Tuesday, June 26, 2012

Isto fará sentido?


Esta banda desenhada parece partir de um pressuposto: que as pessoas mais dadas a inventar novas tecnologias coincidem com as pessoas que gostam de viver rodeadas de novas tecnologias.

Isso fará sentido se a pulsão de inventar partir do "lado da procura" - como alguém gostaria de ter acesso a uma dada tecnologia que ainda não existe, vai tentar inventá-la.

Mas, e se a pulsão de inventar do vier do "lado da oferta", isto é, sobretudo da vontade de enfrentar desafios intelectuais? Aí, até puderemos esperar o cenário contrário - que o sonho dos potenciais inventores seria encontrarem-se numa situação de tecnológica atrasada (uma variante clássica pode ser ir parar a uma ilha deserta em resultado de um naufrágio), com montes de problemas para resolver e em que seja necessário recorrer a truques à MacGyver, como construir um reactor nuclear a partir de um relógio com ponteiros fluorescentes.

Monday, June 25, 2012

Critérios de admissão às Olimpíadas

The Neandertal Olympics?, por Razib Khan:

What happens is a nation (e.g., China?) reconstructs a Neandertal individual from the sequence in the public domain as well as segments from living human beings. Do they get to compete as power-lifters? This might seem like a crazy question, but I’m not totally unconvinced that it will be just academic within our lifetime.

Sunday, June 24, 2012

Helena Octávia Machado Matos

uns tempos eu escrevia que:

Um "tema de post" típico de Helena Matos é o "Anda tudo indignado com [determinado assunto];...

Por norma, essas "enormes indignações" ou "bolhas de indignação" que contesta são sobre assuntos que ninguém está a ligar senão ela... 
 Hoje, a respeito do ex-presidente do Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo, ela escreve "Digamos que a sua vida  pessoal era mais ou menos como a daquele outro bem mais mediático bispo que se anda a banhar nas águas nao sei donde mas bem menos comentada".

Eu confesso que não faço a mínima ideia de quem seja esse "bem mais mediático bispo" que se anda a banhar algures e cuja vida é muito comentada (a Helena Matos deve ler jornais, revistas e sites muito diferentes dos meus).

Saturday, June 23, 2012

O nome daquela guerra que houve de 1861 a 1865, nos territórios a norte do México

Este post do CN fez-me lembrar de uma questão - qual o melhor nome para aquela guerra que houve a norte do México e a sul do Canadá, opondo um governo liderado por Abraham Lincoln a outro liderado por Jefferson Davis?

Eu desde sempre que a vi referida como "Guerra da Secessão" (nomeadamente naqueles livros de divulgação mais ou menos juvenil da Verbo), provavelmente por influência francesa. Ultimamente, já aparece muita gente a falar em "Guerra Civil Americana". Dos vários nomes usados, qual será o melhor?

- "Guerra Civil" - este tem o problema de frequentemente "guerra civil" ter a conotação de "dois governos em luta pelo mesmo território", o que não era o caso (a Confederação não tinha por objectivo governar o Massachusetts). É verdade que não seria o único caso de uma guerra de secessão ser chamada "guerra civil", como a Guerra Civil do Congo (embora aí fosse confuso, já que algumas das facções rebeldes eram movimentos separatistas mas outras tinham mesmo como objectivo substituir o governo nacional, e políticos como Tshombé alternaram, conforme o vento, entre lideres separatistas e lideres "nacionais"), a Guerra Civil da Nigéria (embora aí seja mais corrente "Guerra do Biafra") ou mesmo a Guerra Civil Jugoslava (uma guerra envolvendo vários países que já haviam sido reconhecidos internacionalmente e movimentos separatistas de 1º e 2º grau).

- "Guerra entre os Estados" - este tem o problema que não foi efectivamente uma guerra entre os Estados - o Mississipi, a Geórgia, etc. estavam em guerra contra os "Estados Unidos da América", não contra cada um dos estados nortistas individualmente (pondo as coisas de uma maneira simples - o seu inimigo era o exército federal, não a Guarda Nacional de Rhode Island)

- "Guerra da Independência Sulista" - tecnicamente estará correcto, ainda que se possa argumentar que "Guerra da Independência" tem uma conotação "positiva" que retira neutralidade descritiva ao nome

- "Guerra da Agressão Nortista" - se o anterior não tem neutralidade descritiva, este ainda menos; ainda mais que é discutível quem foi o "agressor": afinal, a guerra começou com o exército sulista a atacar uma fortaleza (no Sul) controlada por tropas de União (o contra-argumento poderá ser que a não-retirada das forças militares da União após o Sul ter proclamado a independência equivale a uma agressão)

- "Guerra da Secessão" - ainda é o melhorzinho, não?

Friday, June 22, 2012

O emprego e os anos 50/60

O Ricardo Campelo Magalhães afirma que, nos EUA, neste momento a população empregada está ao mesmo nível que nos anos 50/60; a Priscila Rêgo e o João José Cardoso respondem e o RCM contra-responde.

Independentemente das críticas e contra-criticas que foram feitas de parte a parte, quero notar uma coisa (ou várias) - além de o emprego estar ao mesmo nível, os salários reais são provavelmente muito mais altos; e a produtividade também é muito maior; e se haver erros nas contas, provavelmente são para baixo, porque é sempre díficil apanhar nas estatísticas o aumento do nível de vida provocado pela inovação tecnológica.

E se fizermos a comparação, não com os anos 50/60, mas com os séculos XV e XVI, provavelmente a evolução será ainda mais positiva (seja a comparação feita com as tribos índias da época, seja com a Inglaterra da época).

Mas o que leva a se considerar uma situação como uma crise não é o bem-estar comparado com o passado distante (afinal, até na Grande Depressão provavelmente vivia-se muito melhor do que durante o Império Romano, mas não é por isso que deixamos de falar na "crise dos anos 30"); na prática, o que define uma crise é, não tanto a situação que as coisas estão "mal", mas sobretudo a sensação que as coisas estão "a piorar" - e aí temos a grande diferença entre os anos 60 e o momento actual: nos primeiros (com muitos altos e baixos) e tendência global era para a população empregada subir, enquanto que neste século a tendência tem sido para descer (no fundo, é uma das situações em que a derivada interessa mais do que a função original).

Guerras civis em perspectiva

A guerra-de-Lincoln-para-impedir-a-secessão-decidida-pelos-orgãos-legislativos-estaduais dita civil americana fez mais baixas de americanos que o conjunto das duas guerras mundiais.

Parece que agora acham" inaceitável" as guerra civis com vítimas civis. Quem são alguns dos que mais acham "inaceitável"? Os mais prontos a recomendar a intervenção externa com bombardeiros humanitários. Terá sido uma pena o bom Império da altura (o Britânico) não ter parado o conflito, os rebeldes agradeceriam ainda hoje.


ps: coincidência saiu hoje um artigo no zerohedege: Propaganda,Lies and War

"(...) When Lincoln ran for president, his platform was based on Henry Clay-inspired mercantilism where he promised to maintain a high protective tariff that would serve Northern industrial interests while impoverishing the South’s still predominantly agrarian economy.  This, of course, angered the South much like it did when John Quincy Adams imposed the same type of tariff in 1828 which lead to the Nullification Crisis.  With the Morrill Tariff, which increased the tax on dutiable imports by about 70%, put in place by President Buchanan two days before he left office, the South stood ready to secede. (...)


Lincoln thought war would rally the North behind his special-interest driven agenda.  The South sent numerous commissioners to Washington in the hopes of finding a peaceful solution to secession.  Lincoln ignored all of them.  As he stated in a letter addressed to Horace Greeley of the New York Tribune:

My paramount object in this struggle is to save the Union, and is not either to save or to destroy slavery. If I could save the Union without freeing any slave I would do it, and if I could save it by freeing all the slaves I would do it; and if I could save it by freeing some and leaving others alone I would also do that. What I do about slavery, and the colored race, I do because I believe it helps to save the Union; and what I forbear, I forbear because I do not believe it would help to save the Union.


So why is this version of the Civil War not taught in public schools? It’s a simple answer when you consider the driving force of statism.


When Randolph Bourne opined “war is the health of the state,” he was referring to how war is used as a means to enlarge the authority of government over everyday life. "

A Apple e os iranianos

Parece que, nos EUA, algumas lojas da Apple estão-se a recusar a vender equipamentos a clientes de origem iraniana, afirmando estarem a cumprir a uma lei que proíbe transferências de tecnologias para a Coreia do Norte, Cuba, Irão, Síria e Sudão sem autorização governamental

Será que também se recusam a vender equipamentos a clientes de origem síria?

Thursday, June 21, 2012

Um assunto que ainda vai dar que falar

Operação Fast and Furious.

Steve Jobs: Good artists copy great artists steal

Estado -> Bancos -> Estado -> (...)


Agora vamos analisar a situação dos Bancos e o seu relacionamento com a Dívida Pública:

1. Situação inicial:

Activo: A
Passivo: P
Capital: C

2. Estado emite Dívida Pública que os Bancos compram:

Por emissão de moeda na forma de valor creditado em depósito à ordem na conta do Tesouro (Estado), o Banco adquire os títulos:

Activo: A + 100 (compra de títulos de Dívida Pública a juro de 5% no valor de 100)
Passivo: P + 100 (crédito na conta de depósitos à ordem do Tesouro no valor da compra)
Capital: C

3. De que é que se fala quando se diz que os Bancos Centrais estão a financiar os Bancos para comprar Dívida Pública

Activo: A + 100 + "Reservas Injectadas"
Passivo: P + 100 + Dívida ao Banco Central pelas "Reservas Injectadas" a juro de 1%
Capital: C + lucro pela margem obtida na diferença entre 1% e 5% (na maturidade)

Estas reservas são necessárias para manter o Banco solvente em primeira linha contra os depósitos à ordem que se encontram em P (Passivo). De notar que as DOs são uma forma de moeda e podem ser levantados a qualquer momento. A percepção de risco tem uma característica binária. Ou as pessoas confiam e ninguém faz levantamentos, ou ninguém confia e uma boa parte faz levantamentos com medo de quando chegar já não existir ou ter de deparar-se com um congelamento de levantamentos, etc.

É esta simples realidade que deu origem àquela disciplina do "confiança economics", o economistas como psicanalista tem de gerir as expectativas e confiança no sistema, porque as pessoas, qual bipolar, podem cair num acto de irracionalidade irreflectida e provocar as tais corridas aos Bancos. Se forem ver na história da Banca, as acusações de pânico e irracionalidade pelas elites e seus  court intelectuals (os economistas) é recorrente.

Voltando ao assunto, quando os Bancos compram grandes quantidades de dívida pública por criação de depósitos, arriscam-se a que os Estados façam transferências para outras entidades fora desse Banco. Quanto o fazem, o montante de reservas versus total de depósitos cai, e isso leva à necessidade de aumentar as reservas novamente indo assim pedinchar ao Banco Central ao qual este acede alegremente satisfazendo assim o "aumento da procura".

Neste momento, quer os Bancos quer os Estados estão numa relação de dependência de insolvência. Os Estados precisam emitir dívida para ajudar os Bancos que precisam de emitir dívida e capital para ajudar os Estados que precisam de emitir dívida.

capital virtual

 Já publiquei isto há alguns tempos, e fica aqui como desafio para quem quiser comentar ou apontar algum erro de raciocínio:

A propósito de um post do Ricardo Arroja sobre o recente anúncio de um aumento de capital do BES:

A irrealidade do sistema monetário e a prova de que os próprios reguladores e eu diria até os próprios banqueiros percebem mal o próprio sistema em que operam (de resto, a própria constatação das recorrentes bolhas/crises bancárias provaria isso de qualquer forma) pode ser visualizada nos aumentos de capital dos bancos onde estes oferecem incentivos para que os clientes ou outros participem no aumento de capital com o recurso ao crédito do próprio banco.


Banco anuncia aumento de capital e oferece crédito para os subscritores do capital (estas operações já tiveram lugar por diversas vezes e foram públicas e publicitadas e por isso têm o conhecimento e consentimento dos reguladores).

1. Vamos ver o que se opera ao nível do balanço partindo de uma situação inicial:

Activo: 1000
Passivo: 900
Capital: 100

2. Concessão de crédito pelo Banco aos futuros subscritores de capital

Activo: 1000 + 100 = 1 100 (100 é novo crédito criado “do nada”)
Passivo: 900 +100 = 1000 (100 é dinheiro criado “do nada” e depositado na conta DO dos subscritores que solicitam o crédito)
Capital: 100

3. Realização do aumento de capital

Activo: 1000 +100 = 1 100
Passivo: 900 + (100 – 100) = 900, a conta de DOs é debitada pelo aumento de capital
Capital: 100 +100 = 200 o capital aumenta por contrapartida do débito das DO´s dos subscritores (que tinham sido creditadas pelo crédito concedido)

4. Situação Final:

Nada em termos reais (mobilização de poupança) se passou, dinheiro criado do nada serviu para aumentar o activo (crédito concedido) e o capital, para cúmulo, os rácios de solvabilidade aumentaram.

Rácio inicial = Capital / Activo = 100 / 1000 = 10%
Rácio final = 200/ 1100 = 18%

Sempre diria que isto expõe o não-capitalismo deste processo. Diria até que é anti-capitalismo na sua forma mais refinada. Os banqueiros teriam uma vida mais difícil num sistema monetário capitalista.

Se alguém quiser por em causa o raciocínio faça o favor. Isto não quer dizer que este efeito se passa na totalidade dos aumentos de capital em bancos, mas em parte pode. O mais relevante é a aparente falta de entendimento generalizado sobre a sua virtualidade.

Antes que se ponham a apontar o dedo aos bancos, lembrem-se que é assim que a expansão de crédito também é concedida à economia. Criação de moeda em vez de mobilização de poupança. Os bancos também concedem crédito a accionistas de empresas não financeiras. Especialmente em bolhas, que quando arrebentam aparecem os bailouts por causa do "risco sistémico".

Tuesday, June 19, 2012

Herbert Hoover: Revisionista

Nota: Um magnum opus de Hoover que foi publicado apenas no ano passado como que vem reforçar os argumentos dos então "isolacionistas" americanos e dos agora libertarians não-intervencionistas.

Do artigo da American Spectator:  Revisionist History That Matters, By TOM BETHELL on 11.18.11 @ 6:08AM, Herbert Hoover's long buried assessment of Franklin Roosevelt and "The Good War."

 Freedom Betrayed, written by President Herbert Hoover in his retirement, is a wide-ranging attack on the decisions made by his White House successor, Franklin D. Roosevelt. Hoover worked on it for 20 years and regarded it as his magnum opus. (...)

As his book stood in 1953, for example -- when it was titled "Lost Statesmanship" -- Hoover listed 19 "gigantic blunders" by U.S. and British policymakers. These began in 1933 with FDR's diplomatic recognition of the Soviet Union and continued with the British and French guarantee to Poland in 1939. George Nash told me in an email that Hoover considered the Polish guarantee to have been "the greatest blunder in the history of British statesmanship."

Even Churchill saw (later) that it had been a mistake. But he supported it at the time. But in The Gathering Storm (1948), Churchill demonstrated the futility of Chamberlain's declaration of war. (Chamberlain was stung by the charges of appeasement after Munich and with Hitler's Poland invasion he tried to recover.)
Hoover was quite critical of Churchill. He had a "surpassing power of oratory and word pictures," Hoover wrote, but "intellectual integrity was not his strong point."

Another "major blunder," Hoover thought, was FDR's decision in 1941 to throw the U.S. into an "undeclared war with Germany and Japan, in total violation of promises upon which he had been elected a few weeks before." Roosevelt's "total economic sanctions" against Japan in the summer of 1941, and his "contemptuous refusal" of the Japanese prime minister's peace proposals in September, Hoover saw as the crucial precursors to Pearl Harbor. The day after the attack, Hoover told a friend that FDR's "continuous putting pins in rattlesnakes finally got this country bitten."

(...)Much of what Hoover said in opposition to FDR's (and Churchill's) war policies can be summarized this way: Stalin was every bit as bad as Hitler. So let them fight it out. FDR certainly didn't see things that way. 

Hoover said: "The greatest loss of statesmanship in all American history was the tacit American alliance and support of Communist Russia when Hitler made his attack in June 1941.… American aid to Russia meant victory for Stalin and the spread of Communism to the world."

O problema é o euro?

Efectivamente, se nos guiarmos pelos manuais de Economia, a actual crise na UE parece um exemplo clássico dos problemas do que acontece quando se cria uma moeda única sem unificação fiscal.

No entanto, há um exemplo que penso por em causa este modelo tão "perfeito" - a Hungria não faz parte do euro e também está à beira da bancarrota (além de também ter uma espécie de "Manhã Dourada" a desfilar pelas ruas).

Libertarianism and Land

Discussão sobre o tema no blog "Bleeding Heart Libertarians"; basicamente, é um debate entre as posições liberal clássica, georgista e "proudhoniana" sobre a propriedade da terra.

Monday, June 18, 2012

Re: contra a independencia dos bancos centrais

Lewrockwell recorda uma pérola da história de banqueiros centrais: "Arthur Burns, who had blocked Murray Rothbard's hard-money PhD at Columbia until Ike made Burns chairman of the council of economic advisors, also engineered Nixon's great inflation. After his term as Fed chairman, Burns was rewarded by Nixon with the ambassadorship to Germany (...) Burns--whom Murray described as sounding like W.C. Fields without the humor--answered, the Fed chairman has to do what the president wants, or "the central bank would lose its independence." Portanto é assim: nunca existiu independência embora esta seja formulada pelo menos implicitamente como uma tentativa de controlar a tentação sempre presente de financiar os défices por emissão directa de moeda (mas quanto a financiar o aumento do crédito por emissão de moeda isso não é problema). Devo dizer que facilmente faria esta troca: - deixemos o banco central financiar os défices públicos por decisão a incluir na aprovação dos OE (assim é mais fácil culpar o regime político pela inflação observada) - em troca, os depósitos à ordem passariam a constituir verdadeiros depósitos civis (o que em termos técnicos se denomina de exigência de 100% de reservas). Assim, a massa monetária (só) subiria pelo efeito do financiamento dos défices mas a expansão artificial (emorego o termo artificial por não ter origem em poupança voluntária prévia intermediada pelos bancos) de crédito terminaria. A lógica é simples: - financiar despesa por emissão de moeda tem um impacto muito directo nos índices de preços no consumidor, os seus efeitos são visíveis e sentidos. - a expansão de crédito por emissão de moeda não tem efeitos directos sobre a inflação no consumidor, mas sim baixa artificialmente a taxa de juro e produz uma alta dos preços nos sectores de investimento induzindo a bolha de que a crise é consequência. Este processo é menos visível e os seus efeitos no curto prazo são até bons - a economia está bem e como que se sente sente bem, e os economistas também. Portanto, acabar-se-ia com a ideia de falsa independência mas impedia-se a expansão artificial de crédito (cujos efeitos são menos perceptíveis) tornando os depósitos à ordem 100% seguros. Só acrescentaria que ao mesmo tempo o ouro e prata deve poder ter circulação monetária sem entraves legais e fiscais. Nota: Burns presidiu à estagflação (inflação, estagnação e desemprego) dos anos 70 (com causas iniciadas no programa de Welfare & Warfare State do Presidente Lyndon B. Johnson, ou seja, o seu programa Great Society e a escalada da Guerra do Vietname, e a sua continuação com Nixon-we-are-all-keynesians-now) e enquanto na Universidade de Columbia opounha-se ao PHD de Rothbard que analisaria a crise económica americana de 1819 (The Panic of 1819) do ponto de vista da crítica à expansão de crédito e moeda (e indirectamente pondo em causa a lógica existencial dos bancos centrais). Foi um acaso Burns ter sido nomeado para outro cargo. Rothbard acabou o PHD e assim conseguiu fazer uma carreira académica apesar de sempre anti-establishment. É nesta altura que começa a formular o edifício intelectual Libertarian, alia-se à New Left e isolado se torna opositor da guerra do vietname e a agressividade intervencionista da guerra fria.

Sunday, June 17, 2012

Rodney King (1965-2012)

Rodney King, o rosto dos motins de LA, morreu aos 47 anos (Publico):

As pessoas que têm hoje menos de 25 anos dificilmente se lembrarão do nome de Rodney King, mas em Março de 1991 este homem transformou-se num símbolo da brutalidade policial americana, que desencadeou violentos motins na cidade de Los Angeles. King morreu hoje, aos 47 anos. (...)

Rodney King foi agredido por agentes do LAPD (Los Angeles Police Department) em Março de 1991. O incidente foi integralmente filmado por um transeunte e rapidamente as imagens da agressão - alegadamente por motivos racistas - começaram a circular pelas principais cadeias de televisão norte-americanas e, seguidamente, pelo mundo inteiro, originando uma onda de indignação.

No ano seguinte, os quatro agentes envolvidos nas agressões foram absolvidos pela justiça americana, o que desencadeou violentos confrontos raciais na cidade de Los Angeles, em 1992. No total morreram 53 pessoas durante estes motins e centenas de pessoas ficaram feridas. Quanto a danos materiais, estima-se que tenha havido prejuízos na ordem dos mil milhões de dólares.

Eleições gregas - a minha previsão

Ganha a Nova Democracia, e a ND+PASOK (eventualmente mais um pequeno partido liberal) obtêm a maioria dos deputados no parlamento.

A nível de grandes blocos, a esquerda anti-troika vai ficar mais ou menos na mesma (mas com os votos nessa área a concentrarem-se no SYRIZA); mas vai haver transferência de votos da direita anti-troika (sobretudo dos Gregos Independentes e do LAOS) para a Nova Democracia (permitindo, desta vez, uma maioria parlamentar para os partidos pró-troika).


[Isto é daquelas previsões em, de certa forma, ganho quase sempre - se não ganhar o Miguel Madeira "politicamente engajado", ganha o Miguel Madeira "analista político"; outra forma de ver as coisas, claro, é que irei sempre perder de qualquer maneira]

Saturday, June 16, 2012

As causas do crescimento do sector não-transacionável

Há dias, a Maria João Marques e o João Miranda discutiam sobre as causas do crescimento do chamado sector não-transacionável em Portugal: para o João Miranda o Estado andou a adquirir bens não-transacionáveis, enquanto para a Maria Marques o que o Estado fez foi sobretudo produzir bens não-transacionáveis.

A respeito da questão sobre se o crescimento desproporcionado do sector não-transaccionável foi criado pelo lado da oferta ou da procura, há um teste simples - se fosse motivado pela oferta (muita gente a querer produzir bens não-transaccionáveis), o preço dos bens não-transaccionáveis desceria face aos transaccionáveis; se fosse motivado pela procura (muita gente a querer comprar bens não-transaccionáveis) o seu preço subiria. Ora, os preços no sector não-transacionável subiram mais que no sector transacionável (regra simples - se um pais tem uma inflação maior que a dos seus parceiros comerciais, em principio quer dizer os preços no sector não-transacionável estão a subir mais), pelo que pudemos concluir que o crescimento do sector não-transacionável foi motivado pela procura e não pela oferta (o que, aliás, deita por terra as análises do género "o mal é que já ninguém quer ir alancar para agricultura, para pesca ou para as fábricas e só querem estar armados em pipis atrás dum balcão ou num escritório").

Mas será que esse crescimento da procura de bens não-transacionáveis deriva de uma politica especifica de procura de bens não-transacionáveis?

Eu venho propor uma explicação alternativa - o que houve (para aí nos últimos 20 anos, mais ano menos ano) foi um aumento global da procura interna (motivada quer pelas baixas taxas de juro, quer pelos deficits orçamentais); e, quando há um aumento da procura interna (nomeadamente quando esta cresce mais que a externa), há sempre uma tendência para esse aumento se reflectir nos bens não-transaccionáveis do que nos transaccionáveis: mesmo que aumente a procura de ambos os tipos de bens, parte do aumento da procura de bens transaccionáveis levará a mais importações, enquanto o aumento da procura de não-transaccionáveis terá, por definição, de ser satisfeito pela produção nacional; assim, as empresas locais do sector não-transaccionável serão sempre sujeitas a um maior aumento da procura do que as do sector transaccionável, levando a uma deslocação de recursos do segundo para o primeiro.

[Isto é um exemplo do chamado "Primeiro apontamento de Miguel Madeira à lâmina de Occam" - "se algo pode ser explicado com um modelo macroeconómico, não perder tempo a pensar em explicações microeconómicas"]

Já agora, em tempos estive para dizer algo a respeito deste post do Blasfémias: haverá alguma razão para supor (como está implícito nesse post) que um tal "plano estratégico para a economia" fosse beneficiar especificamente o sector não-transaccionável? Na verdade até me parece que, historicamente, as politicas estatais, das manufacturas de Colbert às "politicas industriais" que alguns economistas defendem, das Corn Laws à PAC (e sem esquecer os nossos subsídios aos produtores de energia) até costumam ser mais dirigidas aos sectores transaccionáveis (até suspeito que isso é influenciado por uma certa tendência para idealizar a agricultura e/ou a industria - considerados como o "pais profundo", os "verdadeiros portugueses"/"the real americans"/etc, "os homens a sério", ou então como a "classe operária" - enquanto o comércio e os serviços tendem a ser vistos como uma coisa mais de gente "decadente", de "cosmopolitas urbanos desenraizados", ou então de "pequeno burgueses" ou "meninas do shopping"...).

Friday, June 15, 2012

The issue which has swept down the centuries and which will have to be fought sooner or later is the people versus the banks - Lord Acton

Diz-se em Os bancos sem crédito, Lenonel Moura no negócios.pt: "No passado, um Banco era uma entidade altamente prestigiada. Hoje é vista como uma associação de malfeitores."


Também diz: "Não há ninguém para nos explicar o que realmente se passa. E nessa circunstância o melhor é retirar o pouco dinheiro que nos resta e o banco que se lixe"

Ao longo da história a imagem dos bancos sempre foi, na verdade, esta. A razão permanece nas recorrentes bolhas seguidas de crises bancárias e falências. Grandes instituições prestigiadas caíram de um momento para o outro. Os Bancos Centrais aparecem precisamente para prevenir tal coisa, mas o que fizeram foi induzir uma tal dimensão coordenada de ciclos que até o complexo Estado-Bancos treme e as corridas aos bancos sucedem na mesma por outras formas.

A explicação das causas é simples: Tomar depósitos à ordem para si e utilizá-los para conceder crédito e prazo maior em si já é mau, mas acresce que é esta possibilidade que permite aos bancos adicionalmente criarem depósitos para conceder crédito. Tudo nasce de transformarem o depósito de moeda, que devia continuar a ser moeda, numa operação de crédito ao banco.

É um mistério para mim porque tão pouca gente dá conta do assunto embora a tendência comece a mudar. os economistas sobre este assunto têm uma reacção: não têm reacção.

Há um comentário num post do Insurgente curioso:

"Se alguém tivesse razão e a sua teoria estivesse correcta não teríamos crise e tudo se resolvia."

Esta á uma espécie de teoria do conhecimento algo recorrente: "já sabemos tudo,se existisse solução já o saberíamos." Uma teoria de como o conhecimento anda sempre para a frente. Não anda, pode dar grandes saltos para trás, quanto mais presumir que neste ponto se não se sabe é porque não se pode saber.

Mas o problema das ciências sociais e em especial a economia é que a forma de obter conhecimento não passa por matemática ou estatística ou experiências empíricas. Só a lógica argumentativa correctamente construída faz a prova ou falsidade.

Depois existem os interesses, dos bancos, dos estados e das suas elites. Por alguma razão os agricultores costumavam ser os mais desconfiados da banca, as bolhas incentivam o crédito(e vice-versa), depois quando rebentam os bancos iam reivindicar a sua propriedade, enquanto os bailouts os amparavam (aos bancos). E a primeira forma de bailout foi permitir aos bancos suspender o levantamento de depósitos sem entrar em falência e liquidação... ao contrário dos agricultores. Qualquer economista dirá que tem de ser assim (suspensão de pagamentos). Lá se vão os contratos e direitos de propriedade... dos mais pequenos.

Sim, existe uma guerra surda ao longo dos séculos entre a banca e o povo.E os economistas não têm estado do lado do povo (nem os juristas...porque existe uma questão de direito, nesta coisa dos depósitos à ordem não serem de facto depósitos).

Digam aos vossos filhos para não tirar fotos na cantina para pôr na internet

Numa localidade escocesa, parece que autoridades locais ordenaram que uma rapariga de 9 anos fechasse o blog onde ela punha comentários e fotografias da comida que havia na escola, argumentando que ela não estava a dar uma visão rigorosa das opções e qualidade da comida da cantina (entretanto, voltaram atrás na proibição).

[Via Business Insider]

Para contrabalançar, um momento quase neo-liberal da Joan Baez



Bem, seria assim se não fosse pelo "If they didn't put in some stupid places, I will not object".

Quando os irmãos Koch patrocinavam conspirações "esquerdistas"

Segundo a "National Review" (em 1979).

[Via Jesse Walker e Roderick T. Long]

Um bom argumento pela preservação da natureza?

Edward Abbey:

“the wilderness should be preserved for political reasons. We may need it someday not only as a refuge from excessive industrialism but also as a refuge from authoritarian government, from political oppression. Grand Canyon, Big Bend, Yellowstone, and the High Sierras may be required to function as bases for guerrilla warfare against tyranny...The value of wilderness, on the other hand, as a base for resistance to centralized domination is demonstrated by recent history. In Budapest and Santo Domingo, for example, popular revolts were easily and quickly crushed because an urbanized environment gives the advantage to the power with technological equipment. But in Cuba, Algeria, and Vietnam the revolutionaries, operating in mountain, desert, and jungle hinterlands with the active or tacit support of a thinly dispersed population, have been able to overcome or at least fight to a draw official establishment forces equipped with all of the terrible weapons of twentieth century militarism.”

Golpe judicial no Egipto?

O Supremo Tribunal dissolveu o parlamento (e ontem a junta militar havia reestabelecido a lei marcial).

Thursday, June 14, 2012

Pessoas que se levantam cedo vs. as que se deitam tarde

Do Larks Repress Owls?, por Robin Hanson:

Intrigued, I dug:

A higher degree of eveningness in more impulsive subjects. more

Morningness was stable before age 35 and increased afterwards. more

College freshmen who kept night-owl hours had lower GPAs. more

Evening-types are more likely to have higher intelligence scores. more

Late risers tire less quickly. … Those who rise later tend to be both cleverer and richer.  more

Night workers more likely to be evening type and the unemployed less likely to be moderately morning type … Evening types were 2.5 times more likely to report that their general health was only poor or fair. more

Owls had the largest mean income and were more likely to have access to a car. There was also no evidence that larks were superior to those with other sleeping patterns with regard to their cognitive performance or their state of health. more 

Morningness correlated positive with agreeableness and conscientiousness. … Neuroticism was related to eveningness only in females and in adolescents (10–17 years). In adults (18–47) only conscientiousness correlated with morningness. Positive correlations existed between agreeableness and conscientiousness and sleep length. more

Early risers prefer to gather knowledge from concrete information. They reach conclusions through logic and analysis. Night owls are more imaginative and open to unconventional ideas, preferring the unknown and favoring intuitive leaps on their way to reaching conclusions. … Morning people are more likely to be self-controlled and exhibit “upstanding” conduct; they respect authority, are more formal, and take greater pains to make a good impression. … Evening people, by contrast, are “independent” and “nonconforming,” and more reluctant to listen to authority. more HT

Morningness was … negatively related to impulsivity, extravagance, and dis-orderliness and positively related to persistence. … Evening types were rated significantly less dependable … Older age correlates with Morningness. … Evening types tended to commit less recognition errors, … were more intelligent, more likely to do well on measures of memory, and in processing. … Evening types presented more flexible sleep habits and slept significantly less …  are less emotionally stable … [and] are prone to addiction. more 

So, larks are older, more conformist, more dependable, and so more likely to set official rules.  Such rules seem to favor lark-preferred hours of work, school, etc., and to give larks higher school grades even though owls are smarter and eventually richer.  Seems some sort of “conspiracy” theory has decent support, though of course  conscious collusion isn’t needed here – self-serving biases and signaling distortions seem a sufficient explanation.

Contradições monárquicas

Are you sure you don’t want a republic?, em the red rock:

The British monarchy itself is also overwhelmingly popular. Polls over the last few weeks show 76-86% of the British public support keeping the UK’s head of state a hereditary affair.

But here’s the thing: ICM asked whether Prince Charles should become King when the Queen dies, or whether the crown should skip him and go to William instead. By 48% to 39%, the public said William should become King.

But that isn’t how a hereditary system works. Charles doesn’t have to win an election to become King – he’s the next one. In theory he could stand aside, but every indication has been that he won’t.

So there’s a contradiction: A huge majority of the population say they want to keep selecting heads of state by the hereditary principle; yet a big plurality of them also say they don’t want the person who is next in line in the hereditary principle to become the head of state.

Wednesday, June 13, 2012

Artigo de Alexis Tsipras no Financial Times

Aqui (versão "aberta" no blog Keep Talking Greece).

Entrevista do Rato Mickey à Reason

Este artigo é capaz de continuar actual embora já seja velhinho - de 2003, na sequência da sentença[pdf] do Supremo Tribunal dos EUA que considerou válida a "Lei Sonny Bono", que prolongou por mais algumas décadas os direitos de propriedade intelectual que estavam para cair no domínio público

A respeito dessa decisão, o Rato Mickey (que viu a sua clausula de exclusividade com a Disney prolongada por mais 20 anos) foi entrevistado pela revista Reason:

Telling his keepers that he was going on an "ice run for the boss," the mouse made his way to a dive bar a few miles outside Disneyland, where he gave reason an exclusive interview.

Q: How does it feel to have your sentence extended by two decades?

A: How do you think it feels? For almost 70 years, I've only been allowed to do what the Disney people say I can do. Sometimes someone comes up with a new idea, and I think to myself, "Great! Here's a chance to stretch myself!" But of course they won't let me leave the reservation. If I do, they send out their lawyers to bring me home.

In 1971, for instance, Dan O'Neill got me a part in something called Air Pirates Funnies. It was great: I got to have sex, I got to use drugs, I got to explore the whole underground comix scene. It was liberating.
Well, of course Disney complained. They said—this is a direct quote—that O'Neill's parody was tarnishing my "image of innocent delight." After two issues of the comic book, they issued a summons and took us all to court for trademark violation and copyright infringement.

Q: And they never published another issue?

A: Of course not.

I don't think you realize how tight the clamps on me are. If I so much as flicker on a TV screen in the background of a documentary, Disney can tell the filmmakers, "Either scramble that image or pay us for permission to use it." And the courts will allow it.

Q: Some might say that it's perfectly legitimate for Disney to own you—not just now, but in perpetuity. After all, they created you.

A: Created me? [An enormous cartoon spit-take follows.]

Did you like that? It's my Daffy Duck imitation.

Q: Very nice. I didn't know you were familiar with the Warner Brothers characters.

A: Poor bastards. They're gonna be locked up even longer than I am. I guess if Chuck Jones were still around to direct their cartoons, they might not mind it on their plantation. Instead, they have to do those stupid commercials with Michael Jordan.

Anyway. Yeah, Walt Disney created me, but he didn't create me out of nothing. Look at my skin. Look at my face. Look at this glove. I'm straight out of the minstrel show tradition—which makes this whole "ownership" business stick in my craw even more.

I'm also Buster Keaton.

Q: Sorry?

A: My first cartoon short, Steamboat Willie, was a direct parody of Keaton's movie Steamboat Bill, Jr. On the very first page of the script, it says, "Orchestra starts playing opening verses of Steamboat Bill." I remember what Eldred's lawyer Lawrence Lessig said when he read that: "Try doing a cartoon take-off of one of Disney, Inc.'s latest films with an opening that copies the music."

So yeah, they created me. But they don't want to let other people build on me when they make their own creations, the way they did when I was born. And now I'm locked up for another stinking 20 years! Do you have any idea what it's like to have to greet kids at Disneyland every single day, always smiling, never slipping off for a cigarette?

Q: So what comes next?

A: If the courts won't help us, we can always go back to Congress and try to repeal the Bono Act outright. Doesn't seem likely to happen, but I suppose we should try it.

Beyond that, all I can think of is civil disobedience. Disney says I'm its property, and that any unauthorized use of me is infringement, theft, plagiarism. I say, Don't mourn, plagiarize! Work me into every creative act that you can, and damn the legal consequences! You know, like you're doing right now.

Q: Come again?

A: This interview. It's an unauthorized use of Mickey Mouse, a copyrighted character owned by the Disney Corporation.

Q: This is a parody, Mickey. It's protected by the Fair Use doctrine.

A: So was Air Pirates Funnies, and they still dragged them into court. And it's only gotten worse since then. It's so easy to create and distribute things digitally these days, so the big entertainment combines are in a panic, sending out cease-and-desist letters left and right. Doesn't matter if it's an open-and-shut case of Fair Use—the cost of a court case is disincentive enough.

Q: Hey. This isn't really Mickey Mouse, people. His name is—uh, I think it's Bruce.

A: Sometimes they make a threat, and sometimes they let something slide. You never know what they're gonna go after. But don't let that stop you! Civil disobedience requires courage.

Q: He's not even a mouse. He's some sort of marsupial.

A: [Sighs.] You're a sellout, Walker.

Q: I've got responsibilities, Mick—um, Bruce.

A: God, you disgust me. I'm looking at another 20 years on the inside, and you can't throw one little pebble at the company that's keeping me out of the public domain?

At this point, three Disney bounty hunters entered the bar and seized Mickey. An intense struggle reportedly ensued, but our correspondent missed it, opting instead to crawl out the men's room window.

Síria e neocons




"US has predicted that another Houla-style massacre will occur in Syria and has even mentioned exact locations"

A porta-voz do Departamento de Estado (de Obama) que se vê inicialmente é  Victoria Nuland é casada com o conhecido neo-con Robert Kagan, advisor agora de Mitt Romney, que com William Kristoll (editor da weekly standard e filho do fundador neocons Irving Kristoll) e ainda muitos outros neocons assinaram uma carta a pedir a intervenção do Iraque:

"...If we do not move against Saddam Hussein and his regime, the damage our Israeli friends and we have suffered until now may someday appear but a prelude to much greater horrors. Moreover, we believe that the surest path to peace in the Middle East lies not through the appeasement of Saddam and other local tyrants, but through a renewed commitment on our part, as you suggested in your State of the Union address, to the birth of freedom and democratic government in the Islamic world. (...)
Israel’s fight against terrorism is our fight. Israel’s victory is an important part of our victory. For reasons both moral and strategic, we need to stand with Israel in its fight against terrorism. "
(Robert Kagan is a senior fellow at the Brookings Institution in Washington, D.C., and a prominent neoconservative writer and columnist for the Washington Post. He cofounded, with Wiliam Kristol and other likeminded figures, the Foreign Policy Initiative (FPI), a successor to their now defunct advocacy group, the Project for the New American Century.[1] Kagan’s father, Donald, and brother, Frederick, are also well known neoconservative figures who advocate for a stronger, more interventionist U.S. military.)

Por sua vez é irmão de Frederick Kagan casado com Kimberly Kagan.

(Mr. Kagan, a military historian who taught at West Point, is a scholar at the American Enterprise Institute. Mrs. Kagan, who also taught at West Point, is president of the Institute for the Study of War).

Ambos filhos de Donald Kagan, o historiador especializado na Guerra do Peloponeso (entre Atenas e Esparta). E isto tem mais importância do que parece

Irving Kristol:

"The favorite neoconservative text on foreign affairs, thanks to professors Leo Strauss of Chicago and Donald Kagan of Yale, is Thucydides on the Peloponnesian War."
Para uma melhor compreensão e desmontagem do tema por um antiwar-libertarian:

"It Usually Begins With Thucydides", by Gary North que começa assim:
"Dr. Kristol has done me a great favor in admitting in full public view what I find easy to believe: the centrality to the neoconservatives of Thucydides' account of the disaster of disasters of classical Greece, the Peloponnesian War (431—404 B.C.)."


Ray Bradbury

"I don't believe in government. I hate politics. I'm against it. And I hope that sometime this fall, we can destroy part of our government, and next year destroy even more of it. The less government, the happier I will be.… All I can do is teach people to fall in love. My advice to them is, do what you love and love what you do. Then you become free of all laws and all gravity."

Tuesday, June 12, 2012

Desenvolvimento económico e instituições sociais

What Really Happened During the Neolithic Revolution?, por Daron Acemoglu e James Robinson (Why Nations Fail):

The Neolithic Revolution was not only a set of technological innovations associated with farming and herding. It was also an institutional revolution — people became sedentary and social and political life changed.
[Jared] Diamond’s argument, which has essentially become the conventional wisdom on this topic, is that the the introduction of farming was a direct result of the greater benefits from farming in terms of greater domesticable crop and animal species, and this major technological change then caused institutional change.

Though popular, this argument is at odds with the archaeological evidence, which instead shows extensive social and institutional change prior to the transition to farming in the Middle East. (...)

Another important site is Çatalhöyük also in Turkey (...).

Archaeological evidence suggests that this was a sedentary town of perhaps 500 people dependent on hunting and gathering. The town appears to have had a very rich religious and symbolic life. People were buried under houses, which embedded the skulls of bulls in their walls, and included clay figurines and wall paintings.
But this is the sort of stuff that is supposed to happen after the Neolithic Revolution, not before.
The archaeologist Bruce Smith in his book The Emergence of Agriculture describes the transition which took place in the Middle East in the following way (page 79):
their inhabitants had clearly shifted to permanent year-round settlements as early as 12,500 years ago and invested considerable labor in constructing houses and storage facilities.
When people established sedentary settlements, their concepts of who owned resources likely became more restrictive as they strengthened their claim on the surrounding countryside, which they viewed more and more as being for their exclusive use. By 12,5000 BP, then, hunting and gathering societies began to adopt a way of life that set the logistic, economic, and organizational groundwork for the emergence of village farming communities…many of the basic elements of social organization essential to village life were already in place before the first experiments with cultivation…
In other words, the existing evidence, in contrast to what is presumed in Diamond’s argument and the conventional wisdom, is that institutional innovation did not follow transition to agriculture, but preceded it. In fact, it was this institutional innovation which allowed the technological changes at the heart of the Neolithic Revolution.l

Simpósio do Cato Instute sobre o "Bleeding-Heart Libertarianism"

 Uma discussão no Cato Unbound sobre o chamado "bleeding-heart libertarianism" (nome roubado aos chamdos "bleeding-heart liberals"), isto, a tentativa de "fusão" entre meios liberais e objectivos tradicionais da esquerda.

Monday, June 11, 2012

Flagrante delito?

Parece que os acusados de homicídio que sejam detidos em flagrante delito irão ser sujeitos a julgamento sumário.

Mas o que significa exactamente "flagrante delito"? Imagine-se a seguinte situação: Pedro entra num quarto de hotel, e encontra João com uma arma na mão, apontada a ele. Após uns segundos de tensão, João aceita entregar a arma a Pedro, e diz para irem à casa de banho para lhe mostrar uma coisa. Afinal, o que há na casa de banha é uma mulher morta na banheira, com um tiro na cabeça.

Nesse momento, entra a policia no quarto.

Será que a detenção de Pedro por suspeita de homicídio seria em "flagrante delito"? Sim, isto foi copiado de uma série de televisão, mas poderia perfeitamente acontecer algo parecido na realidade.

No geral, tenho uma grande dificuldade em perceber o próprio conceito de "flagrante delito" (mas talvez um economista - que ainda por cima teve que ir a exame de segunda época na única cadeira de direito que fez, e passou com 11 - não seja a melhor pessoa para tentar analisar conceitos jurídicos). Afinal, se se assume que os acusados são inocentes até prova em contrário, como é que se pode dizer que foram detidos em "flagrante delito" (afinal, até serem condenados, parte-se do principio que não cometeram delito nenhum, flagrante ou não)?

Quem foi realmente o responsável pelo massacre de Houla?

Syrian Rebels Responsible For Houla Massacre? (Outside the Beltway):

Rosenthal also makes note a report from Dutch sources that cite eyewitness accounts from members of the Monastery of St. James in Qara that appear to corroborate the claims that the Houla attack was carried out by rebels and directed at Alawite and Shia minority communities.

None of this is to downplay the brutality of the Assad regime, which has been responsible for most of the violence that has occurred over the past year or so. However, it is a strong indication that the world needs to be exceedingly careful about both becoming too involved in the Syrian conflict, and becoming too closely involved with rebels who may turn out to be no better than Assad himself.
Abermals Massaker in Syrie ( Frankfurter Allgemain Zeitung):
A challenged street called control units of the Syrian army to help the 1,500 meters maintains a military base and promptly sent reinforcement. In the battle of hula, which should have lasted 90 minutes, dozens of soldiers and rebels were killed. During the fighting, the three villages of Hula were sealed off from the outside world.
 
According to the eyewitnesses to the massacre had occurred during this period. Had been killed almost exclusively families and the Alawite minority Shiite Hulas, which is more than ninety percent are Sunni. Thus, several dozen members of a family were slaughtered, which had in recent years by Sunni converted to Shiite Islam. Killed were also members of the Alawite family Shomaliya and the family of a Sunni member of parliament, because this was considered a collaborator. Immediately after the massacre, the perpetrators would have filmed their victims, they issued a Sunni victims and spread the videos via the Internet. Although representatives of the Syrian government confirmed this version, but pointed out that the government had agreed not to speak publicly of Alawites and Sunnis. President Bashar al Assad is a member of the Alawites, the opposition is supported mainly by the Sunni majority. 
[tradução do Google]

Empirismo britânico vs. racionalismo francófono?

Poirot vs Holmes: Rationalism vs Empiricism, por Ashwin Parameswaran:

From Bob Tostevin’s book ‘The Promethean Illusion: The Western Belief in Human Mastery of Nature’:
After Poirot has picked up whatever clues he deems relevant, he likes to retire to an armchair or maybe to a table, where he may steady his nerves by building a house of cards: there and then, voila! He uses what he calls his “little grey cells” to order reality and penetrate the truth lying behind the appearance of things. Conan Doyle’s famous detective Sherlock Holmes, on the other hand, proceeds from start to finish looking for visible clues that ultimately will lead him to the truth. Holmes’ close observation of things is symbolized by the magnifying glass, and he will elicit from a person’s garment, perhaps a hat, a complete picture of that person’s age, socio-economic background, present financial status, psychological predispositions, etc. In contrast to Poirot’s ratiocinative brilliance, Holmes’ genius keeps always in direct observational touch with what the world offers him. Poirot is the French rationalist par excellence whereas Holmes is the English empiricist pure and simple.
No entanto, convém notar que o mais extremo "empirista" (ao ponto de o chamar de "cão de caça humano") que Poirot encontrou nas suas histórias foi um comissário da polícia francesa (em "Poirot, o golfe e o crime").

Os jovens já não são rebeldes?

Chris Dillow comenta que os jovens actuais já não fazem nada que choque os crescidos ("Punk was more rebellious and more disquieting to the establishment than anything we see today. Nobody of my generation is as appalled by dubstep as 40-somethings were by punk"). Bella Gerens responde que a culpa é dos baby-boomers (a nossa "geração de 60"), que fazem politicas que incentivam os jovens a serem submissos e depois queixam-se que os jovens são passivos.

Do outro lado do Atlantico também há quem se queixe que os jovens de hoje são muito "domesticados".

Para quem cresceu nos anos 80, essa conversa não tem nada de novo - nessa altura, era corrente nos jornais e revistas dizer-se que os jovens "de hoje" (i.e., de 1987) eram conformistas e conservadores em contraste com a rebeldia da geração dos seus pais (pelo menos uma série televisiva foi feita nessa premissa, e há também um cheirinho disso em filmes como este e séries como esta); embora a expressão "yuppie" (na medida em que ainda alguém a usa) hoje em dia signifique apenas "jovem urbano de classe média alta", nos anos 80 tinha muito a conotação de "certinho", "bom trabalhador", "de fato e gravata", etc.

Onde é que eu quero chegar com isto - pelos vistos nas últimas décadas tem se estado a estabelecer o hábito de dizer que as gerações seguintes são muito obedientes e conformistas.

Costuma-se contar muito a história de uma inscrição descoberta na Babilónia ou em Atenas dizendo "os jovens de hoje são desobedientes e já não respeitam os pais nem os mestres", dando a entender que desde sempre as gerações mais velhas se queixavam disso. Mas talvez hoje em dia a maneira de criticar a desobediência dos jovens (e exigir que estes sejam uma fotócopia dos adultos) seja, exactamente, acusá-los de.... serem obedientes (e assim estarem a violar o imperativo social da rebeldia juvenil).

Os maus resultados dos registros de "criminosos sexuais"

Reason.tv: How Sex Offender Registries Fail Us

Anarquismo e "A Bela e o Paparazzo"

Apesar de ser um "país" (não me lembro se os personagem, nalgum momento, chegam a usar a palavra "Estado"), acho que há algo de anarquista na ideia do "Tiago" de "A Bela e o Paparazzo" de criar um país independente no seu prédio (tem implícito a ideia de direito de secessão, fala em criar uma federação com prédios vizinhos - e não em alargar o país ao prédios vizinhos - e creio que até tinha uma ideia qualquer de cada andar ter as suas próprias leis).

Penso que não seria é enquadrável nos modelos clássicos do anarquismo: não seria anarco-socialismo (já que não há qualquer intenção de alterar as relações de propriedade), mas também não me parece o anarco-capitalismo tradicional - neste, provavelmente o prédio seria governado pelos proprietários (tal qual uma assembleia de condomínios, com voto por permilagem); o filme não foi muito claro a esse respeito, mas tudo aponta para o voto nas assembleias que o Tiago organizava ser por habitante (acho que ele fala em ser tudo decidido pelo "povo", e parece-me que numa das reuniões alguém quer deixar de pagar renda, o que implica que os inquilinos também participavam). Por outro lado, talvez o Tiago fosse o dono de prédio (parece-me que no principio alguém diz "o prédio é teu", mas isso pode ter muitos significados), e nesse caso acabará, por vias convulutas, de ser uma forma de anarco-capitalismo: o proprietário proclama a independência da sua propriedade e decide como ela deve ser governada (e, neste caso, o proprietário decidiu implantar lá uma democracia directa como poderia ter decidido implantar lá outra coisa qualquer).

Ou talvez não seja boa ideia tentar fazer grandes reflexões teóricas a partir de uma side story protagonizada pelo Nuno Markl dentro de um filme da Soraia Chaves.

Friday, June 08, 2012

Re: Re: (...) Desemprego

Esta resposta de Priscila Rêgo a este post do CN fez-me lembrar este meu texto para o Le Monde Diplomatique, nomeadamente esta passagem:

Mas o que permite que empresas falidas se tornem viáveis quando geridas pelos próprios trabalhadores? No fim de contas, a mudança de um gestor não muda as «leis» da economia, ainda mais quando o contexto social global se manteve. Logo, poderia argumentar-se que uma empresa que era inviável com uma gestão continuaria a ser inviável com outra. Algumas explicações são possíveis para o sucesso dessas empresas.

 Suponho, em primeiro lugar, que numa empresa controlada pelos próprios trabalhadores estes estão dispostos a fazer sacrifícios temporários que dificilmente estariam dispostos a fazer para um patrão. Por exemplo, quando passam reportagens na televisão sobre empresas (definitiva ou temporariamente) ocupadas pelos seus trabalhadores (até em Portugal se vêem de vez em quando casos desses), é frequente vermos os tais trabalhadores trabalhando turnos seguidos, muito mais que as horas legais ou contratuais, e passando meses sem receber ordenado até viabilizarem a empresa. No caso argentino, durante essa fase das ocupações, muita gente dependeu dos contributos de vizinhos e associações cívicas. Esse comportamento é perfeitamente lógico e racional – numa empresa capitalista, os trabalhadores têm muito menos razão para fazer sacrifícios presentes pelo futuro da empresa; feitas as contas, que garantia têm de que quem vai auferir desses benefícios futuros serão eles e não apenas o patrão?
Lendo os motivos que PR dá para ser preferível a uma empresa despedir trabalhadores do que cortar salários, dá-me a ideia que alguns deles efectivamente são específicos da empresa organizada na relação patrão-empregado:
a) Baixar salários pode ter um custo motivacional. Se isto for verdade, é melhor tentar poupar 1000€ com um despedimento do que uma redução salarial across-the-board que permita a mesma poupança. Assim, mantém-se o nível motivacional dos que trabalham e concentra-se o desconforto nos elementos que já não contam para o processo produtivo (os desempregados).  
Imaginemos que, em vez de ser um gestor a decidir "despeço 10% dos trabalhadores ou corto os salários em 10%?", era um plenário de trabalhadores a tomar essa decisão - "mandamos 10% de nós para a rua ou reduzimos o nosso salário em 10%?".  Suspeito que aí o factor "desmotivação" não iria funcionar da mesma maneira - concordo que um trabalhador que manteve o emprego sem ter uma redução de ordenado se sentirá mais motivado para trabalhar do que um que manteve o emprego mas teve que aceitar uma redução de ordenado; mas, se for um grupo de pessoas a quem seja dada a escolha "continuamos todos mas ganhando menos ou corremos com uns quantos mas os que ficam continuam a ganhar o mesmo?", suspeito que, se optarem pela primeira opção, não se sentirão depois menos motivados para trabalhar do que se tivessem optando pela segunda. E, mais importante ainda, cada trabalhador individual, no momento de votar "redução de vencimento ou despedimentos?" provavelmente não irá pensar "É melhor votar na opção «despedimentos», porque se ganhar a opção «redução de vencimento» os meus colegas podem se desmotivar e ficar menos produtivos", já que sabe que, se a opção «redução de vencimento» ganhar é porque a maioria preferiu assim, logo não irá esperar que os outros trabalhadores se sintam desmotivados por ter ganho a opção que eles próprios preferiram.

E, claro, há a diferença que, neste caso, a desmotivação dos que iriam ser despedidos conta, já que esses também participam na votação; aliás, se, no momento da votação, não se souber quais os trabalhadores que iriam ser despedidos se fosse essa a opção, é expectável (assumindo que as pessoas são avessas ao risco) que cada trabalhador prefira ter 100% de hipóteses de ter uma redução de 10% no ordenado, do que ter 10% de hipóteses de ter uma redução de 100%.
c) A negociação salarial não é feita em leilão. No curto prazo, os salários resultam de 'bluffs' ["tenho uma proposta da concorrência, quer cobrir?"], jogos de aparências e golpes de sorte. Devido a esta assimetria informacional, um gestor pode ter receio de que um apelo à redução de salários seja lido não como uma forma de manter postos de trabalho mas como um desejo de alterar a divisão de lucros entre o trabalho e o capital.
No caso de uma empresa controlada por um colectivo de trabalhadores, também este problema é menos provável - se alguém propor "vamos reduzir todos o nosso rendimento em 10% para tentar salvar a fábrica" há menos razão para os outros suporem que ele se quer é "encher", já que em principio o rendimento de quem faz a proposta também vai baixar; e mesmo que a proposta venha de elementos com funções de gestão, desperta menos suspeição do que numa empresa "capitalista" - afinal, mesmo que essa redução de vencimentos sirva para a empresa ter mais lucros, esses lucros adicionais irão para o capital da empresa, logo continuarão sob o controlo dos trabalhadores (só haverá razão para os trabalhadores suspeitarem de propostas de redução dos ordenados se suspeitarem que os gestores estão a desviar património da empresa para as suas contas pessoais).

Confesso que não faço ideia se cooperativas, empresas ocupadas, etc. são mais (ou menos) dadas a baixar formalmente os seus salários do que as empresas tradicionais; mas a experiência (referida no artigo do LMD; já agora, ver o comentário do Luis Pedro a este meu post de 2006) parece indicar que são mais dadas a fazer coisas (alargar jornadas de trabalho; passar meses sem receber, etc.) que na prática funcionam como redução reais dos salários.

Suspeito é que, mesmo que a tese "as cooperativas de trabalhadores/empresas em autogestão conseguem mais facilmente manter postos de trabalho durante as recessões porque podem mais facilmente baixar os salários efectivos" seja verdadeira, não deve haver muita gente (seja em que secção for do espectro político) a se entusiasmar com ela...

Ron Paul e a esquerda

Is Ron Paul the Best Hope for Progressives?, por Brian Doherty (Reason):

The Texas congressman is more conservative than Romney, but he's also more progressive than Obama. (...)

As the presidential field has shaped up to a certain Obama vs. Romney in the major parties, the desire for a challenger championing either the serious right or serious progressive left grows. And Ron Paul—though he continues to deny any third party plans and his political machine has clearly hitched itself to the GOP for now—is strangely a viable candidate for either role, should he choose to accept it.

Paul is in many ways the rightest of right wingers, with his desire to kill the income tax, end government interference in medical care, and get to a balanced budget in three years with no tax hikes. A third party Paul, should he make such a radical choice, would provide a choice for right-wingers dissatisfied with Romney’s small-government bonafides.

Yet despite Paul’s impeccable Tea Party credentials on tax and spending issues, he would be an even more appealing choice to progressives dissatisfied with President Obama. Even while running for the GOP presidential nod, Ron Paul has presented a political vision in many respects to the left of the Democratic Party.

President Obama wants to continue and expand every aspect of the war on drugs, including the war on state-legal medical marijuana operations. Paul thinks government attempts to arrest people for actions that harm only themselves are inherently illegitimate. Obama’s administration has set records in deportations. Paul mocks border walls as un-American in Republican candidate debates. (...)

Even Paul’s stated environmental policies—certainly very far from implementation even in a world where Paul was president—of imposing liability via tort on people and corporations who harm others through pollution, rather than allowing them to do so but “regulating” them—seem more in line with what a progressive who doesn’t want the fatcats getting away with harming the innocent should want. (...)

Paul’s greater appeal to an honest progressive goes even further. Obama has expanded the president’s powers to unilaterally imprison and even kill American citizens beyond even George W. Bush’s attempts. Paul gets thousands of students who gather to hear him booing any mention of the controversial yet sadly little-known National Defense Authorization Act signed by Obama, giving legal cover to the presidential power of unilateral imprisonment. Obama has started new unauthorized wars, greatly expanded a civilian-killing drone program, and presided over the biggest defense budgets in history. Ron Paul campaigns for peace and withdrawal of the U.S. military from the world. In doing so, he’s done more than Noam Chomsky to normalize discussion of U.S. foreign policy as the behavior of a criminal empire, not as the world’s great defender of liberty.

President Obama loves the Patriot Act and hates whistleblowers; Paul is opposite on both points, including defense of accused WikiLeaker Bradley Manning.

Thursday, June 07, 2012

Cenas improváveis hoje em dia

Cena final do primeiro episódio da segunda temporada de "The Adventures of Sherlock Holmes" ("The Copper Beeches"), inicialmente exibido em Agosto de 1985.

The Martian Chronicles - The Martians

Wednesday, June 06, 2012

Somalia (9)

Via artedafuga;

Somalia (9)

No seguimento de Somalia (8)The Rule of Law without the State (2007):
Were there such a category, Somalia would hold a place in Guinness World Records as the country with the longest absence of a functioning central government. When the Somalis dismantled their government in 1991 and returned to their precolonial political status, the expectation was that chaos would result — and that, of course, would be the politically correct thing to expect.
Somalia's pastoral economy is now stronger than that of either neighboring Kenya or Ethiopia. It is the largest exporter of livestock of any East African country. Telecommunications have burgeoned in Somalia; a call from a mobile phone is cheaper in Somalia than anywhere else in Africa. A small number of international investors are finding that the level of security of property and contract in Somalia warrants doing business there. Among these companies are Dole, BBC, the courier DHL, British Airways, General Motors, and Coca Cola, which recently opened a large bottling plant in Mogadishu. A 5-star Ambassador Hotel is operating in Hargeisa, and three new universities are fully functional: Amoud University (1997) in Borama, and Mogadishu University (1997), and University of Benadir (2002) in Mogadishu.
Democracy is unworkable in Africa for several reasons. The first thing that voting does is to divide a population into two groups — a group that rules and a group that is ruled. This is completely at variance with Somali tradition. Second, if democracy is to work, it depends in theory, at least, upon a populace that will vote on issues. But in a kinship society such as Somalia, voting takes place not on the merit of issues but along group lines; one votes according to one's clan affiliation. Since the ethic of kinship requires loyalty to one's fellow clansmen, the winners use the power of government to benefit their own members, which means exploitation of the members of other clans.

There is time in this short talk to give you only some of the highlights of the Xeer.First, law and, consequently, crime are defined in terms of property rights. The law is compensatory rather than punitive ..
Second, in order to assure that compensation will be forthcoming even in cases where the perpetrator is a child, or penniless, or crazy, or has fled abroad, the Xeer requires that every person be fully insured against any liability he might incur under the law.
third point about the Xeer is that there is no monopoly of police or judicial services. Anyone is free to serve in those capacities as long as he is not at the same time a religious or political dignitary, since that would compromise the sharp separation of law, politics, and religion.
Fourth, there is no victimless crime.
The Xeer takes its place among such great legal systems of the world as the Roman law, the English common law, the Law Merchant, and the Jewish traditional law (Halacha).

No Traffic Lights Vs Traffic Lights



via artedafuga

A teoria do valor-trabalho

Is the Marxian labour theory of value correct?, por Paul Cockshott (Though Cowards Flinch):

Then in the 1990s Marxian economists started to apply the normal scientific method to the labour theory of value, for example here or here or there. What did they find?


They found that the predictions of Marx and before him Ricardo had been spot on. Market prices were actually correlated with labour values to the remarkable degree of 95% or more. That meant that 95% of the variation in the prices of goods is explained by the labour cost of making them.

More strikingly, it was shown that the more capital intensive an industry was, the lower was its rate of profit. This is exactly what one would expect if labour rather than capital was the sole source of value. This explains why railway projects like the Channel Tunnel are almost always unprofitable. They involve a lot of capital but employ little labour on which to make a profit.
Diga-se que o fenomeno dos sectores mais capital intensivos terem uma menor taxa de lucro também pode ser explicado recorrendo às ferramentas da micro-economia neo-clássica: como os sectores capital-intensivos tendem a ter maiores custos fixos (o custo de construir o tunel sobre a Mancha é sempre o mesmo quer passem por lá 1 ou 10.000 carros); como (segundo os neo-clássicos) os preços tendem a ser determinados pelos custos variáveis (mais exactamente, pelo custo marginal), quanto maiores forem os custos fixos, menor a margem [valor das vendas] - [total dos custos].

Ainda outro ponto:
Once it is realised that the determination of value by labour is a well proven scientific theory, then Marx’s analysis of exploitation follows – with all sorts of disturbing moral consequences for the established order.
Para falar a verdade, não sei se o raciocinio "o preço das mercadorias tende a ser proporcional ao trabalho necessário para as produzir, logo os capitalistas exploram os trabalhadores" fará grande sentido.

A guerra de Obama contra a cannabis

Obama's War on Pot, por Tim Dickinson (Rolling Stone):

Back when he was running for president in 2008, Barack Obama insisted that medical marijuana was an issue best left to state and local governments. "I'm not going to be using Justice Department resources to try to circumvent state laws on this issue," he vowed, promising an end to the Bush administration's high-profile raids on providers of medical pot, which is legal in 16 states and the District of Columbia.

But over the past year, the Obama administration has quietly unleashed a multi­agency crackdown on medical cannabis that goes far beyond anything undertaken by George W. Bush. The feds are busting growers who operate in full compliance with state laws, vowing to seize the property of anyone who dares to even rent to legal pot dispensaries, and threatening to imprison state employees responsible for regulating medical marijuana. With more than 100 raids on pot dispensaries during his first three years, Obama is now on pace to exceed Bush's record for medical-marijuana busts. "There's no question that Obama's the worst president on medical marijuana," says Rob Kampia, executive director of the Marijuana Policy Project. "He's gone from first to worst."

The federal crackdown imperils the medical care of the estimated 730,000 patients nationwide – many of them seriously ill or dying – who rely on state-sanctioned marijuana recommended by their doctors. In addition, drug experts warn, the White House's war on law-abiding providers of medical marijuana will only drum up business for real criminals. "The administration is going after legal dispensaries and state and local authorities in ways that are going to push this stuff back underground again," says Ethan Nadelmann, director of the Drug Policy Alliance. Gov. Lincoln Chafee of Rhode Island, a former Republican senator who has urged the DEA to legalize medical marijuana, pulls no punches in describing the state of affairs produced by Obama's efforts to circumvent state law: "Utter chaos."

Um frigorifico de chumbo pode ser uma protecção contra uma explosão nuclear?

Subjecting “Fridge Nuking” to Scientific Peer Review, no Overthinking It.

Tuesday, June 05, 2012

Re: Desemprego e salários

O que está em causa é a necessidade da massa salarial baixar porque o total de produção tem necessariamente de baixar via quebra de vendas e/ou baixa de preços. Será mais ou menos como recuar x anos.  A produção x tempo atrás era menor e os salários médios eram também menores. Porque regressar a esse tempo é assim tão dramático?  na verdade, nunca é sequer regresso porque em geral em termos de qualidade "as coisas" (tecnologia de produtos e serviços para o mesmo preço) até melhoraram e não voltam para trás. Dramático é o tempo infindável de ajuste causado pela resistência psicológica a alterações nas nossas vidas que conduzem sim a situações mais dramáticas depois.


Quando a economia entra em recessão, a massa salarial tem necessariamente de baixar. E assim, quanto mais pessoas quiserem proteger (via legislativa ou voluntária não aceitando revisão dos contratos) a totalidade do seu salário mais pessoas irão perder a totalidade do seu salário (desemprego).

Se as pessoas são mais ou menos resistentes à diminuição do seu salario nominal e isso provoca desemprego tal efeito só pode ser da culpa dos próprios. De resto, se os preços estiverem a cair qual a razão para não aceitar uma indexação tal como se faz inversamente em períodos de inflação?

Aliás, desconfio que em muitos processos de falências ou redução forte de trabalhadores, perante o facto consumado e se o tempo pudesse voltar para trás perguntando-se: se soubesse que poderia ter evitado aceitando voluntariamente uma redução de X% qual seria a sua decisão? Aliás, creio que assim seria até para pessoas que não perdem o emprego, ou seja, pessoas que soubessem que a sua redução de salário poderia evitar (ou minimizar) o despedimento dos outros.

As considerações sobre a dívida constituem outra questão mas em geral, se a actividade produtiva se conseguir manter, a renegociação de dívidas é mais fácil. Por outro, os processos de falência sendo mais rápidos permitem que as dívidas desapareçam por completo.

A combinação mais repressiva e arregimentadora?

Uma politica educativa que combine o entusiasmo da esquerda pelo aumento da escolaridade obrigatória com o entusiasmo da direita pela "disciplina na escola", a "autoridade" e a "pedagogia centrada no professor"?

Aspectos politicos do pleno emprego

Ainda a respeito de salários e emprego, lembrei-me de um texto que deve ser sempre uma leitura recomendada em épocas de crise económica e alto desemprego  - "Political Aspects of Full Employment" [pdf], de Michael Kalecki.

Monday, June 04, 2012

Desemprego e salários

João Miranda argumenta que "se o [des]emprego é elevado os salários têm que baixar" (pelo menos, acho que era isso que ele queria dizer) e que o "desemprego não é um problema de falta de investimento, ou de impostos elevados, ou de falta de consumo. É um problema de preço. É sempre possível conciliar baixo investimento, impostos elevados e consumo baixo com desemprego baixo desde que o preço do trabalho seja baixo".

Isso fará sentido?

De certa forma, até pode fazer. Se, numa economia aberta, os salários nominais baixarem, as empresas podem também praticar preços mais baixos, logo podem a) exportar mais; e b) fazer mais concorrência às importações no mercado interno. Assim, se as empresas passam a vender mais produtos, irão contratar mais gente e o desemprego vai diminuir (note-se que falo de uma economia aberta; numa economia fechada - ou relativamente fechada - também há um mecanismo pelo que a redução dos salários pode reduzir o desemprego, mas é mais complicado).

Mas, na prática, essa solução tem 3 grandes problemas:

- Num país fortemente endividado, uma redução dos salários (e provavelmente dos preços) vai implicar um aumento do valor real da dívida (se a dívida em euros se mantém igual mas os salários e preços baixam, a divida em termos reais - e o esforço para a pagar - aumenta).

- Nem é certo que o desemprego diminua: sim, a redução dos salários faz aumentar as exportações e diminuir as importações; mas pelas razões expostas acima, o rendimento real do país vai provavelmente diminuir (já que uma proporção maior da riqueza gerada vai para fora sob a forma de juros e amortizações de dívidas). Ora, com um rendimento final mais baixo, a procura interna vai-se reduzir ainda mais, e não é liquido que esse efeito - para baixo - seja  mais fraco que o efeito - para cima - de aumento das exportações/redução das importações.

- Finalmente, há vasta experiência empírica demonstrando que é díficil baixar salários nominais - até porque, mesmo que, colectivamente, os assalariados em conjunto até pudessem pensar "bem, se os salários baixarem 30%, os preços também hão de baixar alguma coisa - talvez uns 15%? - logo talvez nem percamos assim tanto como parece", para cada assalariado individual uma redução de 30% no seu salário nominal significa que o seu salário real será sempre 30% menos do que seria se ele não tivesse aceite a redução, pelo que os trabalhadores muito dificilmente aceitam grandes redução do seu salário. Na prática (pelo menos em sociedades com sistemas políticos e económicos como o nosso) a única maneira de forçar a descidas significativas dos salários nominais é ter massas de desempregados significativas (o famoso "exército de reserva") que possam ser usados como ameaça para forçar os empregados a aceitar grandes reduções salariais ("há 20 prontos a ocuparem o teu lugar") - ora, uma estratégia para reduzir o desemprego que, para conseguir ser implementada, está dependente que haja muito desemprego, é potencialmente problemática (mas atenção à referência que fiz a "sistemas políticos e económicos como o nosso" - se, em vez disso, estivermos a falar de um regime autoritário e em que os salários sejam fixados por arbitragem obrigatória entre o Estado, o sindicato oficial e a associação patronal oficial, aí baixar salários - e mantê-los baixos mesmo que o desemprego baixe - é mais simples; mas, felizmente, não é essa a nossa situação).