Friday, June 29, 2007

Mais uma fotografia (e mais qualquer coisa)

















Esta é a Rua José Buísel, aonde são perpendiculares muitas das vielas abaixo mostradas. Esta rua é um exemplo típico de como a "Rua X" ou a "Escola X" podem ser mais famosos que o X propriamente ditos: se fizermos uma busca no Google por "José Buisel" ou por José Buisel, quase só nos aparecem referências à "Escola EB23 Prof. José Buísel" ou a "Rua José Buísel", não ao José Buísel propriamente dito (um professor anarquista da primeira metade do século passado). E se pesquisarmos sem "escola" e sem "rua", só nos aparecem artigos com moradas na "R José Buísel" ou sobre a "EB 23 José Buísel". A única maneira de descobrirmos quem foi esse José Buísel é fazer uma pesquisa sobre Negrão Buisel e, aí sim, aparece-nos (integrado no site da escola) um artigo sobre ele:

Professor, político e pedagogo.

Nasceu em Portimão, a 27 de Outubro de 1875.

Faleceu em Lisboa, a 8 de Maio de 1954.

(...)


Teve o casal Negrão Buísel seis filhos, a quem deu formação superior, entre eles José, que viria a ser um notável professor e que abraçaria a ideologia anarco-sindicalista, que lhe traria muita fama e maiores dissabores.



Muito culto, falando várias línguas, fundou o colégio Lusitano, em Portimão, por onde passaram muitos e muitos jovens, cujos pais, concordando ou não com as opções políticas do professor, reconheciam a sua competência e os seus dotes de carácter.

Era sabido que, se havia um aluno pobre, o professor"esquecia-se" de cobrar a mensalidade. Era a sua norma: os ricos pagam para que os pobres também possam estudar.

Durante as suas inúmeras prisões, as aulas eram asseguradas, primeiro por um ou dois dos irmãos, depois pelos filhos, e o sustento da família vinha, em parte, da solidariedade da gente simples: pescadores que forneciam peixe, mulheres da praça que levavam ovo e hortaliça, etc.

Conta um dos seus muitos descendentes, a neta Júlia Buísel:

"Recentemente encontrei uma senhora com cerca de 80n anos que ouvindo o apelido Buísel recordou ter sido aluna do meu avô. Lembrava-se que, quando ele regressava da prisão, o povo juncava o chão de rosmaninho desde Ferragudo até Portimão e acompanhava o professor em ar de procissão, ouvindo o grito da boca de homens simples: viva o professor Buísel, viva o pai dos nossos filhos. Expressão que definia bem o carinho e a consideração dos pais dos alunos pelo meu avô, homem bom que lhes educava os filhos como se seu pai fosse."

Sabe-se porém, que algumas vezes calor da multidão aquecia o sangue do político, e ei-lo, no coreto do jardim público, fazendo os seus discursos desassombrados, o que levava a nova prisão, sem tempo de ir a casa ver a família e mudar de roupa. Estas eram prisões ligeiras, resolvidas no Governo Civil de Faro. Porém, com o refinamento da repressão, foi preso no Limoeiro, onde esteve preso durante quatro anos à espera da decisão do tribunal, que acabou por lhe fixar residência no Monte Estoril.

(...)

Internado no Hospital do Desterro, vigiado por dois agentes da PIDE, regalava-se a fazer discursos políticos em inglês, que os pides não compreendiam, mas que deliciavam os médicos.

Guardado à vista, faleceu no Hospital do Desterro um homem tão bom que abria a gaiola dos pássaros para que estes gozassem a liberdade que ele tanto amava.

Ou seja, quem não faça a mínima ideia de quem foi esse José Buísel dificilmente poderá descobrir quem foi, já que é preciso um mínimo de conhecimento prévio para descobrir que o outro nome de família era "Negrão" (um aparte: não sei se a mania dos anarquistas de libertar os pássaros das gaiolas - também testemunhada na Guerra Civil de Espanha - será boa ideia; afinal, o mais provável é que eles não saibam como se alimentar e acabem por morrer à fome - ou será que eu estou no caminho que justifica o "despotismo benevolente"?).

Continuando com a minha "sessão fotográfica"


















Um habitante local, provavelmente tentando sintonizar o seu programa de TV favorito.

Wednesday, June 27, 2007

"Portugal sem lei contra jogos perigosos"

É noticia de capa do Diário de Noticias de hoje. Atendendo que se está a falar de jogos de video/computador, imagino que se estejam a referir ao perigo de tendinites (e escrever este post está-me a dar impressão no indicador direito), vista cansada ou de alguém se cortar no rebordo do CD, não?

[a noticia lá de dentro já faz sentido: claro que se está a falar de jogos "violentos", não de jogos "perigosos" - se, p.ex., nas brincadeiras ao ar livre, um jogo "violento" é "perigoso", não me parece que se possa dizer o mesmo para os jogos de computador; e pelos vistos, sempre há leis contra os "jogos violentos", que podem impedir a sua venda a menores - e não vejo que faça sentido interditar a prática de jogos de computador "violentos" a adultos, que já têm idade para não irem disparar a metralhadora para o meio da rua depois de uma hora a jogar Wolfenstein...]

Mérito, "quadros de honra" e afins

Pedro Marques Lopes elogia o facto de no colégio dos seus filhos "[ter decorrido] uma pequena cerimónia em que foram distinguidos os melhores alunos do ano [e o]s bons alunos [terem sido] enaltecidos em frente a toda a comunidade escolar - pais, colegas e professores - e [tendo-lhes sido] entregue um documento a enaltecer os seus méritos".

O colégio em questão lá saberá (e, efectivamente, os clientes - a começar por PML - parecem estar satisfeitos), mas eu, pessoalmente, tenho algumas dúvidas sobre a eficácia dessas politicas de distinção aos "bons alunos" (sob a forma de certificados, quadros de honra e afins) - por achar essas politicas "elitistas" e prejudiciais para a "auto-estima" dos alunos menos bons? Não! O meu argumento é outro: é que parece-me que, em regra, os "bons alunos" tendem a ter uma personalidade "inner-directed", no sentido de confiarem mais no seu juízo do que no dos outros (e penso que faz sentido: é natural que aquelas crianças que, ao montar um carro de brinquedo, querem ser elas a descobrir como o carro se monta venham, no futuro, a ser melhores alunos - já que exercitam mais os neurónios - do que aquelas que preferem pedir ao pai que lhes explique como se monta o carro); e, sendo pessoas que confiam mais na sua própria opinião do que na da "sociedade", não sei se lhes fará grande diferença a escola dizer ou deixar de dizer "és um excelente aluno" (afinal, se eles já sabem que são bons alunos, que diferença em termos de incentivo fará o reconhecimento de tal pela escola?); por outro lado, talvez o José Carmo tenha razão e na minha análise da "psicologia dos bons alunos" eu esteja apenas a reter os dados que confirmam as minhas convicções...

[aqui uma variante menos rigorosa e mais provocatória do que escrevo neste poste]

Tuesday, June 26, 2007

Folhetim - "Conspiração no ISCEF" - 1ª parte

Vou publicar no blogue uma história (no género suspense/policial) que publiquei há 12 anos na revista da Associação de Estudantes do ISEG.

A primeira parte:

CONSPIRAÇÃO NO ISCEF

Por MIGUEL MADEIRA

- Bem, depois, podem ir, ás 15.00h, ao meu gabinete, ver os testes – disse o professor Ácaro, após afixar as notas do exame. De seguida afastou-se, enquanto os alunos se entregavam a comentários bastante críticos:

- E vou mesmo lá – quase que gritava Ernestino – Eu tenho a certeza que o teste está todo certo e aquele gajo dá-me um seis!

- E eu? O Aparício copiou o teste todo por mim, ele teve treze e eu tive oito. - interveio Arnaldo.

- Pois é. - confirmou Aparício – E ainda por cima houve uma pergunta que tu me passaste e que eu só pus metade.

- Isto é um escandalo - comentou Januária - Eu já sabia que não tinha nota para passar, mas um três, francamente...

- Bem, o que vamos fazer até às três?

- Alguém tem um baralho?

- Não.

- Eu também não.

- Eu vou é ver o que diz aqui - após proferir estas palavras, Arnaldo dirigiu-se à secretária encostada à parede do corredor, pegou no "Boletim Informativo do C.D. do ISCEF" e começou a folheá-lo.

- Diz ai alguma coisa de interessante? - perguntou Januária.

- Sim, tem uma informação super-importante! - respondeu Arnaldo, e começou a ler -"Contratos - pessoal não docente :- Aníbal Pedrosa, 3º oficial de carreira..."

- Cala-te - protestou Ernestino.

- Ora, francamente, não me digam que não estão interessados em saber que o Aníbal Pedrosa, e... deixem ver quem... o Bonifácio Mota, o José Sarmento e a Felisberta Talasso passam a integrar o quadro de pessoal não docente do instituto - replicou Arnaldo.

- Sinceramente, há coisas que me interessariam mais. - respondeu Aparício.

- Então, que tal este artigo: "Conferencia « A economia aplicada ao comportamento animal: limitações e extrapolações possíveis»"-respondeu Arnaldo, que continuou - "Realizou-se no dia 23 de Julho, ás 17.00h, no auditório, uma conferencia sobre o tema em epigrafe, que teve como oradores: Prof. Eduardo Neves, professor catedrático, tal ,tal, tal ,- Arnaldo passou a ler apenas os nomes dos conferencistas, abstraindo das descrições -Prof. Afonso Santiago, Prof. Abel Ácaro, Prof. Jorge Gadanha..."

- Já acabaste?

- Já disse os nomes dos conferencistas, mas ainda falta os temas.

- Não é necessário. - interrompeu Ernestino - Deixa é ver os artigos dos jornais.

Ernestino começou a folhear o "Boletim".

- Estas noticias também são sempre a mesma coisa: é esta historia do prédio que caiu na Miguel Lupi, este gajo que todos os anos dizem que vai ganhar o Nobel...

- É aquilo que a gente já ouvimos falar centenas de vezes, não é?

- Pois. Sobre o prédio temos mais uma vez as declarações do dono: " Os dirigentes do ISCEF são directamente responsáveis pela derrocada e pelas oito mortes que ocorreram. Temos provas que está a haver manifesto desleixo na obras que se estão a realizar no instituto e que, inclusivamente, o dinheiro atribuído para o reforço da rua estará em grande parte a ser desviado". Depois também temos esta noticia: "Mais uma vez se fala da atribuição do Nobel da Economia a Eduardo Neves, professor catedrático do ISCEF, conhecido pelos seus trabalhos no âmbito, etc., etc... Segundo declarações de dois professores do mesmo instituto que colaboraram nos seus trabalhos, tal nomeação representaria...".

- Já são quase três horas, vamos ao gabinete do tipo. - sugeriu Januária.

- Então, boa sorte - despediu-se Aparício.

Pouco depois chegaram ao gabinete do professor.

- Só atendo um de cada vez - disse este.

Ernestino foi o primeiro a entrar.

- Veja se é rápido, que estou a fazer um paper muito importante, há dois anos que só trabalho nisso, tirando as aulas, e quero acabá-lo depressa.

Apesar da pose intimidatória do professor, Ernestino, após muito argumentar, lá conseguiu mais meio valor (passou de 5.7 para 6.2). Saiu da sala, enquanto Aparício se levantava do banco. Após entrar, este sai estupefacto do gabinete:

- Ernestino, o que é que tu fizeste?!

Ernestino regressou ao gabinete, ver o que se passara, ao mesmo tempo que um continuo acorria ao local, e deparou com o corpo inerte do professor deitado sobre a mesa, com uma soqueira "reforçada" com pregos espetada no crâneo.

- Mataste-o por causa de um teste?!- disse-lhe Januária, enquanto ele era agarrado pelo continuo.

- Vamos levar-te à Policia - disse este, enquanto Ernestino ficava cada vez mais confuso.

(continua)

P.S.: Os eventos descritos neste texto são pura ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas, vivas ou mortas, reais é pura coincidência.

Monday, June 25, 2007

Pré-primária obrigatória?

Fala-se em a pré-primária passar a ser obrigatória (aos 5 anos). Eu, aos 5 anos, andei apenas alguns meses na pré-primária e detestei (e antes nunca tinha andado em tal coisa). No entanto, apesar de quase não ter tido pré-primária, nunca reprovei nenhum ano da primeira classe até completar a faculdade (reprovei algumas disciplinas, mas não nenhum ano); assim , interrogo-me sobre se fará sentido tornar a pré-primária obrigatória - o único argumento para isso seria o "interesse da criança"; ora, o exemplo apresentado (baseado numa representativa amostra estatística de 1 pessoa) parece demonstrar que a frequência da pré-primária não é determinante para o sucesso escolar futuro (o argumento que costuma ser usado para defender a obrigatoriedade do pré-escolar).

Pode-se argumentar que isso é uma questão irrelevante, já que, mesmo sem obrigatoriedade, quase todas as crianças andam no pré-escolar, mas acho que não é assim tão irrelevante: mesmo as crianças que andam na pré-escola, às vezes têm dias em que não querem ir para "o colégio" e acabam por passar esse dia em caso dos avós, de outros parentes, de algum amigo, etc.

Com a obrigatoriedade da pré-escola, imagino que isso deixasse de ser permitido (ou, pelo menos, passaria a ser mais complicado).

Nota sobre o assunto - eu sou a favor da absoluta gratuitidade do sistema pré-escolar; só sou contra a sua obrigatoriedade.

Notas sobre o meu percurso - poderão ser dados dois argumentos contra a minha validade como exemplo:

1º) Eu sou oriundo de um meio de classe média - talvez para crianças oriundas das classes socialmente subjugadas a pré-primária possa ter efectivamente utilidade para o sucesso a longo prazo (enquanto para as crianças das classes dominantes nem se nota porque é uma vantagem insignificante comparada com todas as outras vantagens)

2º) Eu, quanto tinha 5 anos (tirando o pequeno trecho em que andei na pré-primária) ia, à tarde, para a escola aonde a minha mãe dava aulas e andava por lá - umas vezes ficava na sala, outras vezes ia para o recreio, outras vezes andava a passear pelos campos e bairros à volta (acho que a minha mãe tinha mais ou menos encarregue alguns alunos do turno da manhã - que, como é usual em terras de pescadores e operários conserveiros, passavam o tempo a brincar pelas redondezas - de serem as minhas "amas-secas"); ora, poderá ser argumentado que eu andava numa pré-primária-com-outro-nome, mas acho que não, já que lhe faltava o elemento da "estrutura" - eu não estava sujeito a "orientações pedagógicas", "áreas de conteúdo" e coisas assim.

Erros ortográficos

A respeito de, nas provas de aferição, os erros ortográficos não serem descontados nas perguntas de interpretação, João César das Neves escreve:

"Talvez daqui a anos, quando estes jovens escreverem mal um relatório que mandam ao patrão, se justifiquem dizendo que não é a sua ortografia que está a ser avaliada."

Felizmente que (pelo menos nas empresas com dimensão que justifique o recurso à comunicação escrita) os patrões (ou dirigentes em geral) têm secretárias, senão também haveria o perigo de escreverem mal comunicações para os funcionários.

O que é a "sociedade civil"?

Fala-se que, de acordo com a nova lei das universidades, 30% dos conselhos gerais das universidades vão ser compostos por "representantes" da "sociedade civil". Gostava de saber o que é exactamente a "sociedade civil" e quem são os seus "representantes". P.ex., eu vou passar a ter representantes nos conselhos gerais das universidades? se não, aonde é que eu sou menos "sociedade civil" que seja quem for que ir ter representantes? Se argumentarem que eu não sou "sociedade civil" porque trabalho numa empresa pública, reformulo a pergunta - a porteira do meu prédio vai passar a ter representantes nos conselhos gerais das universidades?

As crianças pertencem a alguêm (II)?

Ainda a respeito deste assunto, venho frisar mais um ponto:

N'A Arte da Fuga, Adolfo Nunes escreve "[m]as se as crianças não são propriedade dos seus pais, também não são, muito mais seguramente, propriedade da sociedade, da comunidade cientifica, seja lá o que isso for, ou das comissões especializadas de cientistas e psicólogos".

Mas essa analogia entre os que defendem o "direito" dos pais não quererem que os filhos tenham educação sexual na escola e os que defendem o "direito" da "sociedade" obrigar a que as crianças/jovens tenham educação sexual na escola tem uma falha: é que o segundo sistema não impede os pais de, em casa, tentarem incutir os seus próprios valores aos filhos e tentar contrabalançar os efeitos da educação sexual escolar; pelo contrário, o primeiro sistema impede a escola de dar matérias contrárias aos valores ensinados pelos pais em casa.

Quanto ao argumento que "[o] socialismo cria uma classe de super-cidadãos: aqueles que têm o direito de administrar a vida dos demais", resolve-se facilmente - é só o "plano de estudos" da educação sexual ser decidido por referendo, ou por uma "assembleia coordenadora de delegados de plenários de escola" ou coisa do género (e não por peritos)...

"The Furor in China is Everywhere"

Parece que há um grande descontentamento na China a propósito de uma caso de crianças raptadas para trabalhar em fábricas de tijolos (ou coisa assim). No Economist's View:

An email I received today:

Dear Prof. Thoma..., I have been deeply disturbed and distressed about the recent news from China. Although NYT has some reports on it:

For other western media coverage, see:

But for the English version of an interview with the reporter who helped to make the case public, see:

But the furor in China is everywhere. Ordinary people are deeply shocked and disillusioned at the government's inaction and indifference to basic human rights!!! I am so sad to see my own country come to this day, I cry every time I think of the poor kids and their parents, who have nowhere to seek justice. This is just the tip of the iceberg. Over the internet people are saying that such horrific abduction of people is everywhere. It is not a labor dispute. It is a reflection of a very sick society that would pursue wealth at all cost. I can't believe this is my country!

I am going to China soon and I will have chance to see more of people's reaction to it. The world can't stay silent on THIS! I'd like to hear your and your reader's opinion on it. My own impression of the central government is that they are not sincere in truly solving it. At least the governor of the ShanXi province has to be fired! The PM has to apologize to all the victims.

Saturday, June 23, 2007

As crianças pertencem a alguêm?

A respeito da discussão entre o Luis Lavoura, a Arte da Fuga e o João Miranda sobre a educação sexual e sobre quem é mais indicado para fazer o papel de "ditador benevolente" e decidir se as crianças/jovens devem aprender educação sexual nas escolas ou não:

Porque não resolver o problema pela raiz e tornar a decisão de assistir a essas aulas uma decisão da criança/jovem? Assim resolvia-se de vez a questão sobre quem é mais adequado para decidir por elas.

Como isso poderia ser feito? Uma solução simples era as aulas da educação sexual estarem abertas a todos os alunos, mas não haver controlo de faltas (nem informação da escola aos pais sobre se e a que aulas os filhos assistem). Assim, os alunos que não quisessem assistir a essas aulas poderiam ir fazer outra coisa qualquer - ou até poderia, à mesma hora, haver aulas alternativas cada qual com o seu programa (p.ex., uma organizada pela Associação para o Planeamento Familiar e outra por uma associação promotora da abstinência).

Friday, June 22, 2007

O Natal na Austrália

Nos comentários a este post do Fruits and Votes sobre o solisticio de Verão, "Alan" dá uma descrição curiosa do espirito de Natal na Austrália:

There is a not very serious theory that the cynicism with which Australians view politics (and everything else) is learnt as children. When even Christmas is plainly contrary to fact, something has to give.

All the cultural references involve snow, which most Australian children have never seen, and cold, which contrasts sharply with the old-scale century degree temperatures in the shade. It was worse a generation ago. People staggered through the blinding heat to consume a Christmas dinner that refused in any way to concede that it was summer.

Think spray-on snow ( a nasty plastic substance sprayed on windows to give the appearance of boreal frost) that often actually melts in the heat and gives off a nasty smell. Think about eating Christmas pudding when the temperature is such that merely moving can induce heat stroke. Think about Santa suffering an incredibly bumpy ride because he’s hitched his sleigh to mythical white kangaroos. The music goes: ‘Jinglebells, jinglebells, thump’ because the merry carollers pass out if they forget to drink enough water to keep hydrated.

Happily this clash of culture and climate has largely ended. It has given rise to Yuletide, an entirely secular festival when you guzzle in June all the northern hemisphere stuff that would render you totally insensible if you even looked at it in December. Naturally business is trying to take a real festival and turn it into an excuse for gifts and heavy consumer expenditure. Fits nicely into the long spending break between Easter and Christmas.

Ahmadinejad quer "varrer Israel do mapa"?

'Wiped off the Map' – The Rumor of the Century

So what did Ahmadinejad actually say? To quote his exact words in Farsi:

"Imam ghoft een rezhim-e ishghalgar-e qods bayad az safheh-ye ruzgar mahv shavad."

That passage will mean nothing to most people, but one word might ring a bell: rezhim-e. It is the word "regime." pronounced just like the English word with an extra "eh" sound at the end. Ahmadinejad did not refer to Israel the country or Israel the land mass, but the Israeli regime. This is a vastly significant distinction, as one cannot wipe a regime off the map. Ahmadinejad does not even refer to Israel by name, he instead uses the specific phrase "rezhim-e ishghalgar-e qods" (regime occupying Jerusalem).

So this raises the question.. what exactly did he want "wiped from the map"? The answer is: nothing. That's because the word "map" was never used. The Persian word for map, "nagsheh" is not contained anywhere in his original Farsi quote, or, for that matter, anywhere in his entire speech. Nor was the western phrase "wipe out" ever said. Yet we are led to believe that Iran's president threatened to "wipe Israel off the map." despite never having uttered the words "map." "wipe out" or even "Israel."

The Proof:

The full quote translated directly to English:

"The Imam said this regime occupying Jerusalem must vanish from the page of time."

Word by word translation:

Imam (Khomeini) ghoft (said) een (this) rezhim-e (regime) ishghalgar-e (occupying) qods (Jerusalem) bayad (must) az safheh-ye ruzgar (from page of time) mahv shavad (vanish from).

Thursday, June 21, 2007

Nota acerca da minha geração

Lendo esta noticia, ocorre-me que este texto poderia ter uma "adenda":

No nosso tempo, as mulheres já trabalhavam e ainda não tinha aparecido as modas do "trabalho em tempo parcial" ou das "licenças parentais" para cuidar dos filhos, e não nos fez mal nenhum!

[O.K., eu sou mau exemplo - a minha mãe era professora primária e tinha a tarde livre, mas penso que o que escrevi acima é verdadeiro para muita gente da minha geração]

Wednesday, June 20, 2007

Tigres e Dragões

Parece que anda para aí uma polémica, porque, num exame de História, Taiwan, Hong kong, Coreia do Sul e Singapura terão sido referidos como "os Tigres Asiáticos" - parece que, afinal, esses países são os "dragões", e "tigres" serão a Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas.

Sinceramente, essa dos "tigres" versus "dragões" parece-me um delirio, não de quem elaborou os exames, mas de que fez os manuais, e inventou essa distinção entre "tigres" e "dragões".

Veja-se os artigos da wikipedia Four Asian Tigers e Tigres asiáticos - aí Coreia do Sul, Tawian, etc. são claramente considerados os "tigres" (havendo também referencias aos "novos tigres" - Tailândia, India, etc.). E, fazendo uma busca pela Net, parece-me que "os quatro tigres" e "os quatro pequenos dragões" são usados indistintamente (parece que em coreano usa-se "tigres asiáticos" e em mandarim "pequenos dragões"). Claro que se pode argumentar que a wikipedia tem muitos erros, mas aqui trata-se de uma questão de terminologia, e penso que é de esperar que a terminologia usada por quem redige a wikipedia (tanto na versão portuguesa como na inglesa) seja a terminologia mais usual.

Ou seja, parece-me que o exame está bem, e que quem armou uma confusão foram os autores dos manuais, que inventaram uma terminologia que quase ninguém utiliza.

"Eutanásia" ou "suicidio assistido"?

Acerca da questão da "eutanásia", acho que se deveria deixar de falar em "eutanásia" mas sim em "suicídio assistido" (como escrevi nos comentários a este post do Blasfémias). Provavelmente dirão "pois, mais um sinal da obessão da extrema-esquerda pelo «politicamente correcto» - nos EUA querem transformar os negros em afro-americanos, aqui este quer transformar a eutanásia em suicídio assistido". Talvez seja isso, mas a mim parece-me que os dois conceitos são bastante diferentes: "eutanásia" significa "morte indolor" (penso que a tradução literal do grego é "óptima morte"); "suicídio assistido" significa... "suicídio assistido".

Nomeadamente, eu sou a favor da legalização do suicídio assistido, seja "indolor" ou não, e sou contra o homicídio, mesmo que "indolor". Exemplos concretos - a menos que tenham recebido autorização expressa do interessado para tal, sou contra um médico ou um familiar decidirem dar uma injecção letal a um doente em coma (uma forma de eutanásia); pelo contrário, se alguém pedir para ser morto, não através de um processo rápido e indolor, mas metendo-o dentro de um moedor de carne gigante e triturando-o durante 2 horas (algo que talvez não seja considerado eutanásia, mas é sem dúvida suicídio assistido), acho que tal deve ser perfeitamente legal (duvido que alguém queira morrer assim, mas, se alguém quiser, gostos não se discutem...).

Sunday, June 17, 2007

Gore e o Unabomber

O texto abaixo é uma citação d'"O Futuro da Sociedade Industrial", mais conhecido por o "Manifesto do Unabomber".

Uma coisa engraçada com o Unabomber/Ted Kaczynski é a mania de, em certos sectores de direita, fazer um paralelo entre ele e Al Gore (porque não com Thomas Jefferson, que também não gostava muito de indústria e de cidades, e, tal como Kaczynski e ao contrário de Gore, era pró-individualista e anti-estatista?). Mas fará sentido tentar denegrir Gore "colando-o" a Kaczynski? Afinal, Gore foi um destacado membro da Administração Clinton, que, de Waco à Sérvia, passando pelo Iraque, foi responsável por muitos mais mortos que Kaczynski (que matou apenas 3 pessoas). Ou seja, a analogia Gore-Kaczynski até deveria ser mais desprestigiante para o segundo do que para o primeiro.

A explicação que vejo é que as mortes de que Gore foi cúmplice (nada que se compare com a administração seguinte, claro) são o tipo de mortes que os conservadores até não têm objecções de maior (se calhar, nalguns casos, até acham que o mal foi terem sido poucas) - bem, os conservadores talvez não mandassem o BATF atacar uma seita adventista em busca de armas ilegais, mas duvido que tivessem problemas em mandar a DEA contra uma seita new age ou rastafariana em busca de drogas ilegais (quanto aos liberais/"libertarians" recorrerem também a essa analogia, suspeito que seja por mimetismo).

Friday, June 15, 2007

Continuando com os meus desafios ao "outro lado da barricada"

O que é que os bloggers liberais acham deste texto (acho que pode interessar, nomeadamente, ao António C. Amaral [que, efectivamente, me deu xeque-mate instantâneo])?

As pessoas de esquerda tendem a detestar tudo aquilo a que se associe uma imagem de força, supremacia e êxito. Odeiam os Estados Unidos, detestam a civilização ocidental, abominam os machos brancos, repudiam a racionalidade. Está visto que as razões por elas evocadas para detestarem o Ocidente, etc. não correspondem aos seus motivos reais. Dizem que detestam o Ocidente porque é belicista, imperialista, sexista, etnocentrico e por aí fora, mas quando os mesmo defeitos surgem nos países socialistas ou nas culturas primitivas, encontram logo maneira de os desculpar, ou, no melhor dos casos, admitindo, a contragosto, que tais defeitos existem, ao passo que os apontam entusiasticamente (exagerando-os amiúde imenso) quando surgem na civilização ocidental. É portanto evidente que estes defeitos não constituem os motivos reais para essas pessoas odiarem os Estados Unidos e o Ocidente. Odeiam-nos por serem fortes e terem êxito.

Palavras como “auto-confiança”, “independência de espírito”, “espírito de iniciativa”, “voluntarismo”, “optimismo”, etc. desempenham fraco papel no vocabulário (…) de esquerda. O homem de esquerda é anti-individualista e pró-colectivista. Quer que a sociedade resolva os problemas de todas as pessoas por elas, que cuide delas. No fundo, tem pouca confiança na capacidade de resolver os seus problemas pessoais e de satisfazer as suas necessidades. O homem de esquerda é contrário à ideia de competição porque no fundo sente-se um vencido.

(…)


Consideremos o hipotético caso de um homem que pode ter tudo, bastando-lhe apenas desejá-lo. Esse homem terá sem dúvida poder, mas desenvolverá sérios problemas psicológicos. Começara primeiro por divertir-se imenso, caindo aos poucos num tédio e numa desmoralização agudos, podendo até entrar em depressão clínica. A história mostra-nos que as aristocracias ociosas tendem a tornar-se decadentes. O mesmo não se aplica às aristocracias guerreiras, obrigas a lutar para preservarem o poder (…)

Para evitar sérios problemas (…), o ser humano precisa de objectivos cuja realização exija esforço (…)

[P]ara a maior parte das é através do processo de… ter um objectivo, fazer um esforço autónomo para e atingir o objectivo autoproposto… que se alcançam a autoestima, a auto-confiança e o sentido de poder.

(…)

Em resposta aos argumentos desta secção, dir-se-á certamente que a sociedade tem (…) de dar às pessoas oportunidades de crescerem através do processo de aquisição de poder. Mas, se for a sociedade a constituir essa oportunidade, oferecendo-a, o valor desta fica anulado. As pessoas precisam de encontrar e criar as suas próprias oportunidades. Enquanto o sistema lhes der oportunidades, isso significa que as mantém seguras à trela. Para alcançarem a autonomia, será necessário livrarem-se dessa trela.

(…)


Se pedissem às pessoas de esquerda para fazerem uma lista de todas as coisas que estão mal na sociedade e depois acedessem a todas as suas reivindicações, podemos prever sem risco que dentro em pouco a maioria dentre eles já teria encontrado outras razões de queixa, uma qualquer nova “injustiça” a corrigir. Tudo isto, mais uma vez, porque o homem de esquerda é menos motivado pela grande miséria que engendram os males da sociedade do que pela necessidade de satisfazer o seu instinto de poder impondo aos outros as suas ideias.


Já agora, uma espécie de quizz: quem é o(a) autor(a): a) Margaret Tatcher; b) Hillary Clinton; c) Ronald Reagan; d) Al Gore; e) outro; ou, em alternativa, o quizz ao contrário - quem acham, de certeza, que não é o autor?

[claro que a questão é armadilhada, mas não se esperaria outra coisa, não?]

Thursday, June 14, 2007

Propriedade e "natureza humana"

Ricardo Alves e Rui Albuquerque discutem se a propriedade privada é natural, a propósito, entre outras coisas, de Rui Albuquerque dizer que «[r]etirar propriedade aos seus legítimos possuidores sem o seu consentimento, é contrário ao direito natural e violenta a natureza humana».

A mim parece-me que, quer Ricardo Alves, ao pôr em causa o carácter "instintivo" do desejo de propriedade privada, quer Rui Albuquerque, a contra-argumenter que a propriedade é efectivamente instintiva, estão a deixar de lado uma coisa - é que, quer consideremos a propriedade como "natural" ou não, basta ver um documentário sobre a natureza (p.ex., uma disputa territorial entre dois jaguares) para concluirmos que "retirar propriedade aos seus possuidores sem o seu consentimento" é do mais natural e instintivo que há (logo, não será contrário ao "direito natural" nem violentará a "natureza humana").

Ainda a respeito da propriedade ser natural, como defende Rui Albuquerque, a mim há uma coisa que me parece clara - a "propriedade absentista" (i.e., a propriedade que não é para uso pessoal e directo do proprietário) não é natural. Mesmo que deiamos razão a Rui Albuquerque quando este refere a organização territorial de outros animais, parece-me que o equivalente à "grande propriedade privada" é inexistente - ou seja, temos a "pequena propriedade privada" (os territórios/recursos que cada individuo utiliza exclusivamente para si) e a "grande propriedade colectiva" (os territórios/recursos do "bando"), mas não "grande propriedade privada" (territórios/recursos controlados por um individuo, mas utilizados por vários) - p.ex., há uma esécie de "propriedade" nos ninhos de cegonhas (cada casal tem o seu, que se mantém durante anos), mas, que se saiba, não há "cegonhas-senhorias" e "cegonhas-inquilinas" (eventualmente a pagar um aluguer em ratos pelo uso do ninho...).

Poder-se-á argumentar se, nos animais sociais, o "chefe da matilha" não será o equivalente a um "grande proprietário", que "possui" o território do bando, mas acho que não - ao contrário, digamos, de um empresário, que manda na empresa porque é o dono dela, um "chefe de matilha" (ou alpha male, ou como lhe queiramos chamar...) é o "dono" do território do bando porque manda nele; ou seja, será algo mais parecido com o feudalismo ou o "modo de produção asiático" (ou, já agora, com os antigos regimes comunistas), em que o controlo sobre os recursos económicos deriva do poder politico/social do que com um sistema de propriedade individual*.

Finalmente, no caso particular da propriedade do solo, creio que o que era usual em muitas sociedades até muito recentemente não era a propriedade privada, mas a propriedade colectiva da aldeia ou do clã - quer as aldeias que possuíam terras comunitárias e as distribuíam periodicamente em parcelas pelos seus membros (como no mir russo ou na marca germãnica), quer os domínios aristocráticos hereditários e inaleanáveis eram mais formas de propriedade "colectiva" (seja da aldeia ou da dinastia senhorial) do que "privada".

*aliás, talvez o grande disparate do marxismo tenha sido a sua tese que é a infra-estrutura económica que determina a super-estrutura politica e social, quando na maior parte das sociedades humanas foi ao contrário.

Sessão fotográfica (XXI) - ainda acerca de becos e vielas

















Será que o troço final da Rua do Norte pode ser considerado um "beco", ou será que o facto de ser apenas o fim de uma rua o desqualifica como tal? O que é que os leitores acham?

E, por falar em becos e afins, mais umas típicas vielas portimonenses:




Tuesday, June 12, 2007

Sessão fotográfica (XX)

Em Portimão também há arcos:



Para não falar nas escadarias para passar de uma rua para outra, essenciais em qualquer "zona antiga" que se preze:

















As "zonas antigas" das cidades do Norte, se calhar, até são mais imponentes e, se calhar, mesmo mais antigas, mas nós não fazíamos as nossas casas de granito, mas de adobe, que se desgastava mais (aliás, o nome coloquial da zona antiga de Portimão é "ruas da caca seca") - logo, nas ruas e bairros antigos não há casas muito, muito, antigas: foram caindo, sendo reconstruídas, etc. (e, em 1755, 34 casas foram abaixo); mas, mesmo que as casas não tenham mais que 100 anos (não faço ideia se têm ou não), as ruas são antigas e, sobretudo, assa-se peixe e estende-se a roupa na rua (inclusive no rés-do-chão - quem observar atentamente pode ver o estendal, no lado direito da rua), pormenores fundamentais para considerarmos uma rua como "zona antiga" (para não falar nos gatos dos telhados). Quanto às tascas com cartazes "há caracóis e caracoletas", reconheço que isso não será significativo, já que penso que esse prato vende-se tanto nas zonas "velhas" como "novas" das cidades, em qualquer parte do país.

Mas, vou conceder um ponto - talvez não haja becos em Portimão. Eu acho que há um, e conheço um carteiro que também acha que há um, mas como os nossos becos não coincidem e cada um acha que o do outro não é um beco (o "meu" beco é o fim da Rua do Norte, o dele é a Travessa de S. José*), podemos considerar que não há nenhum.

* ninguém está a perceber nada, pois não?

Monday, June 11, 2007

Tecnologia e Totalitarismo


A mim, parece-me que, se há movimento que nunca poderia ser "totalitário" mesmo que quisesse é exactamente o "anti-tecnológico" (e o ecologismo radical, que descende desse) - o "totalitarismo" requer um Estado centralizado, e tal é impossível sem a tecnologia moderna.

Aliás, historicamente, o reforço do poder do Estado desenvolveu-se em associação com o progresso tecnológico (embora penso que as tecnologias da "3ª revolução industrial", sendo mais descentralizadas - PC, telemóvel, etc. - devem estar a inverter a tendência): a invenção da artilharia foi o principal instrumento que permitiu aos reis do pós-Idade Média dominar as revoltas locais contra o seu poder (já que a artilharia, ao contrário de setas ou espadas, não é coisa que muita gente tenha em casa). E os grandes totalitarismo do século XX, a URSS e Alemanha nazi eram do mais entusiastas da tecnologia moderna que havia - a URSS de uma forma mais coerente, o nazismo com uma estranha combinação de desprezo pelo pensamento racional e lógico e entusiasmo pela tecnologia que este produziu.

Poder-se-á contestar a minha afirmação de que "o totalitarismo requer um Estado centralizado" - afinal, mesmo que a tecnologia moderna desaparecesse, e com ela o Estado moderno e a sociedade de massas, o resultado poderia ser uma colecção de "micro-totalitarismos": um conjunto de pequenas comunidades isoladas umas das outras, cada qual massacrando os seus "dissidentes" da forma mais em acordo com as tradições locais. Talvez, mas penso que um "totalitarismo" do qual se pode facilmente fugir não merece essa designação.

Claro que há muitas boas razões para defender a tecnologia moderna - sem ela, a maior parte da população mundial morreria e os sobreviventes iriam ter uma vida bastante difícil (chamar a isto "boas razões" é eufemismo - "excelentes razões" é mais correcto); mas, em termos de "liberdade", se calhar até haveria mais sem ela.

Quanto ao argumento de Florman, de que "pity and disdain for the individual citizen is an essential feature of antitechnology", a mim parece-me exactamente o contrário - acho que os críticos da tecnologia até costumavam argumentar que esta aumentava o poder do Homem enquanto membro da sociedade, mas diminuía o poder do homem enquanto individuo (p.ex., a maquinização fazia com que o "Homem" - i.e., a Humanidade - fosse capaz de fazer mais coisas, produzir mais, etc. que antigamente, mas, ao mesmo tempo, reduzia o poder e a autonomia de cada homem concreto, em comparação com os sistemas artesanais).

Finalmente, quanto à tese de que "each new mass movement carries within itself the seeds of a new totalitarianism", é das tais teses que é impossível de refutação (mesmo que eu apresentasse aqui uma lista de "movimentos de massas" - e não falo necessariamente no sentido politico - que não deram origem a nenhum totalitarismo, poderiam sempre retorquir "o potencial - the seeds - para o totalitarismo estava lá, só que não se concretizou!"), logo também é impossível de discutir.

Saturday, June 09, 2007

Já agora, mais uma fotografia (ou "Ilustração retroactiva a post anterior")

Estes são a Marta e o filho:

Comentário recuperado

Sessão fotográfica (XIX) - molhe



















A minha zona favorita para passear.

Sessão fotográfica (XVIII) - zona ribeirinha



















Na minha opinião, a zona mais feia de Portimão, mas gostos não se discutem.

Sessão fotográfica (XVII) - zona antiga

Sessão fotográfica (XVI) - Boavista



















Aqueles cartazes no canto inferior direito foram colados com a (talvez) melhor cola que há - farinha para bolos + soda caústica.

Sessão fotográfica (XV) - Pedra Mourinha



















Com o Vale Lagar ao fundo.

Sessão fotográfica (XIV) - Aldeia Nova da Boavista



















Esta é a Rua do Operário, paralela à Rua da Liberdade e à Rua da União e perpendicular à Rua do Povo e à Rua da Esperança.

Sessão fotográfica (XIII) - Largo Gil Eanes



















Quanto tinha 15 anos, às vezes íamos para aqui quando não tínhamos aulas - hoje ficaríamos presos numa aula de substituição.

Sessão fotográfica (XII) - Bairro Independente, Vale Lagar





































Eu contrário de muita gente, eu sou um apreciador desta arquitectura típica das cooperativas de habitação (ou dos tais "prédios da policia" lá atrás) - não sei se é a sensação de espaço...

Friday, June 08, 2007

Sessão fotográfica (XI)



















A minha escola (uma delas). O Vasco Pulido Valente é que não deve gostar do nome.

Sessão fotográfica (X) - Estrada de Alvor/Três Bicos

Sessão fotográfica (IX) - lembrou-me o meu template

Sessão fotográfica (VIII) - um descampado



















Com a beleza das flores selvagens dos campos do Sul: cardos, malmequeres-bravos/pompilhos, etc. (bem se calhar também as há no Norte...)

Sessão fotográfica (VII) - mais uma rua

Sessão fotográfica (VI) - mais Bairro Pontal


Sessão fotográfica (V) - Bairro Pontal, "prédios da polícia"

Sessão fotográfica (IV)



















A casa onde vivi de 1978 a 1991 (e, intermitentemente, até 1995). A varanda era bastante útil para a falecida Blackie (e os seus antepassados) ter mais espaço vital (não apenas a varanda, mas também todas as varandas, telhados e quintais do quarteirão) do que o apartamento aonde passou os últimos 2/3 da sua vida (embora isto talvez seja uma questão polémica).

Sessão fotográfica (III) - Bairro Operário


Tanto as fotografias do Bairro Operário como do Bairro dos Pescadores têm o handicap de não reproduzirem o cheiro a flores de laranjeira.

Sessão fotográfica (II) - Bairro dos Pescadores

Sessão fotográfica (I)



















Hoje vou mudar de tom e dedicar-me a postar fotografias de Portimão. Não há qualquer critério para eu pôr fotografias de uns sítios e de outros não - são mesmo os que me apeteceu.

Estas casinhas (na estrada de Portimão para a Rocha) são o Estrumal.

The Redirection

Um artigo de 5 de Março da revista New Yorker. Visto retrospectivamente, são interessantes as passagens sobre o Líbano:

The United States has also given clandestine support to the Siniora government, according to the former senior intelligence official and the U.S. government consultant. “We are in a program to enhance the Sunni capability to resist Shiite influence, and we’re spreading the money around as much as we can,” the former senior intelligence official said. The problem was that such money “always gets in more pockets than you think it will,” he said. “In this process, we’re financing a lot of bad guys with some serious potential unintended consequences. We don’t have the ability to determine and get pay vouchers signed by the people we like and avoid the people we don’t like. It’s a very high-risk venture.”

American, European, and Arab officials I spoke to told me that the Siniora government and its allies had allowed some aid to end up in the hands of emerging Sunni radical groups in northern Lebanon, the Bekaa Valley, and around Palestinian refugee camps in the south. These groups, though small, are seen as a buffer to Hezbollah; at the same time, their ideological ties are with Al Qaeda.


During a conversation with me, the former Saudi diplomat accused Nasrallah of attempting “to hijack the state,” but he also objected to the Lebanese and Saudi sponsorship of Sunni jihadists in Lebanon. “Salafis are sick and hateful, and I’m very much against the idea of flirting with them,” he said. “They hate the Shiites, but they hate Americans more. If you try to outsmart them, they will outsmart us. It will be ugly.”


Alastair Crooke, who spent nearly thirty years in MI6, the British intelligence service, and now works for Conflicts Forum, a think tank in Beirut, told me, “The Lebanese government is opening space for these people to come in. It could be very dangerous.” Crooke said that one Sunni extremist group, Fatah al-Islam, had splintered from its pro-Syrian parent group, Fatah al-Intifada, in the Nahr al-Bared refugee camp, in northern Lebanon. Its membership at the time was less than two hundred. “I was told that within twenty-four hours they were being offered weapons and money by people presenting themselves as representatives of the Lebanese government’s interests—presumably to take on Hezbollah,” Crooke said.
The largest of the groups, Asbat al-Ansar, is situated in the Ain al-Hilweh Palestinian refugee camp. Asbat al-Ansar has received arms and supplies from Lebanese internal-security forces and militias associated with the Siniora government.


In 2005, according to a report by the U.S.-based International Crisis Group, Saad Hariri, the Sunni majority leader of the Lebanese parliament and the son of the slain former Prime Minister—Saad inherited more than four billion dollars after his father’s assassination—paid forty-eight thousand dollars in bail for four members of an Islamic militant group from Dinniyeh. The men had been arrested while trying to establish an Islamic mini-state in northern Lebanon. The Crisis Group noted that many of the militants “had trained in al-Qaeda camps in Afghanistan.”

According to the Crisis Group report, Saad Hariri later used his parliamentary majority to obtain amnesty for twenty-two of the Dinniyeh Islamists, as well as for seven militants suspected of plotting to bomb the Italian and Ukrainian embassies in Beirut, the previous year. (He also arranged a pardon for Samir Geagea, a Maronite Christian militia leader, who had been convicted of four political murders, including the assassination, in 1987, of Prime Minister Rashid Karami.) Hariri described his actions to reporters as humanitarian.

In an interview in Beirut, a senior official in the Siniora government acknowledged that there were Sunni jihadists operating inside Lebanon. “We have a liberal attitude that allows Al Qaeda types to have a presence here,” he said. He related this to concerns that Iran or Syria might decide to turn Lebanon into a “theatre of conflict.”

The official said that his government was in a no-win situation. Without a political settlement with Hezbollah, he said, Lebanon could “slide into a conflict,” in which Hezbollah fought openly with Sunni forces, with potentially horrific consequences. But if Hezbollah agreed to a settlement yet still maintained a separate army, allied with Iran and Syria, “Lebanon could become a target. In both cases, we become a target.”

The Bush Administration has portrayed its support of the Siniora government as an example of the President’s belief in democracy, and his desire to prevent other powers from interfering in Lebanon. When Hezbollah led street demonstrations in Beirut in December, John Bolton, who was then the U.S. Ambassador to the U.N., called them “part of the Iran-Syria-inspired coup.”

Um mistério da Guerra dos Seis Dias

A 8 de Junho de 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, a aviação israelita atacou um barco de guerra (ou, talvez mais exactamente, um barco-espião) norte-americano (o USS Liberty) provocando a morte de 34 marinheiros.

Ainda hoje não se sabe bem o que aconteceu - a versão oficial israelita de que o confundiram com um barco egípcio é pouco credível: a bandeira norte-americana é muito diferente da egípcia e as inscrições do barco eram em caracteres latinos (e o ataque terá ocorrido num dia soalheiro); mas, por outro lado, porque razão Israel atacaria deliberadamente o seu principal aliado?

Curiosamente, os dois maiores ataques (em termos de mortes) a barcos da marinha norte-americana depois da II Guerra Mundial foram ambos feitos por países "amigos" (à época) - Israel neste caso, e o Iraque no caso de outro barco em 1987 (o USS Stark).

Wednesday, June 06, 2007

"Perigos da Internet" ou alarmismo?


A revista afirma ter "apanhado" um alegado pedófilo em poucos minutos, quando uma jornalista da Sábado entrou numa "sala de conversação" num dos portais da Internet.

Sob a identidade de "Andreia Coelho", uma suposta jovem de 12 anos com a alcunha de Acoelha, a jornalista foi contactada seis minutos depois de ter entrado na "sala de conversação" por um homem, de 31 anos.

O homem seduziu a "jovem de 12 anos", combinou um encontro sexual à porta do hospital pediátrico D. Estefânia em Lisboa e compareceu.

Posteriormente contactado pela Sábado, o homem admitiu ter falado com uma rapariga "chamada Andreia" através do Messenger (programa de comunicações instantânea entre utilizadores da Internet) e afirmou que não "tinha acontecido nada" e "que não sabia a idade dela", o que é desmentido pelas conversas que manteve e nas quais se inteirou da alegada idade da interlocutora.

A mim, este caso até não me parece muito assustador - afinal, não é o caso padrão (existirão muitos na realidade?) do pedófilo que se faz passar por um menor num chat para conhecer crianças. Pelo artigo, parece-me que ele disse logo a sua idade e deu a entender os seus objectivos. E, se no mundo real, existirem mesmo raparigas de 12 anos dispostas a (sabendo ao que vão) terem "encontros" com homens de 31 anos, terão-os, quer conheçam esses homens em chats ou na rua (atenção: não estou a dizer que sexo consentido com raparigas de 12 anos deva ser legal! Estou apenas a relativizar a ideia da perigosidade dos chats).

Ainda a respeito desses chats, fala-se muito que os pais devem controlar os sites que os filhos consultam na Internet. Não será mais eficaz os pais dizerem aos filhos "Se marcares um encontro com alguém que conheças na Net, marca-o para um local público"?; é verdade que este poderá ter o efeito negativo de fazer os jovens acharem normal marcar encontros com desconhecidos e, assim, incentivar essa prática; mas quais são as alternativas? Controlar todo o que os filhos fazem na Net deve ser sufocante para as crianças (eu, pelo menos, se houvesse Internet no meu tempo, detestaria que os meus pais fossem ver o que fazia) e, de qualquer forma, não é praticável; e dizer "não marques encontros com pessoas que não conheças" dificilmente será obedecido (isto é, uma criança/jovem que, à partida, esteja numa de marcar encontros pela Net não irá obedecer a essa proibição, e os outros não precisam dela).

Nota: eu não telho filhos, não tenho perspectivas de tal (penso que nenhuma mulher no seu perfeito juizo irá querer ter filhos meus) e só estive uma vez na vida numa sala de chat; ou seja, o que eu digo vale o que vale...

Tuesday, June 05, 2007

Re: O anti-capitalismo

[via 19 meses depois]

No Diário Económico, João Marques de Almeida escreve:"É o capitalismo que permite o pluralismo de opiniões, a liberdade individual e, naturalmente, a democracia pluralista (...). Todos os regimes totalitários do século XX, desde a Alemanha nazi à União Soviética, foram impostos por movimentos profundamente “anti-capitalistas”. Ou seja, a democracia é o resultado do capitalismo, e não o contrário. "

Se se limitasse à primeira parte, JMA até poderia estar empiricamente correcto - é um facto que, não sendo a inversa verdadeira, todos os regimes (mais ou menos) democráticos da era moderna também foram (mais ou menos) capitalistas e que os movimentos que pretendem/pretendiam conjugar o colectivismo económico com a liberdade politica (autogestionários, eurocomunistas, trotskistas, comunistas de conselhos, anarquistas, etc.) nunca tiveram sucesso por aí além. Eu acho que isso não é uma fatalidade, mas não é assunto que me apeteça discutir neste momento.

Mas JMA não resistiu a ficar por aí e a Lei de Godwin (ou melhor, um equivalente para textos em papel) entrou em acção, indo chamar o exemplo da Alemanha nazi.

Ora, se o nazismo era "anti-capitalista", então também, por maioria de razão, o seriam a generalidade dos partidos socialistas e social-democratas da Europa à época, que até teriam programas ainda mais "anti-capitalistas" que os nazis; mas, se vamos considerar o socialismo europeu como "anti-capitalista", todo o raciocínio de JMA cairia por terra - afinal, assim teriamos um exemplo duradouro de coexistência entre "anti-capitalismo" e democracia. Claro que se pode argumentar que esses partidos socialistas, quando chegaram ao poder, não adoptaram todo o seu programa, mas o mesmo se pode dizer do Partido Nazi.

Falando de uma forma mais geral, os defensores da ligação entre capitalismo e democracia caiem facilmente nesse duplo critério: quando se limitam a dizer que não há democracias não-capitalistas, é verdade que estão factualmente certos; no entanto, muitas vezes não ficam por aí e tentam demonstrar que não há (ou que há poucas) ditaduras capitalistas, argumentando que muitas "ditaduras capitalistas" não são verdadeiramente "capitalistas", já que terão muita intervenção do Estado na economia; só que assim, pelo mesmo critério, poderemos facilmente apresentar "democracias não-capitalistas", desde a Índia ao "modelo social europeu" (já agora, ver os comentários a este post no Economist's View).

Monday, June 04, 2007

"Culto da unidade"?

Henrique Raposo escreve "[s]empre pensei que uma das razões para o sucesso da alma esquerdista entre nós é esta tendência portuguesa para o consenso, para a unidade de propósito, para se chegar a um único “politicamente correcto” o mais rapidamente possível. À esquerda, não se debate ideias. Aponta-se apenas um inimigo e um destino a seguir. Pode haver muitas famílias, mas há sempre um inimigo impuro que deve ser abatido e que dá o propósito unificado à esquerda. Quem se desviar desse propósito é necessariamente um impuro, um traidor. Este culto da unidade é aquilo que sempre me afastou da esquerda."

Pois,a mim parece-me que é exactamente ao contrário (se estou a perceber bem o que HR diz) - a direita é que tem tendência para fazer "frentes unitárias" (embora seja um partido de esquerda que normalmente usa essa terminologia), e a esquerda é que se divide em facções distintas por tudo e por nada. Veja-se as eleições presidenciais: normalmente só há um candidato de direita e um monte de candidatos de esquerda; ou compare-se as lutas internas nos partidos de direita com os de esquerda: nos de direita, quando estão no poder unem-se em torno do chefe e entram em polémicas internas quando vão para a oposição; os de esquerda (com a excepção dos comunistas ortodoxos) normalmente estão sempre envolvidos em polémicas internas, quer estejam no governo ou na oposição (ou até mais quando estão no governo).

Aliás, a árvore genealógica da esquerda e da direita até tem sido ao contrário - à esquerda, o que predomina é a tendência para as ideologias se sub-dividirem em vários ramos: anarquistas vs. marxistas; revolucionários vs. social-democratas; ultra-esquerdistas vs. leninistas; trostskistas vs. estalinistas; trotskistas-mandelistas vs. trotskistas-morenistas, etc (ou, indo às origens, mal a esquerda tinha surgido, e já havia girondinos, jacobinos, hebertistas, enragés...). Pelo contrário, à direita, a tendência tem sido ao contrário - para a fusão entre liberalismo e conservadorismo.

E até faz sentido que a direita seja mais "unitária" que a esquerda - a direita, quase por definição, é pragmática e "realista" (creio que era o Burke que dizia algo como "não temos outra responsabilidade perante o nosso tempo senão a de aceitarmos o nosso tempo"), logo é natural que façam mais facilmente compromissos e tenham a atitude de "vamos concentrar-nos em objectivos práticos e não perder muito tempo a discutir filosofia"; pelo contrário, a esquerda é "idealista", quer mudar a sociedade para melhor ("melhor", claro está, na nossa opinião) - alguém de esquerda tende a ver-se como "um lutador contra as injustiças do mundo", logo temos mais dificuldade em aceitar compromissos, acordos, cedências, etc.

Se calhar até é verdade que há mais pluralismo dentro de organizações de direita do que de esquerda, mas isso é sobretudo porque à esquerda há mais a tendência para quem não concorda com a linha geral da organização ir criar uma nova organização ao lado.