Independentemente de ser literal ou metafórico, há algo que não vejo sentido nenhum, não propriamente na Bíblia, mas nas suas traduções (claro, quem sou eu, um ateu, para dar palpite sobre a Bíblia?):
Uma versão do Capítulo 11 do Levítico:
13 Das aves, estas abominareis; näo se comeräo, seräo abominaçäo: a águia, e o quebrantosso, e o xofrango,
14 E o milhano, e o abutre segundo a sua espécie.
15 Todo o corvo segundo a sua espécie,
16 E o avestruz, e o mocho, e a gaivota, e o gaviäo segundo a sua espécie.
17 E o bufo, e o corvo marinho, e a coruja,
18 E a gralha, e o cisne, e o pelicano,
19 E a cegonha, a garça segundo a sua espécie, e a poupa, e o morcego.
13De entre as aves, eis as que deveis considerar imundas e que não deveis comer, porque são abomináveis: a águia, o xofrango e o esmerilhão; 14o falcão e o abutre de qualquer espécie; 15toda a variedade de corvos; 16a avestruz, a andorinha, a gaivota e o gavião, de qualquer espécie; 17a coruja, o milhafre e o mocho; 18o corvo marinho; o pelicano e a cegonha, 19toda a variedade de garças, o faisão e o morcego.
Já agora, a Vulgata latina:
13. | hæc sunt quæ de avibus comedere non debetis et vitanda sunt vobis aquilam et grypem et alietum | |
14. | milvum ac vulturem juxta genus suum | |
15. | et omne corvini generis in similitudinem suam | |
16. | strutionem et noctuam et larum et accipitrem juxta genus suum | |
17. | bubonem et mergulum et ibin | |
18. | cycnum et onocrotalum et porphirionem | |
19. | erodionem et charadrion juxta genus suum opupam quoque et vespertilionem |
O meu ponto não é a diferença entre as versões (provavelmente derivada de diferenças entre os ramos do cristianismo), e muito menos a classificação do morcego como ave (compreensível pela ciência da época). É mesmo o "xofrango" (a sério, alguém já ouviu falar em xofrangos? Eu só em dois sítios - na Bíblia e na tradução portuguesa de uma lenda medieval da Cornualha).
Porque é que não escrevem "a águia, o quebrantosso e a águia-pesqueira"? É que nem sequer é uma questão de fidelidade ao original - duvido que na Bíblia hebraica esteja "xofrango" ou "águia-pesqueira": terá provavelmente uma palavra hebraica qualquer; e, como vimos, em latim está "alietum" que, foneticamente, é tão parecido com "xofrango" como com "águia-pesqueira" (ou seja, nada) pelo que escolher uma palavra ou outra é uma simples opção editorial do tradutor. A ideia será usar uma palavra obscura exactamente para dar um tom obscuro e arcaico ao texto?
1 comment:
Digamos que eram omnivoros, mas não comiam toda a especie de carne ou peixe. Tal como o Bem e o mal, havia o mesmo significado, o puro e o impuro.
Estranho que fossem proibidos de comer ruminantes sem unha dividida ou com unha dividida e não ruminantes. Coisas da época, não conheciam os benefícios do vegetarianismo, pois gostaria de saber quais os vegetais e cereais que se poderiam ou não comer pelo seu grau de pureza ou impureza.
Post a Comment