Esta é a Rua José Buísel, aonde são perpendiculares muitas das vielas abaixo mostradas. Esta rua é um exemplo típico de como a "Rua X" ou a "Escola X" podem ser mais famosos que o X propriamente ditos: se fizermos uma busca no Google por "José Buisel" ou por José Buisel, quase só nos aparecem referências à "Escola EB23 Prof. José Buísel" ou a "Rua José Buísel", não ao José Buísel propriamente dito (um professor anarquista da primeira metade do século passado). E se pesquisarmos sem "escola" e sem "rua", só nos aparecem artigos com moradas na "R José Buísel" ou sobre a "EB 23 José Buísel". A única maneira de descobrirmos quem foi esse José Buísel é fazer uma pesquisa sobre Negrão Buisel e, aí sim, aparece-nos (integrado no site da escola) um artigo sobre ele:
Professor, político e pedagogo.
Nasceu em Portimão, a 27 de Outubro de 1875.
Faleceu em Lisboa, a 8 de Maio de 1954.
(...)
Teve o casal Negrão Buísel seis filhos, a quem deu formação superior, entre eles José, que viria a ser um notável professor e que abraçaria a ideologia anarco-sindicalista, que lhe traria muita fama e maiores dissabores.
Muito culto, falando várias línguas, fundou o colégio Lusitano, em Portimão, por onde passaram muitos e muitos jovens, cujos pais, concordando ou não com as opções políticas do professor, reconheciam a sua competência e os seus dotes de carácter.
Era sabido que, se havia um aluno pobre, o professor"esquecia-se" de cobrar a mensalidade. Era a sua norma: os ricos pagam para que os pobres também possam estudar.
Durante as suas inúmeras prisões, as aulas eram asseguradas, primeiro por um ou dois dos irmãos, depois pelos filhos, e o sustento da família vinha, em parte, da solidariedade da gente simples: pescadores que forneciam peixe, mulheres da praça que levavam ovo e hortaliça, etc.
Conta um dos seus muitos descendentes, a neta Júlia Buísel:
"Recentemente encontrei uma senhora com cerca de 80n anos que ouvindo o apelido Buísel recordou ter sido aluna do meu avô. Lembrava-se que, quando ele regressava da prisão, o povo juncava o chão de rosmaninho desde Ferragudo até Portimão e acompanhava o professor em ar de procissão, ouvindo o grito da boca de homens simples: viva o professor Buísel, viva o pai dos nossos filhos. Expressão que definia bem o carinho e a consideração dos pais dos alunos pelo meu avô, homem bom que lhes educava os filhos como se seu pai fosse."
Sabe-se porém, que algumas vezes calor da multidão aquecia o sangue do político, e ei-lo, no coreto do jardim público, fazendo os seus discursos desassombrados, o que levava a nova prisão, sem tempo de ir a casa ver a família e mudar de roupa. Estas eram prisões ligeiras, resolvidas no Governo Civil de Faro. Porém, com o refinamento da repressão, foi preso no Limoeiro, onde esteve preso durante quatro anos à espera da decisão do tribunal, que acabou por lhe fixar residência no Monte Estoril.
(...)
Internado no Hospital do Desterro, vigiado por dois agentes da PIDE, regalava-se a fazer discursos políticos em inglês, que os pides não compreendiam, mas que deliciavam os médicos.
Guardado à vista, faleceu no Hospital do Desterro um homem tão bom que abria a gaiola dos pássaros para que estes gozassem a liberdade que ele tanto amava.
Ou seja, quem não faça a mínima ideia de quem foi esse José Buísel dificilmente poderá descobrir quem foi, já que é preciso um mínimo de conhecimento prévio para descobrir que o outro nome de família era "Negrão" (um aparte: não sei se a mania dos anarquistas de libertar os pássaros das gaiolas - também testemunhada na Guerra Civil de Espanha - será boa ideia; afinal, o mais provável é que eles não saibam como se alimentar e acabem por morrer à fome - ou será que eu estou no caminho que justifica o "despotismo benevolente"?).