Continuando a exposição sobre o mutualismo, será que esse sistema funcionaria? Eu penso que, por um lado funcionaria, mas, por outro, talvez não tivesse grandes consequências.
Imaginemos uma versão simples de mutualismo: um grupo de pessoas criam um "banco mútuo" e compromentem-se a aceitar as notas emitidas por esse banco como meio de pagamento. Ora, a experiencia indica que a procura de moeda (i.e. dinheiro em caixa + depósitos à ordem) numa economia é de cerca de 1/3 do PIB nominal. Assim, a moeda emitida pelo banco em questão tenderia, em valor, a equivaler a cerca de 1/3 do "PIB" do conjunto dos utilizadores dessa moeda.
Se o banco criasse moeda através de empréstimos com um prazo de 10 anos, isso quer dizer que, anualmente, iria conceder empréstimos correspondentes a 2/33 do "PIB".
Aonde é que eu fui buscar este valor (alguns leitores estarão a pensar "não seriam 1/30 do PIB")? O total da dívida num dado ano é o valor emprestado nesse ano, mais 9/10 do emprestado no anterior (porque 1/10 já foi pago), mais 8/10 do emprestado há 2 anos, etc. Se todos os anos for emprestada a mesma quantia, quer dizer que o valor total da dívida (e da moeda em circulação) é 5 vezes e meia (1 + 0,9 + 0,8 ...) o valor emprestado anualmente. Logo, o valor emprestado anualmente deverá ser 2/33 (1/3 a dividir por 5,5).
Um exemplo concreto: vamos supor um banco com 10.000 associados, como um rendimento médio equivalente a 15.000 euros por ano (ou sejo, o "PIB" dos associados seria equivalente a 150 milhões de euros). O banco manteria moeda em circulação de valor equivalente a 50 milhões de euros. Se concedesse empréstimos por dez anos, iria anualmente conceder empréstimos de valor pouco maior que 9 milhões de euros.
Imaginemos que cada sócio pedia um empréstimo uma vez na vida e era sócio durante 50 anos (ou seja, todos os anos, haveria 200 empréstimos a serem concedidos). Assim, cada sócio iria, uma vez na vida, receber um empréstimo, sem juros, de valor equivalente a 45.000 euros. Não é pouco, mas também não é muito.
No entanto, há alguns factores que podem melhorar um pouco a situação:
Por uma lado, temos o crescimento económico. Se o "PIB" estiver a crescer, a massa monetária também deverá crescer, logo, todos os anos, irão ser concedidos mais empréstimos do que amortizações realizadas. Se a economia crescer 2% ao ano e o banco seguir uma politica de um crescimento nominal do stock de moeda também de 2% ao ano, já poderá conceder anualmente empréstimos num valor ligeiramente acima de 6% do "PIB" (é complicado explicar como se chega a este número mas, se quiserem, eu explico).
Por outro lado, o tal rácio empirico que apresentei da "procura de moeda" ser cerca de 1/3 do PIB acontece no contexto de economias em que há inflação (e, quanto maior é a inflacção, menor a tendência para querer deter moeda). Se, como no meu cenário hipotético, o banco só fizesse aumentar a moeda em circulação proporcionalmente ao crescimento da economia, em principio não haveria inflacção, logo a "procura de moeda" seria maior, podendo o banco conceder empréstimos de valor mais elevado aos que estou a referir (em alternativa a ir medir o crescimento económico - o que, aliás, seria quase impossivel - o banco pode-se limitar a observar os preços e conceder mais ou menos empréstimos se estes estarem a descer ou a subir).
Nota1: o tal rácio de 1/3 fui, mais ou menos, buscá-lo a uns dados sobre a economia dos EUA, no principio dos anos 80, no livro "Economia", de Paul Samuelson. As estatisticas do BCE apontam para um valor ligeiramente superior (em 2004, a moeda em circulação era no valor de 2.912 biliões de euros e o "PIB europeu" nominal 7.714 biliões - ou milhares de milhões? - o que dá um rácio já perto dos 40%)
Nota2: será que ao misturar uma teoria socialista radical do século XIX com a ciência económica "convencional" moderna (mais exactamente, Economia Monetária), e juntado uns cálculos pelo meio, não terei feito um post que ninguém vai achar interessante?
Imaginemos uma versão simples de mutualismo: um grupo de pessoas criam um "banco mútuo" e compromentem-se a aceitar as notas emitidas por esse banco como meio de pagamento. Ora, a experiencia indica que a procura de moeda (i.e. dinheiro em caixa + depósitos à ordem) numa economia é de cerca de 1/3 do PIB nominal. Assim, a moeda emitida pelo banco em questão tenderia, em valor, a equivaler a cerca de 1/3 do "PIB" do conjunto dos utilizadores dessa moeda.
Se o banco criasse moeda através de empréstimos com um prazo de 10 anos, isso quer dizer que, anualmente, iria conceder empréstimos correspondentes a 2/33 do "PIB".
Aonde é que eu fui buscar este valor (alguns leitores estarão a pensar "não seriam 1/30 do PIB")? O total da dívida num dado ano é o valor emprestado nesse ano, mais 9/10 do emprestado no anterior (porque 1/10 já foi pago), mais 8/10 do emprestado há 2 anos, etc. Se todos os anos for emprestada a mesma quantia, quer dizer que o valor total da dívida (e da moeda em circulação) é 5 vezes e meia (1 + 0,9 + 0,8 ...) o valor emprestado anualmente. Logo, o valor emprestado anualmente deverá ser 2/33 (1/3 a dividir por 5,5).
Um exemplo concreto: vamos supor um banco com 10.000 associados, como um rendimento médio equivalente a 15.000 euros por ano (ou sejo, o "PIB" dos associados seria equivalente a 150 milhões de euros). O banco manteria moeda em circulação de valor equivalente a 50 milhões de euros. Se concedesse empréstimos por dez anos, iria anualmente conceder empréstimos de valor pouco maior que 9 milhões de euros.
Imaginemos que cada sócio pedia um empréstimo uma vez na vida e era sócio durante 50 anos (ou seja, todos os anos, haveria 200 empréstimos a serem concedidos). Assim, cada sócio iria, uma vez na vida, receber um empréstimo, sem juros, de valor equivalente a 45.000 euros. Não é pouco, mas também não é muito.
No entanto, há alguns factores que podem melhorar um pouco a situação:
Por uma lado, temos o crescimento económico. Se o "PIB" estiver a crescer, a massa monetária também deverá crescer, logo, todos os anos, irão ser concedidos mais empréstimos do que amortizações realizadas. Se a economia crescer 2% ao ano e o banco seguir uma politica de um crescimento nominal do stock de moeda também de 2% ao ano, já poderá conceder anualmente empréstimos num valor ligeiramente acima de 6% do "PIB" (é complicado explicar como se chega a este número mas, se quiserem, eu explico).
Por outro lado, o tal rácio empirico que apresentei da "procura de moeda" ser cerca de 1/3 do PIB acontece no contexto de economias em que há inflação (e, quanto maior é a inflacção, menor a tendência para querer deter moeda). Se, como no meu cenário hipotético, o banco só fizesse aumentar a moeda em circulação proporcionalmente ao crescimento da economia, em principio não haveria inflacção, logo a "procura de moeda" seria maior, podendo o banco conceder empréstimos de valor mais elevado aos que estou a referir (em alternativa a ir medir o crescimento económico - o que, aliás, seria quase impossivel - o banco pode-se limitar a observar os preços e conceder mais ou menos empréstimos se estes estarem a descer ou a subir).
Nota1: o tal rácio de 1/3 fui, mais ou menos, buscá-lo a uns dados sobre a economia dos EUA, no principio dos anos 80, no livro "Economia", de Paul Samuelson. As estatisticas do BCE apontam para um valor ligeiramente superior (em 2004, a moeda em circulação era no valor de 2.912 biliões de euros e o "PIB europeu" nominal 7.714 biliões - ou milhares de milhões? - o que dá um rácio já perto dos 40%)
Nota2: será que ao misturar uma teoria socialista radical do século XIX com a ciência económica "convencional" moderna (mais exactamente, Economia Monetária), e juntado uns cálculos pelo meio, não terei feito um post que ninguém vai achar interessante?
1 comment:
sinceramente, não me parece muito "saudavel"(?) estar a misturar ambos.
pode ser uma especie de via reformista, mas desconfio sempre de reformadores.
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