Tuesday, April 18, 2006

Re: ... a nova agenda da velha esquerda

No seu texto, "O Big Brother e a nova agenda da velha esquerda", A. A. Alves expõe a tese de que "A falência dos modelos externos de referência (fossem eles a União Soviética, a China ou mesmo a Albânia) obrigou a extrema-esquerda europeia a reconverter-se. Historicamente derrotada e ideologicamente falida, essa recomposição passou em quase toda a Europa ocidental pelo esbatimento dos velhos temas marxistas no discurso público e pela adopção de causas sociais «fracturantes»".

Se a tese do AAA estivesse certa, o colapso dos "modelos externos de referência" teria feito os comunistas de linha soviética, maoista ou albanesa tornarem-se entusiastas das "causas fracturantes". Em contrapartida, trotskistas, "socialistas internacionais", "comunistas de conselhos", "autonomistas", anarquistas, etc. continuariam tranquilmente a distribuir panfletos à porta das fábricas (do gênero "o teu patrão precisa de ti; tu não precisas dele!", ou "as duas coisas que os trabalhadores menos precisam: patrões e burocratas sindicais!"), prestando (para não parecerem desactualizados) algum "lip service" ao «fracturantismo», mas sempre com uma atitude de "sim, sim, essas causas são muito «in», mas temos coisas mais importantes a tratar".

Ora, é exactamente o contrário que se passa - por norma, as tendencias do "segundo tipo" são muito mais viradas para as "causas fracturantes" que as primeiras (que, essas sim, têm frequentemente a tal atitude de "sim, sim, essas causas..."), o que parece refutar a tese do AAA.

Sem falsas modéstias, acho que a tese que, há tempos, a propósito dos anos 60, expus sobre a raiz das "causas fracturantes" (no 12º parágrafo) faz muito mais sentido.

2 comments:

Pedro Viana said...

Que ingenuidade sua, Miguel...

AAA sabe muito bem qual é a diferença entre comunistas estatistas, i.e. de linha estalinista/maoísta/albanesa (ex. PCP), e a esquerda-radical de carácter libertário/anarquista (ex. BE). O que ele pretende, tal como todos os propagandistas da Direita pura e dura é tentar desacreditar a esquerda libertária que muito os incomoda, porque está na ofensiva e porque desmascara a proclamada defesa da "liberdade" destes ideólogos desonestos, proclamando ad infinitum a mentira que também ela apoiava e apoia os regimes de tipo estalinista. AAA mente e sabe que mente.

Anonymous said...

A tese de AAA é insustentável. Os partidos que tinham como modelo o regime soviético (os PCs clássicos), após a falência deste, não se converteram às «causas fracturantes». Foram é resvalando lentamente para a social-democracia. Esse movimento começa após a Primavera de Praga, com o «eurocomunismo» do PCI e do PCF e só falta mesmo chegar ao nosso velho PCP...

Quanto às «causas fracturantes», elas entroncam na tradição da esquerda libertária, como o Miguel Madeira muito bem refere. Aliás, muitos comunistas ortodoxos têm posições algo conservadoras em relação a essas causas...

Acho estranho que AAA não esteja ciente disso. Se calhar, como o pedro diz, é mesmo uma questão de estratégia da direita pôr tudo no mesmo saco...