Ainda a respeito disto, ocorre-me uma coisa: aquilo a que os "institucionalistas" chamam "instituições" e aquilo a que os "individualistas metodológicos" chamam "profecias auto-cumpridas" não serão mais ou menos a mesma coisa? Isto é, talvez grande parte das "profecias auto-cumpridas" não sejam "instituições", mas as "instituições" (ou a sua existência/manutenção) podem ser explicadas como "profecias auto-cumpridas".
[O que é que, p.ex., o João Rodrigues, o João Galamba ou o André Azevedo Alves acharão desta teoria?]
3 comments:
Miguel,
Para mim, instituições são prácticas sociais e normativas que enquadram orientam a acção dos individuos. Basicamente, sem práticas não há individuos, o que torna o individualismo metodológico impossível de sustentar. Mas elas estão muito longe de serem realidades estáticas que transcendem os indivíduos (elas não os determinam). A relação entre os dois é basicamente dialéctica: elas tornam os individuos possíveis e são também apropriadas e transformadas por eles. Isto permite-nos transformar a noção de liberdade. Em vez da liberdade negativa dos liberais, temos uma liberdade situada (e que foi fundada por Aristoteles há 2500 anos, tendo sido 'modernizada' —abandonou a noção de natureza estática que ele defendia— por autores como Hegel,Marx, Gadamer, Ricoeur, Charles Taylor, Alasdair MacIntyre...)
A Lógica das práticas (também conhecida como tradição) é narrativa e não causal, pois ela não pode ser reduzida a entidades ou categorias estáticas que a fundamentem (a vontade individual ou o sistema capitalista,...)
Para pensarmos nestes termos temos de abandonar as categorias metafísicas de substância ("ousia" em Grego) que moldaram o pensamento do Ocidente. O primeiro a criticar esta tradição metafísica foi Hegel. E é na tradição que ele 'fundou' que eu baseiam todo o meu pensamento.
Um abraço,
Joao
A sociedade é algo a que Hegel chama de Espírito Objectivo (prácticas que tornam os individuos possivies). Mas este, apesar de não se poder reduzir aos individuos que o constituem, não é uma entidade que se sobreponha a esses individuos. Para perceber como podemos afirmar individualismo e comunitarismo sem dar prioridade a um ou a outro, precisamos de uma ontologia não estática, ou seja: dialéctica ou, o que é algo diferente, hermeneutica.
O problema das discussões individuo vs. sociedade é o facto de eles se basearem em categorias ontológicas que distorcem a nossa forma de abordar estes temas.
Não quero parecer chato ou professoral mas isto parece-me mesmo importantes. A alternativa é o debate individuo vs. colectiva que é totalmente estéril (quando colocado em termos absolutos e dicotómicos)
Charles Taylor dedicou toda a sua obra a debater isto (e mais uma scoisas). Num dos seus artigos (the liberal communitarian debate) ele tentou separar questões normativas (liberalismo vs. socialismo vs. ....) de questões ontológicas. Os liberais tendem a achar que a filosofia é apenas uma disciplina normativa e esquecem debates sobre ontologia. Fazem-no porque não percebem que existem categorias ontologicas diferentes daqueles que eles tomam como auto-evidentes
No post que escrevi intitulado "Prelecções Alternativas' clarificar o que entendo por uma ontologia diferente.
um abraço e peço desculpa pelos lençois
"sem práticas não há individuos, o que torna o individualismo metodológico impossível de sustentar"
Sustentar que sem indivíduos não há práticas (ex: planeta Marte) é errado em que sentido?
Post a Comment