mesmo num sistema uninominal, seria mais importante para a vida dos habitantes do Portimão a representação global no Parlamento do PS, PSD, CDU, CDS e BE do que "o nosso deputado" ser o Luis Carito, o João Amado, o Fernando Melo, o Carlos Silva ou o João Vasconcelos.

1 comment:

Ricardo Alves said...

Eu sinto-me representado por partidos, mais do que por deputados individuais. Aliás, as «comunidades» que o Henrique Monteiro refere são totalmente dispensáveis para fins eleitorais.