Mas vamos continuar com o exercicio de história alternativa - tal como muita gente diz que o mal foi não terem deixado o Jaime Neves "ir até ao fim", também muita gente diz que o PCP "traiu" no 25 de Novembro porque mandou as suas forças recuar (até há quem diga que foi quase um acordo secreto EUA-URSS: "tu ficas com Portugal que eu fico com Angola").
O que teria acontecido se o PCP não tivesse ficado quieto (e, já agora, se o Otelo não tivesse decidido ir dormir)? Aliás, esta questão não é independente da anterior - o PCP retirou em larga medida porque teve garantias implicitas que Jaime Neves não "iria até ao fim".
Bem, tirando isto, eu não tenho nenhuma experiencia militar, logo não posso aferir do valor relativo das diferentes unidades em presença; no entanto, atendendo a que a "esquerda militar" controlava várias unidades em Lisboa, tinha muitos civis armados e tinha base social (e maquinaria pesada) suficiente para erguer barricadas nos pontos estratégicos, penso que os "comandos" de Jaime Neves iriam ter o destino dos cossacos durante a Revolução Russa - muito heroismo, muita reputação de tropa de elite, etc., mas o que teriam seria uma derrota (e mortes) gloriosa, nada mais.
Agora, não tenho tanta certeza que isso fosse o principio de uma guerra civil - talvez após a derrota dos comandos, o PS, PSD, "militares moderados", etc. fizessem mais ou menos o que já tinham feito a 11 de Março: dizerem "não tivemos nada a ver com isto" e renogociarem uma nova divisão do poder com o PCP.
Mas caso fossem para a luta, imagino que o resultado seria uma espécie de Comuna de Paris: em pouco tempo as forças revolucionárias seriam cercadas em Lisboa (o deserto a sul do Tejo seria rapidamente controlado) e após um cerco de algumas semanas ou meses, a cidade seria tomada (talvez nesse intermédio fosse possivel uma solução negociada). Note-se que tanto a maioria da população (veja-se os resultados da Constituinte) como a maioria do aparelho militar (veja-se o resultado da assembleia de Tancos uns meses antes) estava do lado moderado/conservador, pelo que o resultado final não oferecia grandes dúvidas.
No cenário de um desfecho violento, o resultado seria parecido ao anterior, mas provavelmente o novo regime acabaria por ser mais abertamente autoritário (mais estilo Indonésia do que Turquia).
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