Já vimos porque o liberalismo democrático não funciona; e o liberalismo anti-democrático, à maneira das cartas constitucionais e dos sufrágios censitários do século XIX?
Também não funciona, porque é intrinsicamente instável:
Em última instância, um governo só funciona porque os seus súbditos aceitam obedecer-lhe, e essa obediência deriva, ou do medo, ou do respeito/deferência, ou da convicção que o "o governo somos nós".
Ora, num regime "liberal oligárquico", tanto o medo ou a deferência não funcionam: num regime com liberdade de imprensa, debate político, oposição institucionalizada, alternância no poder entre facções rivais, etc. dificilmente "o povo" sentirá medo dos governantes; e também dificilmente os achará "seres superiores e/ou ungidos por Deus"; assim, dificilmente a maioria aceitará ser dirigida por uma minoria.
Desta forma, um regime liberal oligárquico estará sujeito a uma pressão constante para alargar o poder até chegar à democracia - olhe-se para a Europa da século XIX, para Atenas ou para Roma antiga: a partir do momento em que a monarquia autoritária foi derrubada (para ser substituida pela monarquia constitucional ou pela republica oligárquica), a história dessas sociedades foi a da luta constante da "plebe" para a maior participação no governo.
[Aliás, muitos dos argumentos usados pelos defensores do regime censitário acabam, paradoxalmente, por se virarem contra ele - quando dizem "o sufrágio universal é mau porque leva a que a maioria que paga poucos impostos use o poder do Estado para ter subsidios e serviços à borla" isso soa ao ouvidos da maioria como um argumento a favor da democracia e, já agora, do Estado Social]
Ou seja, se um Estado não quiser ser uma democracia, só tem duas alternativas - ou uma ditadura brutal, que impõe o seu poder pelo terror e pelo medo; ou um regime autoritário tradicional (como as monarquias pré-modernas), que se impõe pelo simples hábito da obediência aos superiores.
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