Sunday, March 30, 2008

Adolescencia e "glândulas sexuais"

Luis Lavoura escreve "[é] normal alunos com esta idade, a idade em que as glândulas sexuais andam hiperativas, desrespeitarem os professores".

Este ideia de explicar os "desvios comportamentais" da adolescência pelas "glândulas sexuais", pelas "hormonas", etc. é muito popular, mas não sei será essa a razão principal.

Suspeito que o problema principal é que a chamada "adolescência" não existe verdadeiramente - repare-se, p.ex., que a cerimónia judia do Bar Mitzvah (que penso que assinala entrada na maioridade à luz da lei religiosa) ocorre aos 12/13 anos; e penso que em grande parte das sociedades tribais, os "adolescentes" têm um estatuto similar ao que os "jovens adultos" (18-30 anos) têm no mundo ocidental (descontando, claro, os casamentos combinados/forçados, sobretudo para as raparigas). E provavelmente o problema é esse - a sociedade atribuir o estatuto de "crianças" a indivíduos que durante para aí 90% da história e pré-história da Humanidade seriam considerados "adultos" (o que gera uma grande dissonância entre os papeis sociais que lhes são atribuidos e os que estão pré-programados geneticamente para desempenhar).

Outra forma (ou se calhar a mesma) de ver a coisa é que os adolescentes (e ainda mais os pré-adolescentes) já não têm idade para brincar (ou, pelo menos, já não se divertem tanto a brincar como as crianças) e ainda não têm idade para fazer coisas sérias - assim, fazer disparates acaba por ser a maneira de ocupar o vazio (o texto Why Nerds are Unpopular de Paul Graham tem algumas observações interessantes acerca desse "vazio" da adolescência).

Não se entenda deste post que eu defenda a passagem da idade da maioridade para os 14 anos ou coisa assim (fazendo um aparte por outras questões, diga-se que há uma coisa curiosa nesta questão da idade da maioridade e temas conexos: creio que, por norma, quem defende que se baixe a idade da responsabilização criminal é também quem defende que se chumbe por faltas no secundário, que as adolescentes só possam abortar com autorização paterna, etc.; não há aqui uma certa contradição lógica, tanto do lado que defende estas posições como do lado oposto?)

No comments: