Sunday, January 18, 2009

Os benefícios da poupança III

MM: "Vamos supor que o Carlos decide vender o seu marisco mas não comprar nada com o dinheiro ganho (se forem notas, faz uma fogueira com elas). O que irá acontecer?"

Como acho que demonstrei aqui (Os benefícios da poupança II), quando alguém produz algo que os outros adquirem e em troca não exige nada ou mantém o consumo apenas no limiar de sobrevivência, significa que os outros todos beneficiam na medida em que recebem esse produto sem nunca terem que lhe prestar um dado trabalho em troca - ora isto é equivalente a alguém que pega na moeda recebida pelo produto do seu trabalho e limita-se a guardá-lo ou até destrui-lo, nunca chegando assim a comprar nada aos outros o que equivale a dizer que os outros nunca chegam a ter que produzir algo em troca para essa pessoa. Como tentei explicar, isto é tanto verdade numa economia monetária como numa comunidade sem moeda onde o trabalho é repartido (podíamos falar em horas de trabalho por exemplo). Este é o primeiro passo para considerar irrelevante se alguém consome o produto do seu trabalho (o que é muito diferente de alguém que simplesmente nada produz e pouco consome - tipo eremita).

As pessoas têm saldos de moeda porque o futuro é imprevisível, mas a todo o momento toda a moeda está "parada" num "bolso" de alguém. Por outro lado, não existe uma procura infinita de moeda, o facto de as pessoas terem coisas em vez de moeda (se a procura fosse infinita as pessoas trocariam sempre qualquer posse real por moeda) prova que a procura de saldos de moeda é limitada.

(Com o nosso rendimento podemos: consumir, poupar investindo, poupar para aumentar a moeda na nossa posse - o objecto de combate de Keynes).

Agora quanto ao exemplo do MM sobre a contracção monetária e a descida de preços. Numa situação no limite de quantidade da moeda fixa na economia, o crescimento económico produz uma descida de preços benigna e contínua (maior produtividade faz os custos unitários baixarem assim como os preços, o que permite produzir novos produtos dado a poupança de custos ou recursos e aumenta assim o rendimento por causa da poupança no novo preço agora mais baixo, e assim comprar esse novo produto - este é o ciclo do crescimento económico que para ter lugar necessita de poupança prévia e investimento).

Curiosamente nesta situação é muito difícil que se dê um aumento súbito da preferência por maiores saldos de moeda - os saldos actuais com o tempo adquirem mais poder aquisitivo, o que diminui por si só a motivação para aumentar o saldo quantitativo de moeda (em termos médios).

Na verdade, para ter lugar um súbito aumento de desejo de posse de moeda é porque alguma coisa mudou na realidade ou nas expectativas de realidade ... tal como ... o fim de uma bolha induzida pelo aumento continuado da moeda para conceder crédito (e que alimentou a súbita de preços de activos financeiros e/ou de imobiliário e/ou) que coloca em dúvida:

- que os bancos consigam preservar a sua moeda depositada em DO ("corrida aos bancos" que hoje se materializa num pedido de transferência para outro banco)
- que a economia não passe por um período conturbado e de incerteza.

3 comments:

Rui Fonseca said...

"quando alguém produz algo que os outros adquirem e em troca não exige nada ou mantém o consumo apenas no limiar de sobrevivência, significa que os outros todos beneficiam na medida em que recebem esse produto sem nunca terem que lhe prestar um dado trabalho em troca "

Ou percebo muito mal onde quer chegar ou a sua conclusão é tautológica:

Evidentemente que se houver uma fonte de energia gratuita todos podem beneficiar dela sem contrapartidas. Acontece no paraíso, para quem acredita nele.

O ar que respiramos é talvez o único produto que se encontra, por enquanto e nem sempre em estado puro, disponível gratuitamente na terra.

A escravatura tinha os seus custos mas é o exemplo mais próximo dessa produção sem contrapartidas.

O exemplo apresentado exorbita de qualquer quadro económico real.

Quanto ao facto de, na actual conjuntura, as pessoas terem aumentado a poupança isso não significa uma renúncia de utilização da poupança (por destruição da moeda, por exemplo) mas de um diferimento nessa utilização.

Mas é inquestionável que há uma diferença enorme entre o efeito da poupança no colchão e da poupança no banco. A primeira desactiva a economia, a segunda pode potenciá-la a médio prazo através do investimento ainda que contracção do consumo a curto prazo.

Ou não?

Afinal onde quer chegar?

CN said...

Acumular saldos monetários reduz os preços e não afecta a percentagem de rendimento que as pessoas alocam entre consumo e poupança.


Na verdade as escolha é:

1. Consumo
2. poupança e investimento
3. poupança e aumentar saldos monetários

As alterações em 3 não afectam a nossa preferência entre o alocado entre 1 e 2., que sim comandam o maior ou menor crescimento.

Rui Fonseca said...

De que poupança estamos a falar?

V. tem referido desde o início a poupança "inerte" ou destruída (queimada, por exemplo)

Há diferença, não?