Wednesday, January 23, 2019

Em que áreas académicas há mais "chalupas"?

No Observador José Bento Silva publica um artigo interessante sobre as propinas (de qual eu discordo de grande parte das conclusão, como aliás seria de esperar de um artigo publicado no Observador e por um escriba do Blasfémias); mas o que me chamou mais a atenção não foi a parte das propinas, mas esta observação:

Facto número 14: não tem nada a ver com o tema deste artigo, mas é um facto delicioso. A vasta maioria dos gestores das melhores universidades do mundo não vêm dos departamentos de ciências naturais. A razão está estudada: é sabido que as universidades estão pejadas de ‘chalupas’, com as mais diversas patologias psiquiátricas e afins. O que o leitor talvez desconheça é que a maioria reside nos departamentos de ciências naturais. Nem de propósito, esta semana um reitor de uma universidade famosa disse-me isso mesmo (e estou a citar): ‘you can’t put those people in the vicinity of anything that might resemble a human being’. Há casos em que os números são avassaladores: 80% dos ‘chalupas’ estão na física teórica, tal como a vasta maioria dos sobredotados (agora não me recordo do número preciso de sobredotados, mas não é preciso: todos sabemos que o QI não segue o grau de ‘chalupice’). É facto que a malta daquelas áreas é a mais inteligente! Mas como para gerir empresas não precisamos de sobredotados, está tudo esclarecido. Também é facto que o grau de ‘chalupice’ é menor nos sociólogos… Talvez esteja relacionado com o facto dos sociólogos serem mais dados ao consumo de alucinogénios, mas desconheço estudos sobre a matéria…
A minha teoria sobre o assunto -  onde haverá menos malucos é em gestão e direito; e suponho que neste ponto a dimensão teórico-aplicado será mais relevante que a ciências naturais – ciências sociais (muitos malucos em matemática, física teórico, filosofia, literatura e economia, poucos em medicina, na maior parte das engenharias, gestão, direito; e não nos esqueçamos da há muito estabelecida ligação entre a matemática e filosofia, com pensadores destacados nas duas ao mesmo tempo – Pitágoras, Pascal, Bertrand Russell, até certo ponto o Wittgenstein, etc.).

Um post que publiquei há uns anos que acho que ainda pode ter a ver com isto:

Robin Hanson, em parte a respeito disto, refere um estudo feito comparando a proximidade entre as várias disciplinas académicas (penso que através de citações mútuas em artigos da especialidade e métodos afins):



Por um lado, é curioso como, pelos vistos, a matemática e as "ciências da computação", se estão próximas da física e da engenharia, estão também próximas das ciências sociais e das "humanidades", estanto longe da medicina e afins. Mas já há mais de 80 anos que o psiquiatra alemão Ernst Kretschmer escrevia sobre a "rarity of a simultaneous propensity for medicine and mathematics (...) [w]hile, on the other hand the double disposition for mathematics and philosophy is quite common" (bem, suponho que ele tenha escrito isso em alemão...).

Mas, por outro lado, talvez toda essa construção não seja muito sólida - afinal, como um comentador de Hanson escreve «one weak link between CS and the social “sciences” keeps this graph from being a straight up spectrum of hard to soft science» (no entanto, no tal estudo são propostos mapas alternativos, mudando um bocadinho o método de classificação, que apresentam um formato parecido mesmo sem a ligação directa "ciências da computação - ciências sociais").

Basicamente, suspeito que quanto mais acima no quadro, mais "malucos" há.

Claro que há aqui um ponto adicional - o José Bento Silva está-se a referir especificamente aos professores universitários, não em geral às pessoas da área. Ocorre-me que é possível que seja exatamente nas áreas com maior empregabilidade no mundo real que há mais "malucos" entre os professores universitários (já que nessas áreas os professores tendem a ser disporporcionalmente recrutados - ainda mais dos que nas outras - entre os indivíduos com uma elevada propensão para a especulação abstrata em detrimento da vida prática; por alguma razão foram para professores universitários tendo montes de saídas alternativa cá fora).

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