Tuesday, November 06, 2007

Análise às.... - "Escola" vs. "Liceu"

Agora, seguindo a sugestão do Tarique, vou tentar analisar os resultados da Escola Secundária Poeta António Aleixo (a.k.a. "o Liceu") e da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes (a.k.a. "a Escola"), e tentar perceber porque a primeira tem melhores resultados nos rankings divulgados do que a segunda

Vou fazer duas análises: uma puramente aritmética, com base nos números divulgados, e outra empírica, já que frequentei as duas (ESPAA: 1985-88; ESMTG: 1988-91).

Vamos à primeira:

Limitando-nos apenas ao exame de Matemática (que é o que eu estive a analisar), vemos que a média da ESPAA é de 100,74 e a da ESMTG é de 91,40 (valores de 0 a 200); numa escala de 20 valores temos que a ESPAA tem mais cerca de 9 décimas.

Agora vamos ver isso à luz da fórmula calculada abaixo:

- A ESPAA realizou mais 66 exames que a ESMTG; de acordo com a regra "cada 100 exames, mais uma décima de valor", temos mais 0,7 décimas de valor (na verdade, mais 0,84 décimas, devido a arredondamentos)

- Os examinados da ESPAA são, em média, 6 meses e meio mais novos; como cada ano adicional de idade tem um efeito de menos 2,33 décimas de valor, temos mais 1,28 décimas de valor

- 53% dos exames na ESPAA foram de raparigas, contra 44% na ESMTG; como as raparigas tendem a ter, em Matemática, menos 1,74 décimas de valor que os rapazes, uma diferença de 9 pontos percentuais originaria uma diferença de 0,16 décimas de valor, a favor da ESMTG

- 98% dos exames na ESPAA foram para ingresso no ensino superior, contra 93% na ESMTG; os exames para ingresso tendem a ter mais 17,37 décimas de valor, logo uma diferença de 5 pontos percentuais originaria uma diferença de cerca de 0,9 décimas de valor

- 74% dos exames na ESPAA foram para aprovação, contra 71% na ESMTG; os exames para aprovação tendem a ter -21,93 décimas de valor, logo uma diferença de 3 pontos percentuais originaria uma diferença de 0,7 décimas de valor, a favor da ESMTG

- 79% dos exames na ESPAA foram de alunos internos, contra 65% na ESMTG; os exames de internos tendem a ter mais 38,21 décimas de valor, logo uma diferença de 14 pontos percentuais originaria uma diferença de 5 décimas de valor

Assim, somando estes valores todos (não esquecer que dois são de sinal negativo) seria de esperar que a ESPAA tivesse mais 7 décimas que a ESMTG; como tem mais 9 décimas, a minha fórmula explica 78% da diferença; e mais concretamente, a diferença entre as percentagens de alunos internos nas duas escolas explica 56% da diferença.

Esta foi a análise "cientifica"; agora vamos à análise empírica.

Começo logo por esclarecer que esta análise empírica tem um grande problema: é dos anos 80, quando ambas as escolas tinham 3º ciclo (o primeiro ano de funcionamento da EB 23 Prof José Buisel, à época simplesmente chamada "C+S", foi quando estava no 12º ano) e quando os alunos de Economia e de Engenharia iam, no 10º, para a Teixeira Gomes, e creio que os de Humanísticas para a António Aleixo (penso que esta divisão por áreas já não existe, ou pelo menos foi alterada).

Diferenças:

Os professores da António Aleixo (ou, pelo menos algumas "figuras" da escola) tinham fama de serem mais exigentes que os da Teixeira Gomes, o que pode subir as notas de duas maneiras - o "bom efeito" é que levará, em principio, os alunos a se aplicarem mais; o "mau efeito" é que, como muitos alunos menos bons nem chegarão a ir a exame, isso fará subir artificialmente a média. No entanto, segundo a SIC [pdf], a diferença entre a classificação interna e a classificação no exame até é menor na Teixeira Gomes (2,86) do que na António Aleixo (3,07), o que quer dizer que essa fama de "exigência" é coisa do passado.

A nivel de composição social, não sei se a Teixeira Gomes não seria mais "operária" (via Pedra Mourinha/Vale Lagar, Aldeia Nova, Boavista, Coca Maravilhas, Cardosas, zona velha...) e "camponesa" (via Mexilhoeira Grande, Senhora do Verde, Monchique...) do que a António Aleixo (que, na franja "proletária", só tinha o Bairro Pontal e arredores e alguns alunos vindos do outro lado do Arade). E, se considerarmos que, nos anos 80, a proporção de "metálicos" poderia ser considerada uma boa proxy para a proporção de alunos da classe operária, aí a Teixeira Gomes ganhava de certeza (já na António Aleixo, penso que a sub-cultura mais visível seriam os "vanguardas"). Essa diferente composição social pode (ou poderia) ter efeitos nas notas.

Por outro lado, realmente há quem diga que, na época, a António Aleixo tinha mais ambiente de "destroxo", mas creio que esse "destroxo" era, essencialmente, um "destroxo festivo" de classe média, não um "destroxo" sério. Além disso, acho que essa percepção era ampliada por três factores: a estrutura física da Antonio Aleixo favorece mais um ambiente de "tudo ao molho" (com o que isso tem de bom e de mau), enquanto a estrutura física da Teixeira Gomes favorece mais um agrupamento por grupos de afinidade (com o que isso tem de bom e de mau); as paredes da António Aleixo estavam muito mais grafitadas que as da Teixeira Gomes; e o ponto de encontro do "pessoal da pesada" (o pátio da frente, junto à estátua) era muito mais visível que o lugar equivalente na Teixeira Gomes (as traseiras do Pavilhão B).

Se eu fosse caracterizar as duas escolas com a terminologia "high school USA", diria que a António Aleixo era um lugar de "cools" e a Teixeira Gomes uma mistura de "freaks" e "geeks" (em termos de notas, os freaks e geeks anulam-se, pelo que estas diferenças de "estilos de vida" não deveriam afectar muito as notas médias).

P.S. no caso de Matemática, não nego que a diferença nas notas possa também ser influenciada por diferenças na qualidade do corpo docente (sem entrar em detalhes para não ferir susceptibilidades...), mas acho que já não será o caso para as outras disciplinas. Outra coisa que reparo é que, embora a diferença entre as escolas seja parecida com o previsto pelo modelo, ambas têm, em valor absoluto, notas inferiores ao previsto. Haverá algum factor comum a Portimão que faça baixar as notas (se calhar algo "a partir do meio de Maio já não apetece ir às aulas")?

1 comment:

Anonymous said...

A análise empírica aplica-se na perfeição ao que percepcionei até 2000.

De notar ainda que os agrupamentos de Artes, que atraem sempre muitos alunos de classe média e média alta (são a única entrada para cursos como Arquitectura e Design de Comunicação) existem exclusivamente na António Aleixo. Grande parte dos bons alunos da minha turma da Teixeira mudou para o Liceu no 10º ano para poder ter Geometria Descriptiva A.

Para mais, com a ideia que se começou a formar de que a Teixeira Gomes era uma escola vocadionada para os cursos profissionais enquanto o Liceu punha os alunos na faculdade, entrou-se numa espécie de ciclo: os alunos menos dados a trabalho cerebral escolhiam a Teixeira, os outros o Liceu; por outro lado tendo mais alunos interessados em componente mais prática a Teixeira começou a dedicar-se cada vez mais à formação profissional.

Como sempre, opinião acautelada com um penso eu de que.