Monday, April 07, 2008

Responsabilidade, culpa ou o que lhe queiram chamar




É verdade que não é lá muito rigoroso fazer comparações entre posts escritos por pessoas diferentes (e em blogs diferentes). No entanto, parece-me haver uma tendência entre a direita blogosférica (ou a direita em geral) para, a respeito das cumplicidades entre o Estado e algumas empresas dizer "a culpa não é das empresas, que se limitam a jogar as regras do jogo"; quando se fala na suposta "subsidio-dependência" dos moradores dos bairros pobres, raramente acrescentam "a culpa não é dessas pessoas, que se limitam a jogar as regras do jogo".

Outra coisa: quando se diz que a criminalidade é causada pela pobreza ou pela "sociedade", cai logo o Carmo e a Trindade, que se está a esquecer a "responsabilidade individual" ou até o "livre-arbitrio"! Raramente ouço/leio reacções dessas quando alguém diz que "as empresas se limitam a jogar as regras do jogo".

4 comments:

Anonymous said...

Pois, pensei isso mesmo. Mas também não me parece que o segundo post seja por princípio contraditório com a tese "sistémica". Afinal, com uma economia mais próspera, haveria mais incentivos para uma maior responsabilização pessoal dos habitantes dos bairros pobres.

Anonymous said...

Só uma questão:

A criminalidade dos habitantes dos bairros pobres é um facto (roubos, agressões, etc.).

Mas poderemos considerar como crime empresas privadas que fazem negócios com o estado? Aí já tenho algumas dúvidas. Acho que não. A única razão que vejo seria considerar ilegítima a aquisição dos meios do estado. Ora, se assim fosse (se existisse uma co-responsabilização), teríamos de considerar um dever as empresas a informarem-se sobre a origem do dinheiro dos clientes-empresas privados. Algo utópico, parece-me.

Se não podemos falar em crime, então acho que a comparação dos dois posts (além dos autores) é injusta pois compara coisas diferentes.


Nota: lembrei-me agora do filme Lord of War. Creio que o comerciante (e que originou o filme) foi detido o mês passado.

Miguel Madeira said...

"Mas poderemos considerar como crime empresas privadas que fazem negócios com o estado?"

Eu não estava a considerar tal um crime. Estava apenas a explorar o raciocínio "Se as condições exteriores incentivam um individuo a cometer uma dada acção, quem é o responsável por essa acção, o individuo ou o «sistema»?" (claro que, por norma, esta questão só se levanta quando falamos de acções moralmente reprováveis, sejam crimes ou não)

Miguel Madeira said...

Além de que a questão do crime foi introduzida posteriormente à comparação dos dois posts - quando comparei os dois posts (nos três primeiros paragrafos), comparei os negócios com o Estado (e os alegados tráficos de influências relacionados) com a alegada subsidio-dependencia de alguns pobres.

(o último paragráfo até foi algo que me lembrei uns segundos depois de escrever o post pela primeira vez)